AMULETO DA SORTE,
por João Maria Ludugero
Atrevo-me a escrevinhar palavras
que destravam a alma que escavo
além das linhas da minha mão
além das palmilhas da sorte
que chega sem avisar na lida,
quando me acho no quintal
à cata de um trevo de quatro folhas.
E assim emanam verbos consentidos,
letras foragidas depois de muitos sóis,
lumes desertores das sombras dos dias de eclipse.
A desesperança desaba por fim,
haja vista a eclosão da crisálida que desperta,
que se abre à dor dentro do útero de um novo dia.
Agora sou mais eu, afoito colibri
sobre a flor que me seduz
a trilhar e a me conduzir desnudo.
Sou tal qual aquele inquieto sanhaço
que cai de bico no maduro fruto exposto
como quem busca o olimpo e o acha em néctares
da maior valia, ao rutilar do bem, do bom e do belo.
Deixo-me estar de bem com a vida. E nela acredito,
porque em mim sobeja amor-próprio, o nome do amuleto.
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