AUTOR: JOAO MARIA LUDUGERO.
É a minha campina cultivada
minha bela vista, meu Vapor,
minha boa vida, meu bem estar
Meus terrenos baixos e planos,
minha roça, meu roçado, meu milharal
que margeia o rio Joca e o riacho da Cruz,
minhas porteiras abertas, minhas cercas vivas
meu chapéu de palha, meus grilos, meus pirilampos
vou para minha vargem, meu varjão,
onde eu pratico minha pelada, meu futebol
amador descalço e nu, com a mão no bolso,
mas me sinto o cara mais rico
do mundo, no meu quintal
onde chupo manga no pé, que dá gosto
onde o sol é amarelo à beça
onde tenho sombra e água fresca
no alpendre onde asso castanha de caju,
no fogaréu com vara a cutucar a chama
no arisco da dona Beatriz, avó do Pedro Sales
onde vou descanso na minha rede de algodão, cru
sob o cafuné da minha inesquecível avó Dalila,
que não largava seu rosário, seu terço, seu credo de contas azuis.
onde me jogo num boa espreguiçadeira, a chupar cana,
a comer coco ralado na quenga com rapadura,
e engolir o bagaço, a ruminar,
remoendo a vida na rede
de pano de tear na casa de dona Suli,
mãe de 'Tinha', de Vilma, de Joana D'arc, de Joca
e do Quincas do Seu Nezinho Anacleto,
pai do Lula e do Silvinha, primos da
'Nal' Marinalva Bandeira, da Paz 'Paizinha'
e da Glória 'Glorinha' de Queiroz,
ali na lateral da matriz do apóstolo São Pedro.
Onde a gente rezava a novena de mãe Claudina 'Culodina',
que pitava seu aceso cachimbo de fumo de rolo,
que espantava o medo de dar à luz a vida varzeana,
nossa senhora do bom parto!
onde a Carminha vem ajudar a cortar o umbigo
e a fazer a criança chorar,
dando vivas ao novo mundo,
fora do útero, materno peito,
magnífico colostro, leite e saúde!
onde tomo banho de rio, a título de sadia recreação,
onde a gente lava a alma sem medo de ser feliz,
sem pressa a comer pipocas e paçoca de pilão,
de carne de sol, farofa d'água e cebola roxa,
feito um príncipe, um menino varzeano, um cabra bom
que não tem receio da rotina, nem dorme no ponto,
nem dá ponto sem nó, desde que não lhe pisem no calo.
onde encontro solução para os problemas da lida,
sob as preces do reverendo padre Armando de Paiva.
desfrutando da simplicidade de um mundo
admiravelmente único: um 'varzeão' que me dá orgulho,
de verdade, onde tenho um punhado de amigos de verdade,
sinceros, sem cera, os quais carrego comigo
no fundo do peito, do lado esquerdo do peito.
dentro do meu dia-a-dia, dentro do meu coração.
Texto do escritor João Maria Ludugero
(23/12/2008)
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