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domingo, 6 de junho de 2010

AGUENTA CORAÇÃO!

autor: João Ludugero

Chegou o temido dia,
numa fria manhã de maio findo
eu fui desacordado,
por instantes parei a vida
e tudo pareceu morrendo em lentidão
as horas, o sonho e o pesadelo
tudo engrossou na seiva das minhas veias
eu me olhei no espelho e,
por um instante, tive medo,
achei pesado demais o tranco

minha  dor de coágulos inevitáveis
tomou um anestésico geral, um sedativo
adormeci de imediato, perdi o chão
deixei-me levar pelos acordes
da minha vontade enorme de viver

naquele instante acreditei
que retornaria, pois tinha uma missão a cumprir,
ir-me naquela hora a quem interessaria?
não, não  ainda,pois  havia comigo tanta semente.
tanto sonho a ser plantado
minha voz já cansada ficara rouca,
mas não perdera sua força,
escondera-se apenas no cantar da natureza varzeana

acordei envolto em fuligem de nuvens esfiapadas, imparáveis
agarrei-me nas palavras do meu poema
estas mesmo adormecidas, estancaram o aneurisma
numa plastia aórtica perfeita,
e o sangue percorreu-me as veias
reacendendo meu tambor da vida
meu coração que parecia mudo, parado
gritou no silêncio das noites desesperadas
e rasgou sentimentos com bisturi,
a partir dali aprendi a dar novo sentido à vida

e na ânsia louca de me ver sarado,
agora deixo o tempo correndo na sua lentidão-terapia
agora pretendo tirar o pé do acelerador
quero viver um dia de cada vez, intensivamente
quero tirar sabedorias das coisas simples
quero tirar proveito dessa dádiva, desse presente de Deus

e não abro mais mão de viver a vida
não quero transplante, pois já tenho um coração recauchutado
eu preciso com tamanha força medir as batidas do meu amor,
e, agora doutor, dê-me licença, permita-me dizer
quero viver por muitos muitos anos...
agora que abri meu coração
desatei linhas, costuras, tirei pontos e nós
abri meu coração, sem nenhum medo

de começar de novo a sonhar, nesse mundo de Deus!

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