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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

CICATRIZES

CICATRIZES

Autor: João Maria Ludugero.


Dentro das minhas lembranças
Eu trago um velho baú cheio
de memórias indissolúveis, arquivo vivo,
que guarda sonhos, pessoas, lugares
que guarda desejos, abraços e prazeres.

Eu acordo no meio da noite
Eu vejo na sala-de-estar
ou no quarto de dormir um sol
que não deixa logo o dia vir,
Ou melhor eu passo a noite em claro.
Eu sonho acordado, de fato,
Iluminado pelo sol amarelo e radiante
Que carrego comigo, dentro do peito.

Um sol que traz a alvorada
Com esperanças renovadas,
A me trazer um amanhecer mais bonito
A me trazer uma mesa farta, de pronto,
A me trazer uma tarde bonita e amena
com seu cheiro de mato e passarinhos.


Há nessas memórias dias felizes
Há também aqueles cinzentos, gris.
Há o registro dos momentos inesquecíveis,
Mas que foram passageiros,
que se foram com o vento.
Há lembranças tantas tantas
do brilho dos olhos teus, vertentes
dos prazeres compartilhados,
das lágrimas de alegria,
da felicidade repartida.

Minha sina é passar isso para o papel,
Fazer simples versos, eu-contente-da-vida
Conversando com meu coração,
Escutando a poesia que brota dele,
Como se fosse feito um talho, um corte
direto no meu peito, que faz bem doer
Pois alivia o corpo e a alma,
Como se desse corte brotasse resina
como aquela que aflora no cajueiro
Como que para aliviar a dor da saudade
Que foi esculpida no tronco de uma árvore,
erupindo como se fôssemos um rio cheio,
Quiçá um Calango, um açude a sangrar
A transbordar tudo que vivemos ali,
Bem ali na nossa Várzea das Acácias!

E essas marcas são como uma tatuagem
gravada em carne viva, a ferro e a fogo,
Que dilacera o coração por dentro, em brasa,
que aprendi a carregar comigo vida a fora,
Por toda minha vida, além dos muros da minha casa,
sem mesmo cogitar de fazer uma plástica.

E assim vou vivendo a vida, sem muitas cobranças.
Agora, mais do que antes, aprendi
a gostar das minhas cicatrizes.
Assim vai o tempo passando, as horas
a bater o sino da igreja.
E eu na peleja a lubrificar portas e dobradiças,
A tanger tudo que seja triste,
a levantar o astral, pois sou varzeano
e habito a terra da felicidade.

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