SÉRIE: VÁRZEA-RN - UM CAÇUÁ DE SAUDADES,
Autor: João Maria Ludugero
Um bem-te-vizinho
Um canário-de-chão
Um Vapor de Zuquinha
Que já foi de Zé Catolé
Uma cantiga de galo-de-campina
Um beiju, uma tapioca, um grude de coco,
Umas soldas da prendada dona Carmozina,
Um bocado de paçocas, umas línguas-de-sogra
Uns bolos-pretos ou cuscuz de milho-zarolho,
Um alguidar de farofa-de-cebola-roxa misturado
Com temperanças de alhos, pimentas malaguetas e coentros,
Um flandre de raivas, carrapixos, cocadas, doces-de-leite,
Quebra-queixos, queijos-de-coalho, algodão-doce,
Além de tantos bem-bolados sonhos em papos-de-anjos
Esmiuçados por Suetônio de dona Zidora Paulino...
Um se degustar em peitos-de-moças e puxa-puxas
Em fartura de regalias em bolachas, brotes e sequlhos
Além das delícias dos pitéus de faceiras meninas varzeanas
Como senha de astuta e singela beleza entre tiaras e tranças
No inesquecível ditado de Seu Plácido 'Nenê Tomaz' de Lima,
Que agora mora no céu de São Pedro Apóstolo...
Uma alma sem corpo, um carro encantado
Uma mulher que chora(va) encostada num sanhaço só,
Um zumbido de abelha ou zangão,
Um coaxar de cururus e caçotes pelo riacho da Cruz...
Um ninho de anum a chocar no verdejante juazeiro
Lá na beira do rio Joca da Várzea das Acácias
Ou no paredão do açude do Calango
Ou pelas leiras dispostas pela seara do Riacho do Mel
Ou a colher um balaio de jabuticabas
Ou uma fileira de cajus, cajás, mangas
Ou um carregado saco de pitombas
Lá no Itapacurá de dona Julieta Alves
Ou no sítio da casa-de-farinha de tio João Pequeno...
Aonde a gente catava um caçuá de castanhas, macaxeiras,
Batatas-doces e um possante balaio de feijão-verde e favas.
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