Seguidores

domingo, 14 de fevereiro de 2010

SOU VARZEANO

SOU VARZEANO!

Autor: João Maria Ludugero.


Eu crio versos
Eu converso com as palavras,
Eu lavro minha poesia
Teço-lhe sentido e signifivado
Eu sinto o verbo a escorrer nas linhas
Eu traço o que meu coração vislumbra,
rabisco desejos e sentimentos, dor e alegria
Eu tinjo além dos cinzas, trago cor e vida.


Eu furto-cores feito um Calango,
Eu driblo a tristeza, não me lamento, nem me prostro
Eu me mostro, eu me desnudo, nada tenho a esconder
Eu faço desabar sobre a cabeça a felicidade, a contento,
Eu sou poeta e não entrego os pontos,
apesar do peito em desalinho, de fato,
Eu persisto, eu batalho com unhas e dentes,
eu construo meu presente, eu alavanco o sonho
Eu dobro a barra do tempo, não durmo no ponto,
eu amanheço e com o sol rejuveneço, revigorado,
Eu arrodeio as pedras, recolho os espinhos,
Eu não fujo da raia, sou varzeano, não desisto.
Quem foi que disse que varzeano morre na praia?



Eu arregaço as mangas e chego junto, de súbito
dou uma rasteira no bicho-papão, enfrento a fera,
Coitado do bicho, quando me avista, cuida de desviar o passo.
Sou varzeano, criado solto e livre na vargem, sem amarras
Eu sou varzeano e conheço bem o caminho das pedras, de pronto
Eu me atiro no açude do tempo, renovo as minhas esperanças
E sem dó nem piedade,sem titubear, não meço o esforço,
boto a tristeza pra correr feito um cabrito.



Eu sol tal quaL aquele borrego criado ali na capoeira, na vargem
Feito um carneiro livre que dá marradas ao vento, que enfrenta
Que não tem medo de touro bravo,segue sua sina com galhardia
Que não foge à luta se está na chuva.


Eu sou varzeano e disso sinto todo orgulho.
Eu sou neto de Dona Dalila Ludugero,
pequena mulher de coragem e fé, de fibra
Que jamais se curvou às agruras da lida,
Custasse o que custasse, fosse o bicho que fosse,
Ela, destemida, de cabeça erguida, seguia seu caminho,
firme e forte, na defesa de um magote de filhos.


E, sem temer adversidades, nem a tormenta se acaso chegasse,
ela botava o medo da vida pra correr, brava senhora varzeana,
Que, de Rosário na mão, rezava um terço, um Credo
só pra agradecer ao apóstolo São Pedro com fé santa,
Por ser dona de tamanha energia, e com a força de Sansão,
Dona Dalila, minha avó paterna, mandava às favas o bicho-papão!

Nenhum comentário:

Postar um comentário