autor: João Ludugero
morena, vida morena,
pele da cor do pecado
de sol a sol
se eu pudesse
longe não existiria
ficaria só na rede
de sisal a balançar
nos alpendres
lá da minha Várzea
enveredar-me
pelos ariscos
nas cacimbas
nos açudes
a gente ia se banhar,
furtar-cores do Calango
depois de mel
lambuzar
teu corpo pelos riachos
me achar na tua
vertente
percorrer as tuas veias
me achar ou me perder
feito borrego
desgarrado
e faminto
dos teus seios
de umbu-cajá
se por acaso eu tivesse
uma bateia dourada
iria te garimpar,
nas águas do rio Joca
que outro ouro eu acharia,
minha estrela-pepita
minha estrela da manhã,
sou rico só de ter
um bocadinho d'ocê
nuns farelinhos de poesia
que acabo de fazer
que caem do firmamento
toda vez que tua boca me guia
toda vez que abres a boca
a me levar direto ao céu
de uma coisa eu sei
é doce ter o teu beijo
é belo te olhar por dentro
ah, se eu pudesse engarrafar
a luz dos teus olhos um dia
junto com a água benta
eu ia fazer uma garapa
bem doce, bem docinha
daquela de arripunar
'pra mode' beber todinha
me consagrar
me embriagar
num manancial de alegria
e aí, morena, vida morena,
não pare pra pensar tanto,
que outra sorte eu queria
se todo dia seria dia santo,
todo santo dia, pra mim
que nunca fui santo!
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