O DRAGÃO QUE ME GUARDA
Autor: João Maria Ludugero
Não sou aquele homem
Do campo na aridez
Das coisas do agreste,
Que na sua crendice
Arrisca seus credos
Na lida do tempo a olhar
Pro céu pesaroso, crédulo,
Antes de plantar suas sementes.
Não prevejo tempestades,
Não faço o céu se abrir
Em raios e trovões,
Pode parecer estranho
Meu modo de adivinhar
Quando vai chover,
Cair a tromba d'água
Cheia de céu,
Mas deve ser por venerar
Meu amigo monstro, um dragão indomável.
Essa força que vela meu sono,
Que me dá identidade,
Lança, armadura e espada.
Que me torna impávido,
Dormindo ou acordado.
Sei que trago comigo
Esse possante dragão
Que me faz batalhar,
Que me deixa de sobreaviso
Sempre alerta, de pronto,
Que bebe a chuva no ar
Antes da chuva desabar
Cheia de céu.
Eu tenho dentro do peito
Esse ser que dança, adulto criança,
Que chora, sorri e canta
Que me dá asas
E poderes mágicos
Que me dá azo e esperança
Com seu hálito de fogo
A oxigenar a carne viva
Do meu coração,
Gerando um sentimento
Que se inflama e escorre
Que se derrama em lavas
A desentupir veias, vasos e capilares.
A cuspir fogo pela boca,
Pelos olhos, narinas
Pelos poros e pelos
Por todo corpo sangrando
Quente na epiderme.
Esse dragão tem nome próprio.
E é ele que me dá sentido
Para enfrentar a fera vida, dia-após-dia.
A esse dragão eu chamaria de Amor,
Um sentir certo vigor estranho e sublime
Que me impele a lutar e a viver,
Que me tira do tédio
Na batalha contínua
Para me salvar das garras
Da nada inocente moça,
Ela que não mais me engana,
Apesar de tentar me seduzir, pondo-me à prova
Que não se contenta, sem que me prenda,
Que me algema com seu beijo fatal.
Ela que deseja comer meu fígado e coração.
Careço me aliar a esse dragão
Pra me proteger dessa moça vestida de santa.
Ela sim, predadora voraz, afia suas farpas
Só pra depois, na unha e e no dente,
Devorar meu animal de estimação. Verbi gratia,
Ela até já aprisionou até São Jorge na lua, levando-o
Ao degredo, donde nunca mais saiu com cavalo e tudo.
Mantenha sempre esse dragão dentro de si, poeta Ludugero.
ResponderExcluirÉ seu, como é seu o dom da escrita.Vale a pena.
Abraço amigo e bom fim de semana.
Andei zapeando seu blog. Belo trabalho, poeta. abraço!
ResponderExcluirMeda dessa moça! Ainda bem que sou imune a moças, ams vc não né? Então meu amigo o mesmo dragão que te defende, ora ou outra vira suas chamas pra vc e te torra. Amor é assim, salva e queima.
ResponderExcluirMuito, muito bom poema, aliás todos os seus
Beijos!
Lindo, João!!!
ResponderExcluirEstou aqui boquiaberta!!! E tudo tão cadenciado, uma delícia de ler...
Sou do interior, mas sou bobo não, né moça?!! rs
Mas, me ficou uma dúvida: a tal perigosa moça que aprisionou São Jorge na Lua não levou também o dragão que vemos lá com ele a lutar?
Bem... De qualquer forma não pode ser o mesmo dragão, não é mesmo?
Pronto, já sou sua fã!
beijocas-fascinadas