VIA COSTEIRA, por João Maria Ludugero
O mar respira em Natal,
Um pulmão que não é meu
Ouço inchar-se no litoral,
Vasto se derrama na areia,
Devolvendo-se, por inteiro, sem regra,
De todos os lados, de cabo a rabo,
Esbugalhando-se na via costeira
Num perigoso acesso: — Nós
Não temos história e, ainda
Que tivéssemos, nada é nosso
Nesta cidade do sol, de números,
Cifras ao meio, senhas sem milagre,
Nada é nosso, muito menos tudo
Neste corpo que se banha insosso
Em inenarráveis promessas ao desvão
E se encanta com as sílabas dispostas
No ofuscante azul que reforça o oceano,
Sou feito rio a desaguar em profundo murmúrio vertente
Que espera seu arremedo aos berros e beiras
Com eterna paciência na careca do morro
Da bonita e colossal Ponta Negra!
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