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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A CASA DA CARNE (ALCATRA DE CORTE)



Eu voltei lá na casa de tolerância
e tudo estava de pernas pro ar,
sem gozo, eiras nem beiras:
camas, mesas e cadeiras,
tudo era só um amontoado de entulho.
Eu ouvi o assobio do tempo 
a ventar corredores da vida a dentro.
Eu vi a ferrugem carcomer o portão principal.
Não mais havia movimento no lugar, só sombras.
E, esquecida num canto uma sandália de plástico
da Grendene na cor vermelha-bala-soft.
Vi também que alguém do meio,
no salve-se quem puder,
esqueceu um pé de sapato 
de salto, seminovo, como que a sinalizar 
que ali não se fazia vida fácil. 
A casa fechou de vez, caiu em desuso, 
desde quando estourou a última rebelião
das putas cansadas da lida e do abuso. 
Veio a público: o cafetão-mor interveio
e decidiu repassar o empreendimento.
Deu razão a quem ousava pagar mais. 
Negócio de porteira fechada. Silêncio.  
Encerrou-se o ponto e suas atividades.
Fechado para balanço. Batido o martelo, 
putas na rua, a rodar a bolsa de quina pra sorte.
E só restou um sobreaviso afixado no portal de entrada,
assim escrito em encarnadas letras garrafais:
"AGUARDEM, BREVE AQUI
FUTURAS INSTALAÇÕES
DA BOUTIQUE DE "CARNES DA CORTE".

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