SEM ARREDAR O CORAÇÃO DA MINHA VÁRZEA
Autor: João Maria Ludugero.
Eu imerso em pensamentos
Nas águas do Calango,
Já me dizia o açude,
que eu haveria de partir,
como se dissesse sede de viagens.
Eu via a leveza das aves,
O canário de chão já me dizia
Que eu precisava respirar outros ares.
Mas o ar dali não se detinha no cálice das mãos.
As pedras, os Seixos
de arestas polidas, já me diziam,
E eu bem sabia das areias movediças,
nos jardins fora da minha Várzea.
Nos umbrais das esperas,
nas soleiras das portas
As sementes germinaram,
os frutos maduraram,
E aquele magote de crianças cresceu.
Já era velha a tarde varzeana,
quando a estrada de chão me pegou os passos,
quando a poeira e o pó foram sacudidos ao vento
quando lágrimas se debulharam no meu rosto
Eu botei a saudade no embornal, uma a uma,
Abracei minha mãe, pedi a bença a meu pai
Peguei a camioneta do seu Tida e rumei à Nova Cruz
E com o coração despedaçado, segui minha sina.
Eu vi minha Várzea ficando distante,
Naquela tarde eu vi no céu uma lua,
uma lua de prata presa ao meu peito.
Eu sabia que era chegada a hora
de aprender com o adeus o ofício
de cantar mundo a fora, de fato,
pela vastidão de outros campos
e o breve breve tempo do Verão.
Mas de uma coisa posso ter certeza:
Eu vim para Brasília. Eu vim. vi e venci.
Mas sair de Várzea, disso certeza não tenho,
Uma vez que da minha Várzea
nunca arredei o coração,
Nunca me vi ausente dela,
da minha amada cidade da cultura,
Minha Várzea das Acácias!
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