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quinta-feira, 1 de abril de 2010

DE MATURIS A CAJUS


meu ofício
é fugir do ócio
é fazer mais ponte 
que não cerca
cavar buraco, 
aprumar estacas,
esticar arame 

com pé de cabra, 
abrir portas,
acerca de novas esperanças,
porteiras e cancelas

abrir janelas 

para a luz
esticar a alma no varal 

no curtume
encharcar a carne

sob o sol amarelo
trazer o sal iodado
para encarnar amores
e lenços para secar o suor
e as lágrimas do teu rosto  
ao tirar meu coração da cruz

pregar grampo no mourão
mergulhar fundo lá no retiro
tanger meu gado a beber água
lá no açude do Calango
matar a sede da saudade.
 
em troca peço muito pouco:
quero apenas a sombra do cajueiro
quero cercar-me de flor e colibris
quero um cajueiro em flor,
flor-essência,
quero maturi
ou seja
o caju novo,
ou,
propriamente,
a castanha verde, grande e mole
do caju
antes do desenvolvimento
do pedúnculo,
antes da maturidade.

quero colher e ser colhido
manga madura no pé
apanhar caju e castanha
de manhãzinha,
basta me dar leite azedo,
rapadura, feijão e farinha
e uma hora de rede na tarde amena
deitado à  sombra
do meu pé de graviola.
 
na verdade, peço muito pouco
Preciso de nada mais não!
dê-me coalhada todo dia,
que eu cerco o mundo 
num instante, ligeiro,
pros bichos não se perderem
lá da minha terra prometida
da minha Várzea das acácias.

autor: João Ludugero. 

Um comentário:

  1. Muito boa essa poesia...maturi, o início do caju que nasce da flor...adorei. Vou ler vc sempre.Tô adorando o que escreve. Muito agradável, dá água na boca de muita gente, odes crer! Esse blog também é cultura hehehe...
    Valeu o texto, muito bom !
    SensacionaL, Que poesia!!!!
    ABS, LÍGIA MORATO NUNES - ASA NORTE.

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