A MAIS PURA VARZEANIDADE,
por João Maria Ludugero
Gosto quando varzeamo porque me sinto presente,
Mesmo de longe, minha voz arteira te toca.
Parece que meus olhos são bem-te-vizinhos
que voaram a correr dentro e alto da Várzea dos Caicos
e parece que um colibri desabrochou a flor da tua boca num beijo.
Como todos os lajedos verde-musgaram nos Seixos,
A transbordar meus olhos d'água possantes na saudade,
As coisas estão dispostas pelos Ariscos da minha alma
Que emerge e dispara além do meu coração partido.
Sou sabiá em acordes de sonho, pareço até afoita andorinha,
Canário-da-terra, guiné ou galinha-d'Angola em destemido tô-fraco.
Gosto de ti quando também varzeamas e não ficas distante.
E só persistes como que te queixando, crisálida em arrulho.
E me espias de longe, e a minha língua astuta não te alcança:
Deixa-me na calada peleja e que logo esbugalhe o silêncio teu.
Deixa-me feito sanhaço só que te fale também com o teu silêncio
Sem medo da cuca esbaforida aos talos, claro como um candeeiro,
Insinuoso e flamejante como uma coivara nos marmeleiros do agreste.
És composta na moldura da noite varzeana, calada e constelada.
Teu silêncio é de radiante estrela Dalva, tão longínquo e singelo.
Gosto de ti quando varzeamas porque não ficas distante do rio Joca.
Parecendo patativa esvaziada e dolorosa como se tivesses morrido.
Um bornal de palavras então, um espairecido sorriso atento bastam.
E eu estou pra lá de nostálgico, embora alegre,
Contente de que não tenha perdido
A disposta varzeanidade,
O que me faria assanhar
Até mesmo os pelos
Da venta!
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