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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

TRAVESSA VARZEANIDADE PLENA, por João Maria Ludugero

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRAVESSA VARZEANIDADE PLENA,
por João Maria Ludugero

Eu sei de uma seara, uma tão bonita Várzea de Ângelo Bezerra,
Uma singela terra do agreste de dona Rosália e de Seu Cirineu,
Da professora Maria Fernandes e de seu Otávio Gomes,
De dona Albanita Guimarães de Arnor Coelho de Oliveira,
Da pensão de Ana do Rego, dos caldos de cana do bar do Biga,
Dos bolos-pretos, das tapiocas, dos brotes de goma, dos grudes
de coco, das línguas de sogra, das raivas, dos puxa-puxas, dos quebra-queixos, dos mungunzás, das canjicas, dos sonhos, dos carrapichos, dos peitos-de-moça, dos beijus, das soldas de dona Carmozina...

Eu sei da Várzea de outros tempos, do elenco de filmes de Tarzan, de Jane e Chita do cinema de Zé Honório, do Conde Drácula, de Rin-tin-tin, de Zorro, Durango Kid e Daniel Boone...
Onde as cores das almas em flores não posso contar, pois são dispostas numa aquarela que nunca terá fim, desde as quatro-bocas da rua Grande Além do Vapor de Zé Catolé a Zuquinha...

Eu bem sei da Várzea do rio Joca das piabas, jacundás, carás, muçuns, aratanhas, pitus, dos landuás de dona Neda, das tarrafas de Seu Antônio Gomes e de Seu Antonio Euzébio, pai do levado da breca e medonho menino Chiquinho, parceiro de tantas arengas com Raimundo de Nide,lá pela bodega de Zé Anjo...

Eu sei da Várzea de Antonio Horácio, dos picadinhos de dona Sinhá, das cocadas de dona Alice de Abílio, das farofas de manteiga-de-garrafa com cebola-roxa, dos torresmos suínos de dona Rosa de Antônio Ventinha, das paçocas de dona Graça de Zé Baixinho, das merendas de dona Suzéu e de dona Maria Gomes, mãe da Rosário e da Livramento, de um lugar além do rio de Nozinho, bem pra lá do riacho da Cruz, onde o astuto bem-te-vizinho espairecia a vida da gente em solene cantiga pelo chão-de-dentro dos anuns, das patativas, dos pintassilgos, dos curiós, dos sabiás, dos tetéus, dos galos-de-campina dos Ariscos de Virgílio Pedro...

Lembro-me da Várzea dos Seixos verde-musgados de cajus vermelhos e amarelos, dos cestos e bisacos de castanhas, cajás, jacas, mandiocas, macaxeiras, batatas-doces, canas-caianas e curimbatórias, dos ovos das galinhas-caipiras e dos destemidos tô-fracos dos guinés ou galinhas d'Angola, das manipueiras e outros aromas lá da casa- de farinha de dona Santina...
Mas o poema ainda não tem fim, por não caber de uma vez por todas tantas e quantas recordações pelo vão decorrente das águas do rio Joca que banha a Várzea da inesquecível Madrinha Joaninha Mulato...

Daí, eu fico imaginando o céu de São Pedro Apóstolo, repleto de nuvens esfiapadas, mas onde estará meu coração de menino João maduro Ludugero, que um dia bem quedou e, por pouco, não o fez de canibal a deglutir a própria língua, ao valente mete-medo Comácio de Zé Lambu, lá na beira da cachoeira dos Damas, após sair em defesa de Seu irmão Carlinhos e limpar a honra de sua querida mãe Maria Dalva, estrela da vida inteira, pela ofensa dada em afoito chamado ao seu mano de filho da outra? E, de tal sorte, desbancou a carapuça e bem mostrou, com toda garra, que nunca foi mesmo de levar desaforo pra casa, mas, se preciso fosse, e que seja, sempre foi mesmo de assanhar até os pelos da venta!

Hoje mais do que tudo recordo com afinco da gente e das coisas da minha Várzea da rezadeira Dalila Maria da Conceição, minha avó paterna...
Hoje mais do que tudo preciso VARZEAMAR a contento para me inteirar,
Pois logo bem me apanho a chegar àquele lugar que me faz melhor e nada vai nos separar jamais da minha Várzea das Acácias, meu amado interior potiguar...

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