Autor: João Maria Ludugero.
Eu quero o que tens de mais precioso
Não quero diamantes nem tesouros,
Eu não quero ouro, nem botijas assombradas,
Quero tua paisagem, sentir tua natureza sem igual
Quero o todo, não quero aparte,
Não quero passar por ti a vegetar apenas
Não quero viver mais longe de ti,
A perambular pela vida feito alma penada.
Quero ver de perto o verde varzeano
em típicos ariscos de Seu Virgílio
Quero teu solo propício às bananeiras e seus cachos
Teus olhos d'água teus riachos teu rio Joca
Tuas minas d'água tuas cacimbas azuis
Quero mergulhar em tuas vertentes
Em tuas lagoas compridas teus vapores
Quero degustar teus pomares, à mancheia
entrar no mato, correr com os preás nas macambiras.
Quero ver a beleza das flores dos mulungus-em-flor
Enveredar-me em tuas entranhas,
Encher balaios de feijão de corda e arrancar favas
Colher potes e potes de mel, de súbito,
Sem temer aos ferrões das abelhas-europa,
Feito Zé Miranda com seus baldes repletos de favos.
Quero de novo me achar ao desfrute
dessas coisas simples, com gosto de fruta mordida.
Fui audacioso ladrão de graviolas
Fui também inocente ladrão de pitombas,
Apanhei cajás no Itapacurá, a gosto,
no sítio da Vó da Edileusa Cunha, dona Julieta.
Fui inocente ladrão de mangas lá no Jundiá.
Lá as frutas caíam de maduras no leito do riacho
Enquanto minha saudosa mãe Maria me dava banho de cuia.
Furtei carambolas no pé, com rubor na face, que nada!
Fui caipira, sim senhor,
corri atrás de galinhas-d'angola
Vi o jasmim-manga florescer, exalar seu cheiro
e agora sinto saudades daquele tempo bom
Em que morei no Jundiá de Cima.
Comprei muita araruta na bodega de Joaquim Dedé,
Andei em carro-de-boi, acompanhei meu pai Odilon
Nas idas ao roçado apanhar jerimuns
lá no sítio de Seu Manuel Pupu.
Pulei muitos muros, cercas vivas, aveloses,
Só pra pegar frutas maduras, jabuticabas no pé,
No quintal vizinho, sem vergonha nenhuma,
de roubar laranjas-da-terra, sem vergonha
de ser uma criança de bem com a vida,
Sem vergonha de ser um moleque feliz!
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