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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

E, NUM ESTALAR DE DEDOS...

E,NUM ESTALAR DE DEDOS...

AUTOR: JOÃO MARIA LUDUGERO.


Ainda menino eu gostava de ver o Calango.
Muito me aprazia correr todo seu paredão e ver o céu no açude.
Eu gostava de ver os reflexos do sol no espelho d'água.
Aquele brilho todo não me cegava, nem me deixava a vista inocente doer
As horas soluçavam sob o canto mavioso do bem-te-vi,
E o tempo como um passarinho, um canário a me dar chão
Eu tinha todo o tempo do mundo, eu tinha o tempo nas mãos,
Sequer cogitava pensar que o tempo não se prende,
E que tão de repente, ele nos escapa de sopetão!


É sabido que a gente cresce,
E se o sujeito não abrir o olho,
e deixar a vida passar em branco,
Chega-nos o punhal das horas, e de pronto,
arranca-nos a vez e a voz,
num único e certeiro golpe,
Como que a nos mostrar que cada minuto da vida,
desde o instante em que se nasce, desde o choro primeiro,
já se começa a morrer, de fato,
nunca é mais, é sempre menos, sem dúvida.
Mas muita gente só descobre isso
quando é chegado o crepúsculo, a hora do parto.


E ainda tem gente que vive a vida toda a vegetar,
ou a rezar pela cartilha de outrem, à míngua, feito erva-daninha,
ou feito parasita a correr pela cabeça dos outros feito piolho,
que morre na unha, num estalo.
Mas a quem agradecer pelo eu-não-vivido, pelo eu-não-ter-sido?
De que adianta a boca perfeita se o grito entardecido está de língua presa?


Portanto, vamos soltar o verbo, e ir à luta
Arregaçar as mangas, e viver a vida.
Afinal, quem foi que disse que estamos aqui
de passagem a aguardar o sobejo dos outros?
A vida é nossa. Deus nos deu de presente, de graça.
E agora, vais ficar aí ao vento esperando o manjar cair do céu?
Vamos à luta que a vida é curta demais para ser pequena.
Lembre-se de que nem todo filho é só os da mãe.
Há os filhos de Deus, além dos filhos da outra.
Logo, se das coisas boas da vida se dispôs,
Então depois não reclama!

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