Mormente aqueles bem guardados no interior.
Recordo-me do sítio de seu Zé Canindé,
Onde ele tinha uma casinha caiada
Onde ele tinha uma casinha caiada
De portas e janelas azuis,
Um jardim de girassóis a onze-horas,
Um curral e uma casa de farinha de mandioca.
Parece besteira lembrar dessas rusticidades.
Podendo até, para alguns, isso soar piegas,
Mas ainda guardo comigo o privilégio
De tê-las vivido, e ora poder ter o prazer
De acentuá-las ao escrevinhar esta poesia
Assim tão repleta dessas coisas simples
E suas pobrezinhas essenciais
A recender os aromas da terra
A recender os aromas da terra
Junto ao canto do curió nos galhos em flor.
Assim, saudoso, reinvento meus passos,
Sob o escaldante sol da minha Várzea,
Como quem evapora de mansinho seus longes
Junto aos cheiros da casa-de-farinha
Pelos confins da estradinha de chão,
Que só era cortada pelo rio Salgado,
Riacho de águas tão mornas,
Cheinho de piabas e jacundás.
E lá íamos eu e minha avó Dalila
Que me levava à travessia do rio,
Muitas vezes montado em pêlo no lombo de um jegue.
E, como num toque de mágica, num piscar de olhos,
Aparecia um magote de moleques.
E o banho de costume logo se transformava numa festa,
Onde a gente lavava a alma, digo a potra. Arre égua!
E era assim sempre que buscávamos os bisacos de farinha
De mandioca, beijus, tapiocas e batata-doce.
E, de tal sorte, toda vez que escuto esses cheiros e ruídos,
Eu me ajeito num cantinho a ruminar, e matuto, sim,
Me apanho a escrever sem me 'pre-ocupar' com as rimas.
Sinto-me tal qual aquele menino travesso de outrora,
Empolgado que só vendo, a contemplar o jeito de mato
Da minha acanhada prima Vera, afilhada do velho Zé Canindé (Cá pra nós, mas lá todo mundo era primo da gente,
Alegava meu pai, mesmo que não houvesse laços. E ficava por isso o vínculo, o parentesco, mesmo sem nunca ter sido).
E agora, confesso aqui com todas as possíveis letras,
Que me sinto o mais rico dos homens,
Porque ainda posso escutar o curió
E outros passarinhos a cantar e, até me atrevo,
A sentir, e sinto, um exalar de manjeronas e alecrim,
A sentir, e sinto, um exalar de manjeronas e alecrim,
Ao colocar um pé naquele tempo fantástico,
Ainda encantado a tocar minha mão buliçosa
No corpo daquela moça de sorriso maroto,
Que me enlevava na colheita dos ovos.
E como era bom brincar com as galinhas!
Ora, ora, não há como dizer com palavras
Ora, ora, não há como dizer com palavras
Como havia doçura no semblante daquela donzela.
Como eu queria seus braços, seu jeito, sua boca.
Como não posso voltar ao passado, insisto,
Como não posso voltar ao passado, insisto,
Em deixar a saudade falar nos meus versos. E ponto.
Fantastic post!
ResponderExcluirComo é bom reviver gamas de sentimentos vindo de um pretérito nada longínquo. Lindo texto!
ResponderExcluirCaro João Ludugore,
ResponderExcluirAchei este poema sensacional, interessante visto de todos os ângulos, de alto a baixo, tudo impressiona em sua originalidade de dizer coisas simples assim tão fascinantemente. Que agilidade com as letras, que vida e cor que pintas nas palavras acesas, vívidas! És um tremendo mago das letras, viu? Acredite. Fazia tempo que não encontrava um texto escrito com tanta significância, pintado à mão com alma e pulsar de coração. Obrigado,poeta, és grande em sentir! Forte abraço. Adorei vir aqui. Voltarei.
Luiz Dimitri Gonzaga Sanches-Belo Horizonte/MG.
Sim, gostei de ver as tuas raízes.
ResponderExcluirMega-abraço
Tenho passado... Gosto desta forma livre, as rimas não são precisas, a beleza nasce em cada linha.
ResponderExcluirSó para constar, estou com o meu blog parado,
Abraços...