Autor: João Maria Ludugero
Eu gosto de escrever, colocar as ideias no papel, alinhá-las. Dá gosto trazer as palavras à tona, ordená-las, fazer a composição, enquadrá-las, dando-lhes novos sentidos, sem delas tirar a razão, sem a intenção desesperada de dizer seu significado, se as palavras são frias ou meramente calculadas.
Gosto dessa coisa de descrever como quem pincela o que sente, de ver a alma que existe nas palavras, que dão vida às letras. Não escrevo por nada não. Gosto de mostrar meu lugar, com orgulho imenso. Gosto tanto de mostrar minha Várzea, minha terra amada, minha condição varzeana ou coisa que o valha. Exponho-me, sim, com enorme alegria de demonstar isso, não me preocupo em mostar minha cara, ou minha cabeça achatada de nordestino, cabeça de jerimum, que seja, como diria um amigo meu. Tenho orgulho dessa beleza que carrego comigo toda vida.
Gosto de descrever minha infância, sem síndrome de Peter Pan ou coisa assim. Gosto de buscar lá naqueles dias de casulo o sol que eu conseguia pegar com a mão, esse sol que jamais me abandonou. Juro, de dedos cruzados, que recorro sempre a ele, toda vez que o socorro me tarda chegar.
Gosto de tingir o papel com minhas palavras. Elas dão mais cor à primavera que invento, recheadas de contentamento, de pescarias de sonhos acordados em pleno rio Joca, de idas e vindas ao Vapor e seus ariscos caminhos que levam a novas esperanças, a maracujás, itapacurás, lagoas e outros riachos de mel e seixos.
É por demais gratificante pincelar essas coisas simples, que tanto bem me trazem ao espírito ao descrevê-las intensamente, digo, assim com toda força, pois sou assim mesmo intenso, até exagerado, confesso, mas não sei fazer diferente nem ser morno. Gosto de recordar dos pincéis folclóricos das cantigas do meu lugar, das cirandas que nos fizeram deitar e dormir com o sereno da lua, ali na rua coronel José Lúcio Ribeiro. Essa lua que me banha a alma de prata toda vez que me vejo a brincar lá no arisco da inesquecível madrinha Onélia de seu Raimundo Rosa, junto com os amigos Janilza e Janilson Carvalho. Dona Onélia, para mim, sempre foi sinônimo da doçura e da bondade humana. Como não guardar essa gente boa no cofre do coração e atirar a chave fora, sem recorrer ao santo chaveiro Simão Pedro, detentor das chaves desse paraíso?
Por isso, carrego comigo esse orgulho de ser varzeano, de escrever, de poder dizer isso com todas as palavras, sem nunca me cansar do tempo que dedico a escrevinhar acerca do meu lugar, abrindo todas as cancelas, sem desesperar nem achar que tudo isso é besteira. Enfim, minha esperança é metida a besta. Ora, ora escrevo e vou continuar a fazer isso por muito tempo ainda, assim ando mais leve, facilitando minha cabeça a pensar... não quero perder a cabeça tão cedo, não quero passar pela vida com a cabeça a vagar pelo chão das futilidades, tal qual um jenipapo maduro que se espatifou nesse chão, em obediência à lei da gravidade. Puft, plaft, zaspt!
Calma, oh, Seu Isaac Newton, ainda tenho muito a escrever... careço de saborear a deliciosa maçã da vida, sem ter medo de que ela venha a cair sobre a minha cabeça! Escrever me atrai, faz-me viajar no pensamento. Nada vai nos separar, de unir meus versos e con/versar como quem degusta um manjar de Deus. Eu gosto muito de escrever, de amar minha Várzea das Acácias, alguém se arrisca a duvidar disso?
Joâo grannde amigo de nossa infância.Que maravilha relembrar o que a vida apresentou de melhor neste momento especial de nossas vidas.Lembro do seu pequeno cadeno recheado de Poesias a qual encantava nossa imaginação e sonhos.Nossa que maravilha abrir este bog reviver grandes momentos..Obrigada de coração todo o carinho Beijosss
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