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quinta-feira, 10 de junho de 2010

A RIQUEZA DE SER VARZEANO

autor: João Ludugero

criei-me entre ventos
ventanias, 

rios, riachos de mel
campos e vapor
de tabuleiros, 

entre arados de roçados 
entre flores e pendões
entre açudes e calangos

por esse  motivo, 

acho que meu canto traz
sussuro de pássaros
de pintassilgos
de sabiás e bem-te-vis
de canários de chão
 

a minha poesia
traz as cores vibrantes

do esplendor da aurora
e a partitura adocicada
das frutas bicadas

pelos passarinhos
à sombra dos quintais
da minha pequena Várzea

enquanto o céu 

da tua boca sazonal
guardar
o sabor esperado
dos cajus
das mangas dos ariscos,
da resina dos cajazeiros
do caldo de cana dos Marreiros,

desfio estes versos
que instauram paz
de alvoradas preenchidas
sob o clarão 

aberto  pela  luz  desse sol
que alumia o sítio dos Quilaras
que caminha por trilhas agrestes 

e desce para o Umbu
 

claridade não há de nos faltar
nem mesmo no chafurdar
das enxadas
a preparar os leirões,

a epiderme da terra,
aonde germinam
adormecidas sementes
que brotam ávidas em espigas

em favas, em ramas
nas roças do rio Joca,
além dos candeeiros enferrujados
pelo mijo insone
de antigos vaga-lumes
do Vapor de seu Zuquinha

é isso que meu canto traz
boas-novas, alvíssaras,

desde ontem
porque
criei-me entre ventanias
bebendo água de cacimba
dos riachos das veredas,
percorrendo tabuleiros em flor,
como quem habita um paraíso,
num lugar que faz o coração
da gente querer muito mais ser
do que apenas ter ou possuir bens

porque o bem maior que a gente tem,
que é de cunho essencial,

mora lá, na vida simples
de quem lá mora, de fato,

e evidencia-se 
sob o teto de cada casa caiada,
onde a razão de ser simples 

está no provimento de bem-estar  
bem no meio desse ambiente
que traz  o suficiente
para nos encher o peito
e se orgulhar desse mundo
onde a riqueza maior é  
poder dizer: - sou varzeano!
 

é não cruzar os braços à sorte
é arregaçar as mangas 
é lançar o anzol e apanhar o peixe

é poder ser simples assim,
é ainda poder sonhar acordado

e concordar, no final das contas,
e acreditar, pensando bem,

no retinir do martelo,
que nós é que somos
ricos de verdade!

Um comentário:

  1. Adorei, mais uma vez vc arrasou poeta João Ludugero! Linda poesia. Interessante como vc tem o dom de engenhar as palavras para compor versos simples e fantásticos!
    Captou bem e mandou melhor ainda com sua poesia que eleva o interior. Muito legal. Nota dez!
    Att,
    Lúcio Antonio Di Pietro
    UnB - Brasília

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