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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

BICHO SOLTO NA VÁRZEA

BICHO SOLTO NA VÁRZEA

Autor: João Maria Ludugero.

Mugem os bois no pasto do Calango,
Berram os cabritos soltos na Vargem
Fuçando capim e juncos à cata de alimento.

O vento, velho companheiro,
uiva pelas quatro bocas
a bafejar a tarde varzeana.

Meu rugido se corta além do paredão
Do açude, enquanto tudo se derrama
Em ávido e ácido lume, de sobejo
A escoar pelos bueiros
Das estradas de chão
que levam ao sítio de Zé Canindé.

Corro terra-a-dentro:
dou de cara com a saudade,
Atravesso cercas de arames farpados,
Abro um clarão na árida mata,
O sol queima meu rosto sem pena.
Eu percorro longo campo de mata-pasto.
Eu me acho defronte ao carro encantado,
Eu estou dentro da lenda,
Vejo diante de mim a mulher que chora,
E descendo a Brasiliano Coelho de Oliveira
Eu mais pareço um cigano ao trilhar esse chão
Como se fosse o traçado das minhas mãos
como que a ler a própria sorte, ali escrita.

Eu sou filho de Várzea,
Eu tenho um sonho acordado,
prestes a fazer desabar por inteiro
Sobre a cabeça de cada varzeano, de súbito,
A tão sonhada felicidade, de fato.

Porque minha poesia não tem muros,
Minha poesia tem janelas e versos.
Porque minha Várzea me fez assim,
Fez fértil o terreno do meu coração
E nele plantei sementes do bem, do amor e da paz.
Logo, sempre que preciso acho socorro em cada beco.


Assim sendo, não morro
feito semente em solo seco.
Sou filho de Várzea,
sou filho da terra agreste.
Sou filho do semi-árido.
Posso até ser árido, no cerne,
mas tenho um olho d'água em cada arisco.

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