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quinta-feira, 1 de abril de 2010

NAU-RAZÃO
  
lembro-me muito bem 
que a gente se caçava 
em tantas coisas
que a gente se achava 
meio perdido no tédio
e a gente ainda mais 
desperdiçava-se 
no porvir, nus passatempos
a divagar sem remédio

e a gente continuava 
alheios pelos desvãos
das coisas desprezíveis, 
meros entes sombrios
seres descartáveis,
seres humanos,
que nada!

foi aí que me acertaste 
em cheio na mosca, 
com um dardo astuto
mais que certeiro
no alvo, no cerne, na carne
e assim se abriu um clarão, de fato
e tudo ganhou luz e cor

de tal sorte, 
não pretendo mais
chorar meus barcos furados,
há tempos deixei de ser náufrago;
fui deveras salvo, minha tábua 
em tua operação boca a boca 

daí acreditei, de imediato

que havia uma saída, um beco
e acordei na tua cama, lúcido
não mais precisei 
atirar pedras na lua

nem de aspirina
nem de estricnina 
e cortar os pulsos, 
nem pensar!

justamente agora 
que preciso de norte,
minha bússola, em desuso,  
já se encontra viciada, não serve
então, vê se me empresta a tua,
a do teu coração, eu imploro
quiçá ele orientará 
validamente 
minha nau-razão

venha e pegue a minha mão,
ajuda-me a desapegar, 
a sair do casulo do nada,
ensina-me a nadar, borboleta, 
leva-me à terra firme, 
num preciso bote 
do teu olhar,  
tu que és minha 
estrela da manhã,
dona do novo 
tempo de despertar!

autor: João Ludugero

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