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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

VÁRZEA E O VAPOR DE UMA SAUDADE

VÁRZEA E O VAPOR DE UMA SAUDADE

Autor: João Maria Ludugero.


Eu gostava de ir ao Vapor de Zuquinha.
Ia lá quase sempre em busca de ovos caipiras
E lá encontrava tantas delícias que poderia aqui
desfiar um rosário de pratos e ainda não terminaria a reza.
Dona Lourdes quase sempre nos esperava com um formoso cuscuz
De milho zarolho e coalhada, café num bule de ágata
com tapiocas quentinhas e beijus de coco na palha da bananeira.


Tudo era tão gostoso
que dava para lamber os beiços.
Mesa farta, broas de milho
e diversas outras iguarias de dar água na boca,
pratos caseiros, com gosto de fogão a lenha.
E sem gosto de fumaça.


Antes do meio-dia, já estava o frango caipira
a borbulhar em panelas de ferro,
com o caldo avermelhado pelo urucum,
pelo colorau e pelo cheiro verde - e,
de vez em quando, se fosse época,
o impagável milho verde,
desde a canjica à pamonha.


Hoje, salivo gratuitamente apenas
com essa poética descrição.
Esse varzeano aqui foi tomado
pelo falta dessas delícias tão varzeanas.
Tanto que precisou escrevinhar essas palavras simples,
para saciar um pouco sua fome de lembranças
E deixar tudo registrado no escaninho das memórias,
uma vez que o casarão do Vapor foi demolido,
Mas quem foi que disse que essa página
não vai ficar na história?


Pode apostar. O Vapor ainda nos faz inspirar
e respirar bons ares até hoje.
Quem duvida dessa dádiva,
a vida quando bem vivida nunca
se apaga tão facilmente, pois o vento
não leva o coração da gente, nem o tempo
apesar da ferrugem rasura
ou apaga da história essas nossas raízes.
Estou certo disso? Acredite,
pois sou varzeano de estirpe!

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