autor: João Ludugero
essa gente da minha Várzea,
que tem cheiro
de capim de cheiro
tem aromas de ervas finas
de ervas do campo
de cravos e marmeleiros,
tem água benta, tem fé
tem romã, tem pimenta,
tem manjerona, tem alecrim
tem polvilho, goma fresca
para fazer sequilho e tapioca
há varzeanas cheias de prendas
tem Marinam de Lica
a fazer seus quitutes
a fazer suas iguarias
de encomenda
ou pra vender na feira,
elas trazem a vocação
de arar sonhos
de amar e de colher liberdade
ainda ao amanhecer
elas trazem nas costas
o por do sol
nos olhos, na pele
na tez dos ombros
elas trazem a barra do tempo,
desdobram-se
adentram as trilhas
dos dias pesados
tecem
com sisal e fibra
alinhavam, costuram
pintam, bordam
fuxicam colorido
disfarçadas de flores
declaram guerra
ao medo de viver
essa minha gente
traz na face a coragem,
não tem medo da sina
de encarar o batente
gente-gente que arrebenta
e não esmorece na lida
ao dar rasteira na tristeza
num piscar de olhos,
eu boto fé nessa gente,
que não espera a sorte chegar
destemida vai lá, acredita e faz
sem precisar chorar
as favas contadas
nem o leite derramado
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