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quarta-feira, 5 de maio de 2010

MEMÓRIAS DO RIO JOCA

autor: João Ludugero

gosto de olhar o rio Joca
eu me acho satisfeito em pisar na sua areia
descalço, aprecio a beleza do riacho da cruz
atravesso o leito raso e me sento na margem
a ruminar feito bicho que matou a sede
bem ali no rio de Nozinho,
ali no encontro das águas salobras
ali a ver a paisagem,
do coqueiral ao Vapor

escolho os lugares onde o silêncio
faz-me pensar, redescobrir o sentido da vida
ali naquela areia branca, fina
onde insistem em nascer
canapu e melancias-de-praia

passo a conhecer mais de mim mesmo
é como aprender a ver só agora o belo
que sempre esteve ali no agreste
mas que nunca tive tempo
para contemplar essa beleza,
os lugares onde o silêncio
toca fundo na alma da gente,
potável silêncio puro, branco

cristalino silêncio
que cheio de saudade
se derrama no meu peito
e não termina de bater no coração
e não tem jeito, apanho-me a  chorar
ao lembrar das lavadeiras de sol a sol

da  roupa a quarar pelas pedras, a clarear
nos arames farpados das cercas
brancas almas estendidas no varal
na brancura dos lençóis
espalhados rio afora

lembro-me de dona Zidora a cantar
a cavar cacimbas nas ribanceiras do Joca
a pitar seu cachimbo de fumo de rolo
enquanto a gente rolava no lodo
no escorrego das pedras do rio,
rio que deu margem para fazer nascer
esse cantinho abençoado
que chamaram de Várzea,
solo onde a gente tem orgulho
de atirar maduras sementes
que germinarão certamente
sob os auspícios de São Pedro apóstolo

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