“Se não levarmos a poesia e a beleza conosco, é inútil percorrermos o mundo. Em nenhum lugar as encontraremos.” (Emerson)
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terça-feira, 23 de março de 2010
REDES DE ENVOLVER - O OFÍCIO DO PESCADOR E A VIDA DO POETA
O pescador esboça o croqui da tarrafa, sua malha
ele tece suas linhas, seus nós,
suas crescentes teias
ele faz a rede, as fieiras,
os rufos e os chumbos
ele tece as tralhas,
ele embaraça as linhas, o labirinto,
eu faço o poema...
eu desembaraço cabeças e tranças, iscas e anzóis,
ele há muito tempo fazendo-a perfeita,
fio a fio,
eu aprendendo a meada,
linha a linha, palavra a palavra
eu me enredo no poema, me prendo,
enlaço, me lanço no espaço.
de posse da tarrafa,
ele mata a fome da sua gente, seu sustento,
com sua crescente rede de pescados.
meu poema, por sua vez, tem a fome afiada
no novelo das palavras, soltas ao vento,
tem mais fome de sentimento,
de dizer o sentir cabível, ou não,
tendo em vista que não só de pão vive o homem.
porque para se fazer tarrafa
é necessário ter paciência e manha...
mas para fazer poesia
é necessário ter fome,
se inquietar com as palavras, fiá-las
desde a manhã e até depois de o sol se deitar,
com o sentir porque, pensando bem,
conclui-se que para fazer um poema...
rimas não são necessárias,
versos não são necessários,
métricas não são necessárias,
palavras não são necessárias...
Então se carece do quê
para fazer um poema?
pensamento é necessário, de certo,
paixão é necessária,
sentimento é necessário,
Amor...
sem amor,
nada mais seria necessário!
Autor: João Ludugero, 17/02/2009.
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