O MENINO JOÃO LUDUGERO MADURO, DEPOIS DE TANTOS SÓIS,
por João Maria Ludugero
Então, agora percebo, não só de manjar,
Mas jamais tranquei a vida em uma cela qualquer.
De retorno a um tempo qualquer,
Eu me acho menino levado da breca.
E ainda sou...
Apesar das recordações
Retidas no arquivo-vivo da memória:
Os sonhos da velha infância,
Os beijos do amor perfeito
Em peras, uvas, maçãs e outros lumes.
Os brinquedos, os amigos, as escolas, as professorinhas,
As corridas pela vargem a dentro, a pelada e o jogo de bola.
Os banhos no açude do Calango, no riacho da Cruz e de Nozinho,
A pescaria lá no rio Joca, com um magote de meninos
Junto ao Antonio Picica de Xinene de Cícero Paulino...
Depois de tantos sóis, depois de tantas luas,
Tantas coisas astutas, bonitas, engraçadas e coisas ousadas.
O pular de corda das meninas junto às duas palmeiras imperiais
De fronte à magnífica igreja-matriz de São Pedro Apóstolo.
A saia-de-chita rodada das faceiras meninas de cintura fina,
Sendo chamadas de pitéus pelo inesquecível Plácido 'Nenê Tomaz' de Lima.
O jogo de bolas-de-gude, bilocas e petecas na calçada da igreja,
Carrinhos-de-rolimã, amarelinhas.
Os três pedidos na contagem de estrelas,
As verrugas nascidas e retiradas na casca-de-banana.
Ficou combinado o futuro o que a gente queria,
Se um dia crescesse. E, de presente, ainda somos tão meninos.
Crescemos! Mas não cancelamos todas as chaves desse quarto.
Eram tantas tramelas e tantas fechaduras, que chegavam a sete.
E as deixamos em nicho da varanda do alpendre da casa do Vapor.
E as dispensamos num caçuá da história da Várzea das Acácias.
Mas aquela da outra sala-de-estar, no corredor da espeguiçadeira,
A da dúvida, de amortecer dores e a ilusão na corrente da lida,
Essa nunca a perdi, trago-a lacrada no cofre do coração.
Era uma só. Mas tão preciosa na peleja.
E, dia-após-dia, a tenho aqui comigo,
Acorrentada ao vão dos meus pensamentos,
Que me inspiram em bons ares, a correr dentro e alto,
Sem carecer de ser cabotino.
Eu, João Ludugero, um dos homens mais felizes da vida.
E, ao escrever, observo satisfeito, em como eu sou rico
E tão filho do Dono do Mundo,
Que chego a assanhar de vez
Até mesmo os pelos da venta!
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