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sábado, 16 de maio de 2015

O VAPOR VARZEANO, por João Maria Ludugero


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
O VAPOR VARZEANO,
por João Maria Ludugero

Mas que cheiro de cajá é esse, menino?
ah. que cheiro de caju é esse Pasqualino?
É tempo de pitombas, é tempo de jabuticabas....
ah, que cheiro de mato verde é esse Zuquinha?
E esse cheiro, com certeza, deve ser o aroma
que desce da casa grande do Vapor, lá do alto,
com seus gansos e pavões, 
suas penas coloridas, seus jardins e arvoredos, 
seus açudes e riachos.
Quiçá do Itapacurá, do Arisco, 
dos melões e das melancias, será?
não seria lá das bandas dos Seixos de Seu Onélio
ou das castanhas de caju assadas
lá dos Seixos de Dona Santina,
ou quiçá das bandas de João Pequeno?
Cheiro de terra molhada das bandas 
do matadouro, cheiro de curral.
Alegria de varzeano é plantar batata-doce 
às margens do rio Joca,
É fazer roça e roçado, 
quando começa o tempo da invernada
É fazer coivaras e encoivaradas, é semear a vida
É fazer plantio de feijão, milho, algodão, jerimum e macaxeira
Alegria de varzeano é ter maxixe plantado, batata-doce e fava
lá no roçado ao largo da Fazenda do Vapor da família de Zuquinha.
Alegria de varzeano é descascar mandiocas,
É fazer farinha, farinhada, prensar mandioca-mole,
É fazer beiju, grude de goma, mas que cheiro é esse de tapioca?
Alegria de varzeano é plantar batata-doce e macaxeira
É ver a enchente do rio no tempo da invernada...mas que espectáculo!
O trovão troveja tudo, balança todo o coqueiral lá do rio da Cruz.
Relampeja até no topo da igreja de São Pedro... Valei-me, Deus!
E a gente tomava banho de chuva no meio da rua, na dança da chuva.
Choveu de madrugada, encheu o açude do Calango.
Serenou a alegria da morena varzeana. E lá tem gente bonita!
O tempo passou. o tempo bom trouxe os cheiros e os temperos
o tempo trouxe lindas morenas Marinas, marinheiras Izabelas,
traz a beleza estampada no sorriso de Iane Santina,
E a juventude de Terezas Gabrielas, dentre tantas outras belezas,
Que trazem no sangue o cheiro da terra varzeana,
O cheirinho de erva-doce, de cravo e de canela.
Eta, cheirinho gostoso, de pamonha e de canjica!
Ah, veio a lembrança do Seu Bita, 
a puxar sua quadrilha de São João,
Anarriê, Viva São Pedro! Que beleza!
Dona Zilda pega um terço rotineiro.
Dona Wilma reza uma prece primeiro.
Dona Risolita doa um garrote ao padroeiro.
Dona Alba Albanita tece com zelo 
o manto para a procissão de São Pedro.
Dona Palmira Teixeira e seu Adalberto 
alegram-se com a festança.
Enquanto Dona Penha abraça Seu Olival, 
todos com nova esperança,
É tempo de invernada, é tempo de alegria!
Sem esquecer de Dona Onélia que encantava com sua cantiga
pra ninar o sonho de Janilza, além de rezar sua reza forte
para achar e desencantar objetos perdidos.
Dona Julieta, Vó de Edileusa, 
estrelava na banha do tacho tantos ovos caipiras,
Enquanto Dona Lídia de Seu Louro 
preparava Simone para coroar a Santa
Dona Maria de Cícero cego sanfoneiro tirava a poeira da sanfona
Dona Maria de Seu Odilon preparava a novena para receber a Santa desatadora de nós. Ave-Maria, Cheia de Graça! Rogai por nós!
E a vida passa. E as pessoas passam na vida da gente.
A enchente do rio passa. E a gente atravessa, 
porque a vida é uma travessia.
E temos muito pouco tempo pra sonhar.
Mas Cícero cego sanfoneiro, nem clareou o dia, 
tocou um forró maneiro
e anunciou que a vida é passageira, mas vale a pena ser vivida.
Senão a gente dança...
Mais uma jornada, Mais uma fornalha, mais uma farinhada
Mais um dia de lembranças, 
mais um dia pra viver a vida que a gente quer
mais um dia pra cuidar...da vida.
Saudade,
Eu tenho um açude no meu peito
Que é quem rega esse eito de carinho
Pra de noitinha você nele se banhar...
açude do Calango.
Tenho um rio no meu peito,
Que é quem rega esse eito de carinho
Pra de noitinha você nele se banhar...
rio Joca.
Tenho um coração partido, sem partido,
Que é quem rega esse meu peito de saudade
Que não me separa nunca das pessoas 
que lá deixei naquele lindo torrão,
minha Várzea, meu amor.

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