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sábado, 16 de maio de 2015

TALHADAS DE VARZEANIDADE, por João Maria Ludugero

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TALHADAS DE VARZEANIDADE,
por João Maria Ludugero

Foi para ti
Que desvendei a mulher que chorava
Com uma trouxa de roupa na cabeça
Para ti soltei o encosto da Várzea
Toquei na Vargem do rio Joca
E para ti foi tudo mergulhar no Riacho do Mel,
A adocicar meus sonhos acordados...
Para ti juntei tantas e quantas palavras
E todas me consentiram a correr dentro da lida,
A soltar meus bichos pelo vão do Vapor de Zuquinha
Num átimo de segundo em que dei Formas ao Gado-Bravo,
Os Ariscos se carregaram de cajus e mangas,
Num vasto balaio com sabores do Itapacurá.
Para ti fiz cantiga de bem-te-vizinho ou sanhaço só,
Às minhas mãos abriram o formoso mamão maduro
Reabri os gomos de varzeanidade astuta, sem enfado,
Ganhei o mundo a partir das quatro-bocas
Da seara abençoada por São Pedro Apóstolo
E pensei que tudo estava em nós desatados...
Nesse doce enlevo de cabra-da-peste,
De tudo sermos possuidores
Sem nada termos a contento
Simplesmente porque era madrugada
E estávamos diante da mulher que chorava,
Enquanto eu deitava em teu abraço
Para me procurar no coração partido...
E antes que a escuridão nos enlaçasse ao Vapor,
Nos cingindo a cintura pelo chão-de-dentro da lida,
Ficávamos com os olhos marejados de saudades
Vivendo feito um sanhaço só a se deliciar
Numa formosa talhada de mamão maduro.



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