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domingo, 2 de novembro de 2014

VÁRZEA-RN: UMA SEARA DE SAUDADES, por João Maria Ludugero

VÁRZEA-RN: UMA SEARA DE SAUDADES,
por João Maria Ludugero


Dona Maria Dalva, minha estrela-mãe,
Invocava constantemente imagens
De uma velha infância na compostura
Das distantes bermas do tempo.
A minha própria vida de menino medonho levado da breca,
Como se se tratasse de uma bonita etapa anterior.

Uma seara aberta pela Várzea das Acácias
Povoada de rostos e singelos lugares advindos
Desde as quatro bocas onde a gente combinava
Os engenhos de um futuro passado a limpo,
A partir do presente que a vara quebrava e abria
Em tremendos toques na possante mira dos potes
Da fantasia esbaforida em tela viva pela Várzea
De Maria de Franco, de Carmozina e de dona Zidora Paulino...


Era como se o tempo parasse de repente
Além do chão-de-dentro do agreste verde
Quando ao dobrar a curva da rua grande
Uma disposta vida renovada a habitasse,
Depois das cantigas de cirandas em folguedos
Bem como nas quadrilhas de São João e São Pedro Apóstolo...


Enquanto Seu Nezinho divagava com a escuta
Do seu radinho-de-pilha direto da bodega de Seu Virgílio Pedro,
E num olhar perdido espiava pra lá da rua do Cruzeiro
Remoendo relíquias de um tempo distante,
Antes da quermesse de suas festas terem envelhecido
E o cintilante sol da tarde amena em queda-livre
Houvesse se precipitado no lusco-fusco do poente,
Ia e vinha fiando as memórias varzeanas dispersas
De uma alvorada desde o alto dos Rodrigues.


E a gente, movendo-se dentro da redoma agreste
desse espaço inacabado de Ana do Rego
– as minhas irmãs Lúcia de Fátima e Aldenira,
Astutas meninas que um dia foram,
E uma delas continua sendo, esperta pelos acordes
Dos sonhos de outrora, ao se portar bem apanhada
Em amizades sinceras a correr dentro e alto pela Várzea
De São Pedro Apóstolo, acompanhada pelas amigas
Marinalva, Rosário, Da Paz, Núbia de Benilde, irmã de Zé Dudu,
Das Neves de Xinene de Cícero Paulino,
Dispostas pelos extintos jardins das onze-horas
De dona Maria Orlanda de Seu Nestor, pai de Oliveira Jorge de Alexandria...


E, de tal sorte, assim corria uma inocência de beldroegas,
Espadas-de-São-Jorge, melões-de-São-Caetano, juncos,
Fedegosos e açucenas bem conferidas, teimando em trazer
O sol amar-elo de maio a junho, sem acabar com a estiagem
Da lida da Várzea de Ângelo Bezerra, requerendo a estação
Das chuvas que causavam as enchentes da seara do rio Joca
Que se inundava de festança, queima de fogueiras
E fogos-de-artifício, rojões, traques, canjicas, pamonhas,
Feijão-verde, favas, milho-assado, maxixes, batatas-doces,
Rodas-de-conversa e truques nas bancas de reis,
Comadres e compadres, bem como as rainhas de São João
Numa pra lá de distinta e animada quadrilha junina
Sob a égide de Seu Geraldo Anacleto, ou melhor, Seu Bita,
Filho da inesquecível madrinha Joaninha Mulato...

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