que a gente se caçava
em tantas coisas
que a gente se achava
meio perdido no tédio
e a gente ainda mais
desperdiçava-se
no porvir, nus passatempos
a divagar sem remédio
e a gente continuava
alheios pelos desvãos
das coisas desprezíveis,
meros entes sombrios
seres descartáveis,
meio perdido no tédio
e a gente ainda mais
desperdiçava-se
no porvir, nus passatempos
a divagar sem remédio
e a gente continuava
alheios pelos desvãos
das coisas desprezíveis,
meros entes sombrios
seres descartáveis,
seres humanos,
que nada!
que nada!
foi aí que me acertaste
em cheio na mosca,
com um dardo astuto
mais que certeiro
no alvo, no cerne, na carne
em cheio na mosca,
com um dardo astuto
mais que certeiro
no alvo, no cerne, na carne
e assim se abriu um clarão, de fato
e tudo ganhou luz e cor
de tal sorte,
não pretendo mais
chorar meus barcos furados,
há tempos deixei de ser náufrago;
fui deveras salvo, minha tábua
em tua operação boca a boca
daí acreditei, de imediato
que havia uma saída, um beco
de tal sorte,
não pretendo mais
chorar meus barcos furados,
há tempos deixei de ser náufrago;
fui deveras salvo, minha tábua
em tua operação boca a boca
daí acreditei, de imediato
que havia uma saída, um beco
e acordei na tua cama, lúcido
não mais precisei
atirar pedras na lua
nem de aspirina
atirar pedras na lua
nem de aspirina
nem de estricnina
e cortar os pulsos,
nem pensar!
nem pensar!
justamente agora
que preciso de norte,
que preciso de norte,
minha bússola, em desuso,
já se encontra viciada, não serve
já se encontra viciada, não serve
então, vê se me empresta a tua,
a do teu coração, eu imploro
a do teu coração, eu imploro
quiçá ele orientará
validamente
minha nau-razão
venha e pegue a minha mão,
ajuda-me a desapegar,
a sair do casulo do nada,
ensina-me a nadar, borboleta,
validamente
minha nau-razão
venha e pegue a minha mão,
ajuda-me a desapegar,
a sair do casulo do nada,
ensina-me a nadar, borboleta,
leva-me à terra firme,
num preciso bote
do teu olhar,
do teu olhar,
tu que és minha
estrela da manhã,
estrela da manhã,
dona do novo
tempo de despertar!
tempo de despertar!
autor: João Ludugero
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