VOO EM CORPOS, LETRAS E MADEIRA DE DEMOLIÇÃO,
por João Maria Ludugero.
Passatempo, vai esbugalhar as ventanias
E amadurecer as pitombas, cajus e mangas.
Debaixo das cerdas do dia há restos do ontem,
No bolso direito da camisa guardo o ruído
Das tramelas das portas se abrindo...
Faz bem ao coração um avental de cores
Ajudando as flores a se sentirem sagradas no amar-elo
E o esconderijo do balaio cheio de mangas mordidas pelos pássaros
E o fojo no fundo de um armário de madeira maciça
Na casa de uma desconhecida ao lado do vidro de aplausos
Em conserva trazidos de uma antigo jirau...
Foi abri-lo e um corpo de baile invadir a sala de estar em desate
Derramando-se pelas prateleiras cada um dos corpos
Como que saídos de uma terna árvore cinza de outono.
Um bosque sendo montado a partir de seus fragmentos;
Membros saltitantes, silhuetas encorpadas
Na perfeição austera dos nichos dos colibris;
O meu desejo contagiado pelos vastos murmúrios
Que dialogavam entre si, abismados com a realidade
Repentina diante dos olhos ainda se entregando
À dramaturgia das mudanças no chão de máscaras descascadas
Em faces recaídas que se refazem ao desvão da tarde amena,
A cada papel ensaiado e nas letras dos títulos o ingresso
À verossimilhança de libélulas brilhantes e fosforescentes
Sobrevoando os cabelos fartos das ventas e tranças,
Enredo a partir das manhãs reverdecidas que rondam a fruteira
E os insetos coloridos dançantes debaixo das axilas das meninas
Num coro de ninfas esvoaçando os ramos de teu mistério...
O capinzal do Vapor guarda uma tigela de incontáveis vertentes
Renomeio os temperos para que o milagre não se perca
Enquanto vestes uma nudez que soletra todos os voos.
Eu me aproximo sorrateiro de penumbras
Que são vestes de um espanto que se renova
A cada movimento de tuas nádegas a declarar!
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