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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

SEM ARREDAR O CORAÇÃO DA MINHA VÁRZEA

Autor: João Maria Ludugero.

Imerso em meus pensamentos
Mergulhava nas águas do Calango,
E já me dizia o açude, de súbito,
que eu haveria de partir, galgar outro lugar,
como se dissesse eu ter sede de viagens.

Eu via a leveza das aves,
E isso muito me aprazia.
O canário-de-chão já me dizia
Que eu precisava respirar outros ares.
Mas o ar dali não se detinha no cálice das mãos.

As pedras, os Seixos de arestas polidas, já me diziam,
E eu bem sabia das areias movediças,
nos jardins fora da minha Várzea.
Nos umbrais das esperas,
nas soleiras das portas,
As sementes germinaram,
os frutos maduraram, de cair no chão,
E aquele magote de crianças cresceu.

Já era velha a tarde varzeana,
As andorinhas em bando se dirigiam à torre de São Pedro
E as estradinhas de chão me pegaram os passos,
Foi quando a poeira e o pó foram sacudidos ao vento
Foi quando lágrimas se debulharam no meu rosto.


Eu botei a saudade no embornal, uma a uma,
Abracei minha mãe, pedi a bença a meu pai
Peguei a camioneta do seu Tida e rumei à Nova Cruz
E com o coração despedaçado, segui minha sina
Em busca de uma esperança nova, eu me partir.

Eu vi minha Várzea ficando distante,
Naquela tarde eu vi no céu uma meia-lua inteira,
uma lua de prata presa ao meu peito.
Eu sabia que era chegada a hora
de aprender com o adeus novo ofício
de se lançar vida a fora, de fato,
pela vastidão de outros campos
e o breve breve tempo do Verão.

Mas de uma coisa posso ter certeza:
Eu, feito andorinha só, vim para Brasília.
Eu vim. Eu vi. Eu venci.
Mas sair de Várzea, disso certeza não tenho,
Uma vez que da minha Várzea
nunca arredei o coração,
Nunca me vi ausente dela,
da minha amada cidade da cultura,
Minha Várzea das Acácias!

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