autor: João Ludugero
reza, reza benzedeira,
reza na beira do rio Joca
reza forte, com fervor
reza na minha cabeça
revigora minha lida
dá-me novo sentido,
vida nova ao coração
livra-me de mau agouro
dá-me esperança nova,
longe de mim os quebrantos
e as espinhelas caídas
de onde a senhora estiver,
lá do lado do Santíssimo,
me proteja Mãe Claudina,
livre-me do sofrimento
sou paciente, tenho fé,
Mãe Miquil, interceda por mim
perante o pai celestial
dona Elina de pinga-fogo
mantenha acesa a pira
que ilumina cada esquina
que incendeia de amor a minha sina
dona Rosa de Antonio Ventinha
na sua humildade conserte a rosa dos ventos,
dê-me rumo e passo certo, dê-me norte
conduza-me pelos caminhos de luz
dona Onélia, por favor, dê-me sorte
benza logo de uma vez,
esse menino varzeano, e
entre achados e perdidos,
reze forte aquele salmo bendito,
refaça meu coração que precisa de reparos
dona Ana Moita, eu suplico,
traga um ramo bem verdinho
de vassourinha do campo, e incenso
benza-me das dores do dia-a-dia,
feche meu corpo de pragas e febres
dá-me refúgio de maus-olhados
proteja-me das setas
que saem das sombras
do meu destino, oh, Senhor Deus,
seja meu escudo!
benza-me, reza rezadeira,
faça renascer em mim vi(d)a nova,
verde novo traga cura, me conforte
preciso voltar a ser aquela criança
que carregava esperança, nas veias
benzam-me, minhas benzedeiras,
com seus ramos, com seus rosários e terços
rezem cedo na beira do riacho da cruz
ou no rio de Nozinho, à tardinha,
mandem bem depressa todos os males
para as ondas do mar sagrado
pra bem longe da minha casa
pra bem longe da minha Várzea
e os encerrem com as chaves de São Pedro!
venho aqui louvar e agradecer
em nome do meu povo varzeano:
louvo Mãe Claudina
louvo Mãe Miquil
louvo dona Rosa de Antonio Ventinha
louvo dona Onélia de Raimundo Rosa
louvo dona Ana Moita,
sem esquecer de lembrar às mais recentes
que não deixem essa crença se acabar
que persistam a rezar
encantdeiras de dores,
ou parteiras da alegria!
pra fazer a louvação
bato no peito com fé
não esmoreço, acredito
no poder absoluto
do divino Espírito Santo
e da Virgem Mãe Maria!
“Se não levarmos a poesia e a beleza conosco, é inútil percorrermos o mundo. Em nenhum lugar as encontraremos.” (Emerson)
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terça-feira, 25 de maio de 2010
segunda-feira, 24 de maio de 2010
MÃE CLAUDINA
autor: João Ludugero
oh,minha Virgem Maria!
vejo que lá do Calango
subiu um corisco
abriu-se um clarão
rasgando o céu
sol sumiu, acho
que se deitou no açude
deixando a tarde toda um breu
o véu do tempo se rasgou
tremeu terra e arvoredo partiu,
tremeu a cruz do rio
parecia mais um rojão
daqueles de festa de São João,
só que de estampido maior
do que fogo de artifício
estremecendo tudo
labaredas tão medonhas
a cortar as nimbos,
bem que vi fogo cair
do céu de São Pedro
a chuva caiu aos cântaros,
choveu noite e dia, sem trégua
feito tromba-d'água
veio a cheia do rio,
trouxe jias, trouxe sapos
a enchente alagou as capoeiras
encharcou os caminhos de Vapor
o Calango sangrou tão bonito
se derramou pela Vargem
o Joca se espraiou pelos roçados
sob o canto mavioso do bem-te-vi
no balanço das duas palmeiras
lembro-me disso muito bem,
a gente tinha receio disso não,
pois o pavor se dissipava ligeiro
sob a reza forte de Mãe Claudina,
benzedeira de mão cheia,
que era também parteira
a gente sempre tinha esperanças novas
ela, tão pequenina, enfrentava
de cabeça erguida, sem assombração,
munida apenas de seus credos,
de baforada em baforada no cachimbo
de fumo de rolo, confiante na fé,
destemida, afastava até mesmo
os perigos da natureza
que viesse raio ou trovão
ela não escondia os espelhos
pegava linha e agulha
e costurava nossos medos
quem foi que disse
que havia tempo ruim
lá pras bandas da minha Várzea?
se ninguém ouviu, eu quero agora
com esses versos simples louvar,
bendizer a ilustre e bondosa Mãe Claudina,
guerreira de luz, saudosa senhora
desatadora de nós,
um pouco mãe
de todos nós varzeanos
oh,minha Virgem Maria!
vejo que lá do Calango
subiu um corisco
abriu-se um clarão
rasgando o céu
sol sumiu, acho
que se deitou no açude
deixando a tarde toda um breu
o véu do tempo se rasgou
tremeu terra e arvoredo partiu,
tremeu a cruz do rio
parecia mais um rojão
daqueles de festa de São João,
só que de estampido maior
do que fogo de artifício
estremecendo tudo
labaredas tão medonhas
a cortar as nimbos,
bem que vi fogo cair
do céu de São Pedro
a chuva caiu aos cântaros,
choveu noite e dia, sem trégua
feito tromba-d'água
veio a cheia do rio,
trouxe jias, trouxe sapos
a enchente alagou as capoeiras
encharcou os caminhos de Vapor
o Calango sangrou tão bonito
se derramou pela Vargem
o Joca se espraiou pelos roçados
sob o canto mavioso do bem-te-vi
no balanço das duas palmeiras
lembro-me disso muito bem,
a gente tinha receio disso não,
pois o pavor se dissipava ligeiro
sob a reza forte de Mãe Claudina,
benzedeira de mão cheia,
que era também parteira
a gente sempre tinha esperanças novas
ela, tão pequenina, enfrentava
de cabeça erguida, sem assombração,
munida apenas de seus credos,
de baforada em baforada no cachimbo
de fumo de rolo, confiante na fé,
destemida, afastava até mesmo
os perigos da natureza
que viesse raio ou trovão
ela não escondia os espelhos
pegava linha e agulha
e costurava nossos medos
quem foi que disse
que havia tempo ruim
lá pras bandas da minha Várzea?
se ninguém ouviu, eu quero agora
com esses versos simples louvar,
bendizer a ilustre e bondosa Mãe Claudina,
guerreira de luz, saudosa senhora
desatadora de nós,
um pouco mãe
de todos nós varzeanos
quinta-feira, 20 de maio de 2010
FAZ MUITO BEM ESTAR EM VÁRZEA
autor: João Ludugero
estar na minha Várzea
é um refrigério para a alma,
é abrir todas as portas e janelas
esquecer abertas as cancelas,
sentir o cheiro das plantas,
esquecer abertas as cancelas,
sentir o cheiro das plantas,
o ar puro, o silêncio, o mato verde
o Vapor, refúgio da agitação
até havia me esquecido
como era bom conversar
em volta da mesa,
beber água de poço do arisco,
tomar banho de rio,
apreciar a paisagem na tarde que cai
e mergulhar no açude do Calango
e mergulhar no açude do Calango
que coisa boa é pisar nesse chão,
mergulhar nas palavras, na poesia
mergulhar dentro de si próprio
sentir o cheiro da terra de São Pedro,
ouvir sons de pássaros pela manhã,
caminhar ao ar livre, libertar-se
livre de tudo que agita,
desnudar-se, interior e mente
desnudar-se, interior e mente
ter paz, simplesmente paz, sem pressa
ali, alimento-me de vida,
as flores são coloridas de dar gosto
de limpar a visão, se encantar
e o açude tem patos a nadar
em sua água verde-musgo
e todos os sonhos
ainda podem ser sonhados
lá, eu me acho
encaixo-me na natureza viva
encontro-me
com o que realmente sou
simples poeta varzeano
que não carece nada não,
pois traz tudo no coração,
isto é cabível, e não cansa,
traz Várzea inteirinha no peito
e isso é não é tudo?
ah, meu recanto abençoado,
minha Várzea amada,
ali, alimento-me de vida,
as flores são coloridas de dar gosto
de limpar a visão, se encantar
e o açude tem patos a nadar
em sua água verde-musgo
e todos os sonhos
ainda podem ser sonhados
lá, eu me acho
encaixo-me na natureza viva
encontro-me
com o que realmente sou
simples poeta varzeano
que não carece nada não,
pois traz tudo no coração,
isto é cabível, e não cansa,
traz Várzea inteirinha no peito
e isso é não é tudo?
ah, meu recanto abençoado,
minha Várzea amada,
pena que a vida,
essa vida que queremos
muitas vezes, passa diante
essa vida que queremos
muitas vezes, passa diante
de nossos olhos
e não a vemos!
e não a vemos!
CONTANDO ESTRELAS
autor: João Ludugero
na minha Várzea
ainda se pode sonhar
contar as estelas
que despencam no azul
do céu dos teus olhos azuis
eu aproveito o ensejo
para tecer meus três pedidos
com afinco
com toda fé
certo de que não importa
chuvas torrenciais ou estio
porque ainda sopram ventos
que serenam nas tardes do Calango
direto no meu rosto
exposto a brisas ligeiras
e cantos breves de bem-te-vis
sóis brotam ávidos
de dentro do meu peito
e nascem girassóis
no céu da minha boca
correm nas minhas veias
lágrimas de sal e mel
vindas do coração
que explode em versos
sou poeta varzeano e canto
a canção dos aflitos
que não sabem cantar
rebrotam esperança
em rios de águas salobras
em riachos do mel
e palavras florescem
em esperanças renovadas
na minha Várzea
ainda se pode sonhar
contar as estelas
que despencam no azul
do céu dos teus olhos azuis
eu aproveito o ensejo
para tecer meus três pedidos
com afinco
com toda fé
certo de que não importa
chuvas torrenciais ou estio
porque ainda sopram ventos
que serenam nas tardes do Calango
direto no meu rosto
exposto a brisas ligeiras
e cantos breves de bem-te-vis
sóis brotam ávidos
de dentro do meu peito
e nascem girassóis
no céu da minha boca
correm nas minhas veias
lágrimas de sal e mel
vindas do coração
que explode em versos
sou poeta varzeano e canto
a canção dos aflitos
que não sabem cantar
rebrotam esperança
em rios de águas salobras
em riachos do mel
e palavras florescem
em esperanças renovadas
quarta-feira, 19 de maio de 2010
E POR FALAR EM FEITIÇO...
autor: João Ludugero
Varzeaninha, varzeaninha,
tu és a dona do feitiço
da alegria sem medida
que envolve as margens
do rio Joca
que irriga o coqueiral
do meu verde habitat
de bons agouros
que abriga a esperança
desde o rio de Nozinho aos campos
do Vapor de seu Zuquinha
tu és da Várzea a rainha,
tu és senhora de mim;
tu matas todos olhares
de amores, de amores
quando passas assim
faceira, tão aprazível
a vender saúde de sobra
com o teu cesto de flores
pra enfeitar o altar de São Pedro,
nosso apóstolo padroeiro
eu queria ser um cravo branco
pra tocar no teu rosado nariz
em riste, perfumar as tuas tranças
embevecê-la de cheiros e lavandas
quando atravessas ligeira
a Brasiliano Coelho de Oliveira
pobre de mim, fazedor de versos
simples vendedor de sonhos
que invento com palavras
tudo tudo o que sinto,
na condição de poeta,
sou varzeano de estirpe
que inventa verdades sem rimas
só pra te ver livre e solta
a correr pelos caminhos
seja do Vapor às quatro bocas,
tu deixas boquiaberta minha gente
e quase todo ser vivente,
a arrancar fartos suspiros
do povo que diz à boca cheia,
parafraseando seu Nenê Tomaz,
essa menina vale um pitéu,
ai, como é bonita a natureza!
és um presente divino
oh, musa do meu sonho
sinto vertigem e encanto
quando tu passas na vargem
ou quando te deitas na areia,
mulher mais linda não há
és a dona desse jardim
que se abre em flor para ti
dona de beleza ímpar
quero moldar um tapete
todo em verde e amarelo
feito de flores de acácias
para a rainha pisar
lá na praça do encontro
e deixar para o bem de todos
só um bocadinho assim
um pouquinho assim do seu cheiro,
do seu cheiro de alecrim!
terça-feira, 18 de maio de 2010
RECADO À LUA
autor: João Ludugero
Quem foi que disse
que espero ser sol,
a te iluminar à distância,
já decidi: quero isso não!
quem pensa que quero viver longe de ti
feito a lua que se contenta
apenas com o clarão solar?
oh, serena lua, peço desculpas,
perdoa-me por pensar assim,
tu que é amante de todo poeta
senhora que faz a chuva de prata
toda se derramar
nas águas da paixão
lua que aparece em altas horas
para banhar a solidão da rua
que assola meu peito
que mais parece rua deserta
portanto, venha, oh, lua,
eu imploro, com todas as letras
peço-te, devolvas-me depressa o coração
que foi levado pra longe de mim,
achando que era somente pro meu bem
ora, ora, vejam só,
por São Jorge em seu cavalo branco
não me interessa transplante
eu careço isto sim, de fato,
do mesmo coração de antes!
Quem foi que disse
que espero ser sol,
a te iluminar à distância,
já decidi: quero isso não!
quem pensa que quero viver longe de ti
feito a lua que se contenta
apenas com o clarão solar?
oh, serena lua, peço desculpas,
perdoa-me por pensar assim,
tu que é amante de todo poeta
senhora que faz a chuva de prata
toda se derramar
nas águas da paixão
lua que aparece em altas horas
para banhar a solidão da rua
que assola meu peito
que mais parece rua deserta
portanto, venha, oh, lua,
eu imploro, com todas as letras
peço-te, devolvas-me depressa o coração
que foi levado pra longe de mim,
achando que era somente pro meu bem
ora, ora, vejam só,
por São Jorge em seu cavalo branco
não me interessa transplante
eu careço isto sim, de fato,
do mesmo coração de antes!
GIZ E POESIA
autor: João Ludugero
eu queria saber desenhar
só pra te pintar na paisagem
no cartão postal
limpar a vista, a visão
na tela da minha saudade
eu queria ser poeta
só pra saber fazer
versos simples
como aqueles de fazer
encantar com palavras
oh, minha Várzea,
como sonhar não custa nada,
eu sonho acordado
e me contento, sem cera
sinceramente
sigo em paz comigo
eu consigo sentir-me
o cara mais rico,
e desperto
tendo de presente
o mundo mais bonito,
o lugar mais belo
não careço de mais tesouros,
não preciso de nada além de tudo isso
que agiganta meu coração de amores
quando tua presença me faz ver de perto
que vale a pena seguir te amando,
até que a vida me dê flores
segunda-feira, 17 de maio de 2010
TARÂNTULA
autor: João Ludugero
juro por Deus
que não fiz mal nenhum à rosa
flor que num puxão arranquei
entre os espinhos,
mesmo com a mão ferida,
não esmoreci
pétala por pétala te desnudei
na intenção de bem me quereres
arregacei as mangas
irriguei teu corpo mudo
plantei outras mudas
do que jaz em mim
acordei girassol, alvoreci
e agora só quero que saibas
de uma vez por todas
que o cheiro de minhas mãos
é um pouco do perfume
que de ti guardei,
só pra servir de alento
quando chegar o momento
de a dama da noite,
querendo me entorpecer
com seu veneno,
vir arrancar minha alma
feito tarântula no cio,
ardente no fogo da paixão!
juro por Deus
que não fiz mal nenhum à rosa
flor que num puxão arranquei
entre os espinhos,
mesmo com a mão ferida,
não esmoreci
pétala por pétala te desnudei
na intenção de bem me quereres
arregacei as mangas
irriguei teu corpo mudo
plantei outras mudas
do que jaz em mim
acordei girassol, alvoreci
e agora só quero que saibas
de uma vez por todas
que o cheiro de minhas mãos
é um pouco do perfume
que de ti guardei,
só pra servir de alento
quando chegar o momento
de a dama da noite,
querendo me entorpecer
com seu veneno,
vir arrancar minha alma
feito tarântula no cio,
ardente no fogo da paixão!
VIVA VÁRZEA!
autor: João Ludugero
vim te ver,
visitá-la,
minha Várzea,
meu Vapor vital
ventos de vigor
vim vê-la,
meu vício é
viver você,
vivê-la à vista
vida vertente
vitoriosa vivência
verdejante visão
vivacidade varzeana
vicejantes valores
vou viver vívido
verão
verão
venero-te
sem vertigem
verdadeiramente
versejando você, vejo
vistosa virgem sem véu
verde vargem
vereda viçosa
vale viver a vida,
Varzeamando-te!
domingo, 16 de maio de 2010
MEU ITAPACURÁ
autor: João Ludugero
eu sempre ficava feliz
quando meu pai Odilon
me pegava pela mão satisfeito,
levando-me a visitar o Itapacurá
ali se podia respirar ares puros
com a natureza bafejando bons ventos
aos quatro cantos
enquanto o mormaço,
o cheiro da terra, o sereno
e a brisa da tarde amena
saciavam de paz
o interior da gente
ah, como era gostoso
pisar naquele chão,
se encantar com a vegetação,
contemplar os passarinhos
percorrer seus caminhos
e voltar pra casa, mesmo que fosse
apenas com um saco cheinho de pitombas,
frutas apanhadas ali
no sítio de seu Totita!
eta, tempo bom!
tempo de tomar banho de açude,
de lavar a alma, o espírito,
tempo de mergulhar nas águas
do meu verde Itapacurá...
ai que saudades que eu sinto!
sábado, 15 de maio de 2010
CREPONS
autor: João Ludugero
pelas quatro bocas
por todos os becos
por todos atalhos
ou veredas
pode-se chegar
ao ensejo esperado,
à liberdade de fato,
não apenas ao desejo
em todos os atalhos
e veredas
passeia o apego
das correntes do ego
do ansiado desejo,
aquele que faz o homem ficar cego
e não mais lembrar da senha
que o liberta
aquele que anseia,
que é escravo do desejo,
ganha um cadeado sem segredo
de carcomidas chaves
desdentadas pela ferrugem,
fechadura
que não pode ser aberta
nem mesmo sob o fogo
do mais potente maçarico
e ser assim,
escravo do desejo,
é ser todo atalho e desvio
é se embrenhar pelas veredas
é não ser dono do próprio nariz
diga-se de passagem,
não é ser livre,
é está preso,
ensimesmado
vendo o sol todo quadrado
num beco de uma rua
sem saída
é se encontrar diante de um canteiro
de flores de plástico ou de vidro
flores de papel crepom num vaso
flores que não nasceram
de nenhuma rega
sem nenhum cheiro,
de cores artificiais, sem ânimo
a decorar de natureza morta
o que foi exposto na mesa do desejo
pelas quatro bocas
por todos os becos
por todos atalhos
ou veredas
pode-se chegar
ao ensejo esperado,
à liberdade de fato,
não apenas ao desejo
em todos os atalhos
e veredas
passeia o apego
das correntes do ego
do ansiado desejo,
aquele que faz o homem ficar cego
e não mais lembrar da senha
que o liberta
aquele que anseia,
que é escravo do desejo,
ganha um cadeado sem segredo
de carcomidas chaves
desdentadas pela ferrugem,
fechadura
que não pode ser aberta
nem mesmo sob o fogo
do mais potente maçarico
e ser assim,
escravo do desejo,
é ser todo atalho e desvio
é se embrenhar pelas veredas
é não ser dono do próprio nariz
diga-se de passagem,
não é ser livre,
é está preso,
ensimesmado
vendo o sol todo quadrado
num beco de uma rua
sem saída
é se encontrar diante de um canteiro
de flores de plástico ou de vidro
flores de papel crepom num vaso
flores que não nasceram
de nenhuma rega
sem nenhum cheiro,
de cores artificiais, sem ânimo
a decorar de natureza morta
o que foi exposto na mesa do desejo
DE CORAÇÃO NOVO
autor: João Ludugero
eu abrirei meu coração
não para um transplante
não para ficar longe de ti
ou esquecer-te
não para diluir o mundo que fizemos
não para ficar perdido noite adentro
mas para amanhecer
para ter uma cabeça de pensar sadio
para amanhecer mais que o dia
sem que a noite venha envenenar-me sem ti
vou anestesiar meus sentidos
vou acordar do sono e da paúra
que ora envolve minha alma
meu espírito não se segura em mim
meu corpo vaga pela cidade
quase alheio a tudo
apesar das luzes das vitrines
não sei esconder esse voraz desejo
que se esconde no meu coração
mas não me deixo apegar
preciso ter a porta aberta
quando acordar quero
dar novo sentido ao que sinto
quero pisar no chão,
fugir do movediço
mole e desfeito,
careço começar de novo do zero
e com a mesma pessoa receber o sol
cabeça aberta, amanhecer e acordar mais que a manhã
sem medo de ser feliz, sem culpa e com zelo
eu abrirei meu coração
não para um transplante
não para ficar longe de ti
ou esquecer-te
não para diluir o mundo que fizemos
não para ficar perdido noite adentro
mas para amanhecer
para ter uma cabeça de pensar sadio
para amanhecer mais que o dia
sem que a noite venha envenenar-me sem ti
vou anestesiar meus sentidos
vou acordar do sono e da paúra
que ora envolve minha alma
meu espírito não se segura em mim
meu corpo vaga pela cidade
quase alheio a tudo
apesar das luzes das vitrines
não sei esconder esse voraz desejo
que se esconde no meu coração
mas não me deixo apegar
preciso ter a porta aberta
quando acordar quero
dar novo sentido ao que sinto
quero pisar no chão,
fugir do movediço
mole e desfeito,
careço começar de novo do zero
e com a mesma pessoa receber o sol
cabeça aberta, amanhecer e acordar mais que a manhã
sem medo de ser feliz, sem culpa e com zelo
AVEXADO DESEJO
autor: João Ludugero
apetece-me tanto ir a Várzea
logo em seguida visitar à Marisa,
tomar água de coco verde
emaranhar-me em seus maracujás
e depois, humm...
dar mais uma voltinha
veredas a dentro,
veredas a dentro,
caminhar pro interior
chegar até o Itapacurá,
arrancar macaxeiras no paul,
comer batata-doce assada
por os pés no açude
e de lá não mais arredar o pé
e ao fim do dia,
antes de o sol se deitar,
deixar-me espreguiçar
numa rede de algodão
numa rede de algodão
lá no sítio de tio João Pequeno
e só voltar pra casa
com a alma lavada,
com a alma lavada,
trazendo numa das mãos
uma enfileira de cajus encarnados,
na outra um ramalhete colorido
de flores-do-campo,
cravos silvestres, manjerona
e um cheirinho de alecrim,
que a dona Rosa Cunha me deu de presente
ai que saudades do meu lugar,
ai que saudade danada
da minha Várzea das Acácias
ai coração, não se avexe não,viu?
por Deus do céu, tenha calma,
a paz que corre ali não tem preço
quero ir depressa
quero ir correndo pra lá!
quinta-feira, 13 de maio de 2010
O INTERIOR DA BELEZA
autor: João Ludugero
uma igreja pintada
de azul celeste
na torre um sino
que badala as horas
e acorda palmeiras
que se vestem de verde
são duas as palmeiras
alçadas para o alto
como que a louvar
ao apóstolo São Pedro,
que se encontra no topo
crianças brincam na praça
a pular corda, acordadas
vestidas de sol e sonhos
da alegria da ciranda da vida
de rodar o instante e as catracas
tudo a seu tempo,
sem horas a passar,
sem nenhuma pressa
tudo a seu tempo
devagar
simplesmente
é o tempo a tecer
suas teias sua graça
a fiar suas manhas,
suas aranhas com arte
Jordana e Lila usam brincos
de conchas do mar,
de madrepérolas
e anéis feitos de pedras de seixos
de cascas de árvores
enquanto Teresa Gabriela traz
na face a beleza da terra
perfume de água do açude nos jarros
singelas flores nas janelas das casas caiadas
borboletas verdes e amarelas
no decote das meninas prestes a voar
flores de maracujá pra enfeitar o cabelo.
quem se atreveria a dizer
que isso não é belo?
uma igreja pintada
de azul celeste
na torre um sino
que badala as horas
e acorda palmeiras
que se vestem de verde
são duas as palmeiras
alçadas para o alto
como que a louvar
ao apóstolo São Pedro,
que se encontra no topo
crianças brincam na praça
a pular corda, acordadas
vestidas de sol e sonhos
da alegria da ciranda da vida
de rodar o instante e as catracas
tudo a seu tempo,
sem horas a passar,
sem nenhuma pressa
tudo a seu tempo
devagar
simplesmente
é o tempo a tecer
suas teias sua graça
a fiar suas manhas,
suas aranhas com arte
Jordana e Lila usam brincos
de conchas do mar,
de madrepérolas
e anéis feitos de pedras de seixos
de cascas de árvores
enquanto Teresa Gabriela traz
na face a beleza da terra
perfume de água do açude nos jarros
singelas flores nas janelas das casas caiadas
borboletas verdes e amarelas
no decote das meninas prestes a voar
flores de maracujá pra enfeitar o cabelo.
quem se atreveria a dizer
que isso não é belo?
quarta-feira, 12 de maio de 2010
"CHE PAURA!"
autor: João Ludugero
Meu poema
é um poema assim
um poema-crisálida
feito de palavras
recém-saídas do casulo
um poema como borboleta
que vive a segunda vida
que se mexe em estágios
alando o autor
libertando-o, assim
metálico-dourando suas asas
pra sair do marasmo-segmento
onde poucos se movem
ou não o fazem
simplesmente
por desamor à lida
quiçá por "che paura!"
ah, meu coração,
mesmo com sua aorta insuficiente,
como vou voar até lá
sem ficar preso em sua crisálida
diga-me como, mesmo encarcerado,
gerar seres alado, preciso descobrir
como abrir seu cofre de seda
e revigorar antigas esperanças?
ah, meu coração
não me poupe da beleza
ainda é cedo. sou um ser que sente
careço do que mesmo
para fazer o voo rasante,
se o caminho me chama
se vejo adiante uma estrada
um novo ponto de partida luminoso e transparente,
que me chama a agarrar com toda força em suas tranças
e fazer gangorra no balanço da vida?
entretanto, observo versos vertentes
em seu rastro áureo de inquietudes
que inseminam pupas
que multiplicam borboletas
que dão cor ao unir
versos e mar,
mar e poses, casas e casulos
universo de ovos, larvas, livros
as borboletas sempre voltam
borboletas são eternas?
eu aqui de novo, demente?
só sei que querendo dar novo sentido à vida
reencarnado em pó
pólen, palavras
coração na mão
exposto em poemas
Meu poema
é um poema assim
um poema-crisálida
feito de palavras
recém-saídas do casulo
um poema como borboleta
que vive a segunda vida
que se mexe em estágios
alando o autor
libertando-o, assim
metálico-dourando suas asas
pra sair do marasmo-segmento
onde poucos se movem
ou não o fazem
simplesmente
por desamor à lida
quiçá por "che paura!"
ah, meu coração,
mesmo com sua aorta insuficiente,
como vou voar até lá
sem ficar preso em sua crisálida
diga-me como, mesmo encarcerado,
gerar seres alado, preciso descobrir
como abrir seu cofre de seda
e revigorar antigas esperanças?
ah, meu coração
não me poupe da beleza
ainda é cedo. sou um ser que sente
careço do que mesmo
para fazer o voo rasante,
se o caminho me chama
se vejo adiante uma estrada
um novo ponto de partida luminoso e transparente,
que me chama a agarrar com toda força em suas tranças
e fazer gangorra no balanço da vida?
entretanto, observo versos vertentes
em seu rastro áureo de inquietudes
que inseminam pupas
que multiplicam borboletas
que dão cor ao unir
versos e mar,
mar e poses, casas e casulos
universo de ovos, larvas, livros
as borboletas sempre voltam
borboletas são eternas?
eu aqui de novo, demente?
só sei que querendo dar novo sentido à vida
reencarnado em pó
pólen, palavras
coração na mão
exposto em poemas
segunda-feira, 10 de maio de 2010
OLHOS D'ÁGUA
autor: João Ludugero
e aquelas palavras minhas,
assim feito sementes jogadas ao chão
brotaram ávidas de esperanças novas
assim feito sementes jogadas ao chão
brotaram ávidas de esperanças novas
e o solo da vargem se encheu de verde
soterrando a tristeza do estio
meus versos plantaram ali palavras-desejo
dessas que proliferam alegria aos tufos,
após a travessia de instantes sombrios
quando mostram a cara feliz
quando mostram a cara feliz
da burrinha da felicidade
que sempre chega à vereda
do pretendido destino
no fundo daquela vargem,
da velha vargem,
quase arrastada pela enxurrada
da velha vargem,
quase arrastada pela enxurrada
quase se esvaindo pelos bueiros
pelas cercas, esteios
e seios,
resta uma flor
a flor que vingou
e seios,
resta uma flor
a flor que vingou
e enfrenta toda corrente salobra
da saudade que escorre
no leito do rio Joca
que das tuas lágrimas debulhadas
dos teus vertentes veios,
venhas brotar em sementes
dos teus vertentes veios,
venhas brotar em sementes
de amor que não morre nunca
e que a partir dos meus olhos ermos
eu pinte um quadro
do mais lindo cartão postal
da minha Várzea das Acácias,
da minha Várzea das Acácias,
tingindo de azul a matriz de São Pedro,
duas palmeiras e um tempo bom
tempo do sorriso mais que perfeito
da paz verdadeira,
tudo estampado
no vestido azul de algodão
de dona Maria de seu Odilon,
com seu maternal carinho!
com seu maternal carinho!
domingo, 9 de maio de 2010
ORGULHO SIM, DE SER PAPA-JERIMUM!
autor: João Ludugero
minha Várzea
aquilo é que é terra boa!
a gente lá não cassoa
da sorte desde manhã
desde muito cedo ainda
antes do galo cantar,
a gente pega na rodilha
não tendo medo da lida
porque aprende com o pote
a se equilibrar na vida
lá é terra de muito sol
e calor que faz a tarde amena
na beira do rio Joca
tem muito caçote e jia
as folhas dos juazeiros
quase sempre tão verdinhas
apesar da seca verde
não tenho do que reclamar
do agreste em que nasci
que exala cheiros no ar
um cheiro bom de beiju, de tapioca
que provém lá da casa de farinha
de mandioca torrada
soprando esse ares puros
dos ariscos dos Marreiros
ventos do Itapacurá
ou seria que descem lá do Vapor
tô mentindo não senhor,
não é mesmo seu Zuquinha?
eta povo bom, hospitaleiro
sangue bom que não tem boça
protegido por São Pedro
nosso apóstolo da chuva
que traz tanta vida à roça
pra colheita ser bem farta
dos jerimuns ao feijão
do milho para a canjica
da melancia ao melão
eta, mas que terra fértil,
meu abençoado vale
lá todo mundo acorda cedo
pra tomar seu cafezinho
e comer macaxeira frita,
pra apanhar o algodão
seja ao largo do rio Joca
ou no riacho do mel,
bem ali na terra chã
Retiro do seu Olival
de Pasqualino Teixeira
e do mulato seu Bita!
minha Várzea
aquilo é que é terra boa!
a gente lá não cassoa
da sorte desde manhã
desde muito cedo ainda
antes do galo cantar,
a gente pega na rodilha
não tendo medo da lida
porque aprende com o pote
a se equilibrar na vida
lá é terra de muito sol
e calor que faz a tarde amena
na beira do rio Joca
tem muito caçote e jia
as folhas dos juazeiros
quase sempre tão verdinhas
apesar da seca verde
não tenho do que reclamar
do agreste em que nasci
que exala cheiros no ar
um cheiro bom de beiju, de tapioca
que provém lá da casa de farinha
de mandioca torrada
soprando esse ares puros
dos ariscos dos Marreiros
ventos do Itapacurá
ou seria que descem lá do Vapor
tô mentindo não senhor,
não é mesmo seu Zuquinha?
eta povo bom, hospitaleiro
sangue bom que não tem boça
protegido por São Pedro
nosso apóstolo da chuva
que traz tanta vida à roça
pra colheita ser bem farta
dos jerimuns ao feijão
do milho para a canjica
da melancia ao melão
eta, mas que terra fértil,
meu abençoado vale
lá todo mundo acorda cedo
pra tomar seu cafezinho
e comer macaxeira frita,
pra apanhar o algodão
seja ao largo do rio Joca
ou no riacho do mel,
bem ali na terra chã
Retiro do seu Olival
de Pasqualino Teixeira
e do mulato seu Bita!
sábado, 8 de maio de 2010
O MAIOR AMOR DO MUNDO
autor: João Ludugero
SER MÃE
é estar sempre a renascer em vida
é dar vida a outra vida
é ser muitas em tantas outras
é iluminar o tempo todo, cuidar
de ser todo o tempo acesa candeia
é estar sempre disposta,
mesmo que sonolenta
é não ter vida própria
é ter o paraíso em mãos
e nele padecer sem dó de si
é não se importar com a sua dor
só pra curar toda e qualquer dor alheia
como se fosse sua a dor dos outros
na pressa de conhecer seu grande
AMOR
ser mãe!...
é amar, amar e amar,
incondicionalmente
é dar colo ao seu eterno menino
como se ele nunca fosse crescer
é beijar, abraçar e niná-lo
sem nunca se cansar, sem horas,
é conhecer o infinito amor,
certa de que esse amor nunca se acaba,
seja na alegria
seja na dor,
haverá de estar ali, destemida
senhora de si, sempre acordada
ser mãe!...
é ser muito mais que ser amiga
é se doar em vida,
e permanecer viva
mas não se pertencer mais
ser mãe é ser mãe
é o milagre em se multiplicar,
multiplicar vidas,
sacrificar-se
e com eterna devoção
ela se coloca em lugar do filho
no perene altar, em total dedicação
ela entrega seu coração à cruz,
só para compartilhar
corajosamente da coroa
dos espinhos
do maior amor do mundo
isto é ser Mãe!
SER MÃE
é estar sempre a renascer em vida
é dar vida a outra vida
é ser muitas em tantas outras
é iluminar o tempo todo, cuidar
de ser todo o tempo acesa candeia
é estar sempre disposta,
mesmo que sonolenta
é não ter vida própria
é ter o paraíso em mãos
e nele padecer sem dó de si
é não se importar com a sua dor
só pra curar toda e qualquer dor alheia
como se fosse sua a dor dos outros
na pressa de conhecer seu grande
AMOR
ser mãe!...
é amar, amar e amar,
incondicionalmente
é dar colo ao seu eterno menino
como se ele nunca fosse crescer
é beijar, abraçar e niná-lo
sem nunca se cansar, sem horas,
é conhecer o infinito amor,
certa de que esse amor nunca se acaba,
seja na alegria
seja na dor,
haverá de estar ali, destemida
senhora de si, sempre acordada
ser mãe!...
é ser muito mais que ser amiga
é se doar em vida,
e permanecer viva
mas não se pertencer mais
ser mãe é ser mãe
é o milagre em se multiplicar,
multiplicar vidas,
sacrificar-se
e com eterna devoção
ela se coloca em lugar do filho
no perene altar, em total dedicação
ela entrega seu coração à cruz,
só para compartilhar
corajosamente da coroa
dos espinhos
do maior amor do mundo
isto é ser Mãe!
sexta-feira, 7 de maio de 2010
VÁRZEA, MEU VAPOR VITAL!
autor: João Ludugero
o alpendre, o casarão do Vapor,
a roça, o pátio, o terreiro,
o riacho, o tabuleiro, a coivara
o plantio de feijão, de maxixe,
de milho, de algodão,
de alho, pimenta e cravo,
e o arrebol da cor do favo
de mel pacatos riachos
que beleza é a minha Várzea
desde os tempos dourados da infância
desde Seu Zé Catolé
aos tempos do Seu Zuquinha,
de renovadas esperanças
e maravilhosas penas de pavão
que gostoso o banho de açude,
que maravilha a pescaria no rio
o refresco de cajá da dona Lourdes
doce de jaca, cocada, batata-doce
e macaxeira frita na manteiga de garrafa...
tanta flor de hibisco dobrada
limão, garapa e limonada
canapu da cor de chumbo,
melancia, jatobá,
melão caetano, juá
e outros frutos docinhos,
que se achavam nos caminhos,
que se enfeitavam de cores
e flores de marmeleiros
e flores de mulungu
ali na beira do Joca
onde nasce o ingazeiro
onde se pescava piaba e aratanhas
fosse de landuá fosse de tarrafa,
na manha de cada manhã de ontem,
escutando os passarinhos...
e a pesca, cadê a pesca e o peixe
que estavam ali?
o alpendre, o casarão do Vapor,
a roça, o pátio, o terreiro,
o riacho, o tabuleiro, a coivara
o plantio de feijão, de maxixe,
de milho, de algodão,
de alho, pimenta e cravo,
e o arrebol da cor do favo
de mel pacatos riachos
que beleza é a minha Várzea
desde os tempos dourados da infância
desde Seu Zé Catolé
aos tempos do Seu Zuquinha,
de renovadas esperanças
e maravilhosas penas de pavão
que gostoso o banho de açude,
que maravilha a pescaria no rio
o refresco de cajá da dona Lourdes
doce de jaca, cocada, batata-doce
e macaxeira frita na manteiga de garrafa...
tanta flor de hibisco dobrada
limão, garapa e limonada
canapu da cor de chumbo,
melancia, jatobá,
melão caetano, juá
e outros frutos docinhos,
que se achavam nos caminhos,
que se enfeitavam de cores
e flores de marmeleiros
e flores de mulungu
ali na beira do Joca
onde nasce o ingazeiro
onde se pescava piaba e aratanhas
fosse de landuá fosse de tarrafa,
na manha de cada manhã de ontem,
escutando os passarinhos...
e a pesca, cadê a pesca e o peixe
que estavam ali?
quarta-feira, 5 de maio de 2010
MEMÓRIAS DO RIO JOCA
autor: João Ludugero
gosto de olhar o rio Joca
eu me acho satisfeito em pisar na sua areia
descalço, aprecio a beleza do riacho da cruz
atravesso o leito raso e me sento na margem
a ruminar feito bicho que matou a sede
bem ali no rio de Nozinho,
ali no encontro das águas salobras
ali a ver a paisagem,
do coqueiral ao Vapor
escolho os lugares onde o silêncio
faz-me pensar, redescobrir o sentido da vida
ali naquela areia branca, fina
onde insistem em nascer
canapu e melancias-de-praia
passo a conhecer mais de mim mesmo
é como aprender a ver só agora o belo
que sempre esteve ali no agreste
mas que nunca tive tempo
para contemplar essa beleza,
os lugares onde o silêncio
toca fundo na alma da gente,
potável silêncio puro, branco
cristalino silêncio
que cheio de saudade
se derrama no meu peito
e não termina de bater no coração
e não tem jeito, apanho-me a chorar
ao lembrar das lavadeiras de sol a sol
da roupa a quarar pelas pedras, a clarear
nos arames farpados das cercas
brancas almas estendidas no varal
na brancura dos lençóis
espalhados rio afora
lembro-me de dona Zidora a cantar
a cavar cacimbas nas ribanceiras do Joca
a pitar seu cachimbo de fumo de rolo
enquanto a gente rolava no lodo
no escorrego das pedras do rio,
rio que deu margem para fazer nascer
esse cantinho abençoado
que chamaram de Várzea,
solo onde a gente tem orgulho
de atirar maduras sementes
que germinarão certamente
sob os auspícios de São Pedro apóstolo
gosto de olhar o rio Joca
eu me acho satisfeito em pisar na sua areia
descalço, aprecio a beleza do riacho da cruz
atravesso o leito raso e me sento na margem
a ruminar feito bicho que matou a sede
bem ali no rio de Nozinho,
ali no encontro das águas salobras
ali a ver a paisagem,
do coqueiral ao Vapor
escolho os lugares onde o silêncio
faz-me pensar, redescobrir o sentido da vida
ali naquela areia branca, fina
onde insistem em nascer
canapu e melancias-de-praia
passo a conhecer mais de mim mesmo
é como aprender a ver só agora o belo
que sempre esteve ali no agreste
mas que nunca tive tempo
para contemplar essa beleza,
os lugares onde o silêncio
toca fundo na alma da gente,
potável silêncio puro, branco
cristalino silêncio
que cheio de saudade
se derrama no meu peito
e não termina de bater no coração
e não tem jeito, apanho-me a chorar
ao lembrar das lavadeiras de sol a sol
da roupa a quarar pelas pedras, a clarear
nos arames farpados das cercas
brancas almas estendidas no varal
na brancura dos lençóis
espalhados rio afora
lembro-me de dona Zidora a cantar
a cavar cacimbas nas ribanceiras do Joca
a pitar seu cachimbo de fumo de rolo
enquanto a gente rolava no lodo
no escorrego das pedras do rio,
rio que deu margem para fazer nascer
esse cantinho abençoado
que chamaram de Várzea,
solo onde a gente tem orgulho
de atirar maduras sementes
que germinarão certamente
sob os auspícios de São Pedro apóstolo
IN' AMOR'ATO
autor: João Ludugero
há amores assim
há amores assim e assados
amores calmos sem pressa
amores assanhados
amores de portão
amores de rumos
amores de lua,
de mel e desvãos
outros amassados
de rumores
que nunca têm início
muito menos têm fim
na esquina de uma rua
na praça do encontro
nas quatro bocas do mundo
ou num banco de jardim
quando menos esperamos,
amores de espanto
há amores assim
de presente
de papel passado
amores que duram
sem código de barras
que têm validade
mesmo sem alvará
ou escritura pública
amores que sobrevivem ao tempo,
e até à separação
que se encontram na fé
e não morrem nunca...
um amor assim de almas,
daqueles que vão para além,
muito além, deste corpo fisico!
há amores assim
há amores assim e assados
amores calmos sem pressa
amores assanhados
amores de portão
amores de rumos
amores de lua,
de mel e desvãos
outros amassados
de rumores
que nunca têm início
muito menos têm fim
na esquina de uma rua
na praça do encontro
nas quatro bocas do mundo
ou num banco de jardim
quando menos esperamos,
amores de espanto
há amores assim
de presente
de papel passado
amores que duram
sem código de barras
que têm validade
mesmo sem alvará
ou escritura pública
amores que sobrevivem ao tempo,
e até à separação
que se encontram na fé
e não morrem nunca...
um amor assim de almas,
daqueles que vão para além,
muito além, deste corpo fisico!
A COR DO PARAÍSO
autor: João Ludugero
meu anjo azul
meu pássaro azul,
meu olhar adora sentir
meu olhar adora sentir
o azul do teu olhar,
mergulhar sem medo
no azul piscina do teu éden
tua asa me faz viajar
tua asa me faz viajar
contigo atravesso as fronteiras
do impossível e,
só tu, como ninguém mais sabes
só tu, como ninguém mais sabes
ler-me a alma,
silenciosamente
silenciosamente
ler-me a mão e enxergar
que vai longe a linha
da minha existência
que juntos ainda iremos
rir meu riso, chorar meu pranto
tu, meu anjo, na terra e no céu azul
tu, meu anjo, na terra e no céu azul
seja na chuva ou no estio,
desabafas tuas dores,
enfrentas leões e,
como pedra a cantar no rio,
espantas com toda força
todas as sombras
todas as sombras,
desabafas tuas dores,
enfrentas leões e,
como pedra a cantar no rio,
espantas com toda força
todas as sombras
todas as sombras,
toda e quaisquer sombras
nunca te esqueças,
tens na alma a realeza
e a beleza doce doce
de um lago calmo
de um lago calmo
de um lago calmo
de um lago calmo
acredite,
onde eu estiver
onde o destino possa me levar,
não ficarás ao relento da solidão,
não ficarás ao relento da solidão,
pois terás em ti a essência da vida
respire-a fundo
respire-a fundo
e na velocidade do pensamento
sem contar o tempo,
sem contar o tempo,
seja dia ou noite,
sorria,
sonhe,
acorde
sorria,
sonhe,
acorde
e viva plenamente
a essência do alecrim
que exala do teu sorriso,
meu anjo azul que me dá sorte,
anjo que veio pintar o arco
dando mais cor
ao varzeano paraíso
agreste que só existe no interior
do meu amado Rio Grande do Norte
dando mais cor
ao varzeano paraíso
agreste que só existe no interior
do meu amado Rio Grande do Norte
terça-feira, 4 de maio de 2010
MINHA PEQUENA VÁRZEA
autor: João Ludugero
no meu mundo existe sol
e também existe um açude de nome Calango
e também existem riachos do mel
que levam a um rio chamado Joca
e dele se avista um vapor vital
que serve para me avisar
que a beleza ainda mora lá
no meu mundo existe amor
e muita simplicidade
há uma juventude cheia de vigor
E muita alegria sem medidas
no meu mundo...
existe muita coisa boa,
existe muita gente boa, hospitaleira
só gostaria que houvesse mais
união, solidariedade e menos tristeza
que durasse a paz,
que aflorasse mais essa vertente
beleza que existe ali
e que a gente não encontra
em nenhum outro lugar do mundo
no meu mundo existe sol
e também existe um açude de nome Calango
e também existem riachos do mel
que levam a um rio chamado Joca
e dele se avista um vapor vital
que serve para me avisar
que a beleza ainda mora lá
no meu mundo existe amor
e muita simplicidade
há uma juventude cheia de vigor
E muita alegria sem medidas
no meu mundo...
existe muita coisa boa,
existe muita gente boa, hospitaleira
só gostaria que houvesse mais
união, solidariedade e menos tristeza
que durasse a paz,
que aflorasse mais essa vertente
beleza que existe ali
e que a gente não encontra
em nenhum outro lugar do mundo
sábado, 1 de maio de 2010
EU-QUERUBIM
autor: João Ludugero
Preciso selar meu destino
quero um cavalo de várias cores,
Quero-o depressa que vou partir
lá para minha Várzea
Esperam-me campos
com tantas flores, roçados
roças de milho e feijão de corda
melões e melancias e jerimuns
serei tal qual encarnado querubim
sob o sol amarelo queimado
que só cavalos alados
de várias cores
podem servir, sem pantim
Quero compor um poema
onde vertentes ideias se aflorem
que cante a fé e a vida que brota
do Vapor das águas do rio Joca
e dos ventos que me levam ao Maracujá
Que o meu canto seja sereno
no meio da natureza sem pressa
pleno de vento e mormaço
numa chicotada
que estremeça
o coração da gente
que cadencie estrelas
que atenda meus três pedidos
que desfaça mitos
que me dê verrugas nos joelhos
e rasgue nevoeiros
sob as barbas de São Pedro
escancarando sóis
por toda minha vida!
AINDA ACREDITO
autor: João Ludugero
no meu poema
existe um verso em branco e sem parâmetros,
um corpo que respira a céu aberto,
janela debruçada para a vida
para quem quer viver mais,
sem paradigmas
no meu poema existe
no meu poema existe
a dor calada lá no fundo, insiste
o passo da coragem em casa escura
e, aberta, uma varanda para o mundo,
uma luz no fim do túnel sempre resta
o passo da coragem em casa escura
e, aberta, uma varanda para o mundo,
uma luz no fim do túnel sempre resta
existe a noite, o descanso do guerreiro,
o riso e a voz refeita à luz do dia,
a festa da Senhora da Piedade
existe o refúgio de Seu Olival,
o retiro que afugenta o cansaço
do corpo que adormece no colo
do corpo que adormece no colo
da minha inesquecível mãe Maria,
estrela da manhã da minha vida
existe um rio Joca e suas cacimbas
de águas salobras e cristalinas,
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste, não esmorece não se prostra
se levanta e vence a batalha
mas não adormece no ponto
existe um rio Joca e suas cacimbas
de águas salobras e cristalinas,
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste, não esmorece não se prostra
se levanta e vence a batalha
mas não adormece no ponto
que luta em obter o êxito antes da sorte
que não espera de braços cruzados
que vai à luta sem trégua
que não espera o manjar cair do céu
no meu poema
existe o signo da mulher-coragem,
a força de Gabriela Pontes,
intermédio entre o grito e o eco da esperança
a dor que sei de cor mas não recito
e os sonhos inquietos
de quem ainda acredita
no meu poema
existe um corajoso menino varzeano,
a rua e o beco que levam à praça do encontro
e um Antonio Lunga a vender seus caranguejos
no meu poema
existe um coração vertente
que vai à luta sem trégua
que não espera o manjar cair do céu
no meu poema
existe o signo da mulher-coragem,
a força de Gabriela Pontes,
intermédio entre o grito e o eco da esperança
a dor que sei de cor mas não recito
e os sonhos inquietos
de quem ainda acredita
no meu poema
existe um corajoso menino varzeano,
a rua e o beco que levam à praça do encontro
e um Antonio Lunga a vender seus caranguejos
no meu poema
existe um coração vertente
de renovadas esperanças
existe um Itapacurá
de esperanças acesas no interior
de esperanças acesas no interior
da minha Várzea das Acácias,
que unem bacuraus e corujões,
que derruba o existente muro,
existe tudo o mais que ainda escapa
e um verso em branco à espera de futuro!
existe tudo o mais que ainda escapa
e um verso em branco à espera de futuro!
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