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quarta-feira, 28 de abril de 2010

FÊNIX


autor: João Ludugero

vida de passante, sim
no final das contas
passo eu passas tu
osso eu ossos tu
cinza eu cinzas tu
é o que resta, enfim
nem grafite nem diamante
nenhum dia mente, é claro,
voltamos ao pó de novo
para ser apenas humus

então, ora passo a indagar
por que tentas me engolir
insosso assim pela metade
ainda cru a pegar tempero,
por que tentar me tragar
se ainda estou sapo a coachar
na lagoa ainda sou pato
justo eu que não tenho
nenhuma pretensão de ser rei
nem cisne serei
não careço parecer bonito
pois aprendi a amar o feio
que há em mim, de vez

ora, ora pois, meu amor,
não me vejo belo sem tua forma
o que tens de mim é meu inteiro
tu é que me engoliste de fato
não me vejo a mim também
movediço estou agora sem teu chão

estrada que não sei aonde vai dar
em que paradeiro vai pousar essa nave
ninguém nunca soube a resposta
quem está onde quem é quem,
pouco importando a interrogação
quem nasceu primeiro
se foi o ovo ou a ave!

por que no final
após a combustão,
tudo se transforma em cinzas
e até os sonhos vão junto com as cinzas
a poeira do que resta é atirada
ao vento ou no mar
e vira comida de peixe

será que me ouvirão depois
entre as bromélias que plantamos
eu já me ouso a pensar, atrevo-me,
ouço a ti e a mim além dos canteiros
ouço o canto do galo a cantar em nós
será que outros sentirão
nosso (des)encanto por derradeiro,
quiçá entoarão uma canção de amor
quiçá acreditarão que somos Fênix!

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