AFIAMBRADO POEMA CANIBAL,
por João Maria Ludugero.
Só de manjar,
Olho por olho,
Dente por dente
Olho no umbigo
Sebo na barriga
Pitéu voraz na pele
Em carne e osso
No poder da língua afiambrada
A descambar do curtume insosso
É pro seu bico a carne viva
De cubar o encharcada víscera
Este é o nosso costume
A consumação à torta e à direita
De todos os lados a correr dentro
Eiras, cabos, rabos e orelhas
Beiras, línguas afiadas no céu da boca
Das pessoas a quem escolhemos amar.
Tabu da carne: intumescida na tábua
Genitália, músculos, mamilos
Escroto, a vulva em arestas
As solas dos pés descalços
As palmas das mãos eretas,
Fígado e coração deliciosos.
Nesse diapasão, entre perdas e danos,
Acha-se que o canibalismo seria uma bênção.
Quando se passa a usar maxilares
Vorazes quebra-queixos encarnados,
Veias vertentes, aortas e capilares,
Em volta do pescoço ou pomos
Ouvir suas vértebras em ponta de agulha,
Osso por osso, adereços sem regalias
Dançando no meu pulso de fascinação
Seus dedos num cinto de castigo
Em torno do cabresto de Vênus
Num vigoroso abraço íntimo.
Prato do dia: coração a passarinho!
Sobre o peito suado um pingente
Uma trança do seu cabelo em transe.
Noites eu dormirei embalando
Seu esqueleto afiando a gosto o intuito
Os dentes no seu máxime riso desdentado.
Aos domingos, missa e comunhão, sem espanto
Aí então colocarei suas relíquias aos bofes
Num nicho para repousar
Depois do quebranto. Zás!
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