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quinta-feira, 10 de junho de 2010

PERFUME DE MUÇAMBÊ

autor: João Ludugero

pela estradinha de terra
ali ao lado da Vargem
passei sebo nas canelas
corri junto com os borregos
cheguei ao sítio de Zé Canindé
lá chupei cana-caiana
bebi água de cacimba
namorei com a paisagem
à sombra do juazeiro

sentei para descansar
e admirar a beleza
que se alastra em tons de verde
desde o chão de muçambês
que se expande em minha Várzea
que não se expira no olhar
que encanta o sabiá

meu cantar não é de dor
mas pode ser de saudade
saudade do meu lugar
uma vez que estou distante
léguas e léguas de lá,
mesmo assim, imagino
vejo flores em cada canto
e sinto o cheiro da terra
muito além das macambiras
onde correm os preás

viu meu bem,
o que lhe digo, de fato

o que mais quero lhe mostrar
como é bonita a natureza
que verte, que ganha vida
que muita vida nos dá
coisas simples
casas simples
gente simples
maior riqueza não há

Oh, minha Várzea,
quanta saudade eu carrego
que enche meus olhos d'água
asseguram que homem não chora
esse ditado eu bem nego,
pois já me debulho em lágrimas,
fico assim penduradinho
no desejo de te ver, sempre
de poder te espiar, de perto,
fico troncho é de vontade
de correr pr'o teu abraço
triste o coração lateja,
parece sair do peito,
e apronto uma cantiga
na roça dos teus sobejos
que margeia o rio Joca
nas cacimbas dos teus beijos

doce é pensar em ti,
vê-la de flor em flor Vapor afora
ter a flor e não a colher
resignado, deixá-la em seu lugar
a enfeitar o altar da minha sina
a perfumar a vida do meu lugar
minha Várzea das Acácias,
suplico, dê-me apenas
um bocadinho assim,
um pouquinho ainda que seja
conceda-me um gole d'água
pra amenizar minha sede,
seja na cuia ou cabaça,
pois a sede que me mata
é uma saudade d'ocê!

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