EU CAREÇO URGENTE DE UM FRUTO SEM A PECHA DE PROIBIDO (Sem neuras, antídotos ou papas na língua)
Autor: João Ludugero
(Ilustração: Jardim das Delícias - Bosch)
Eu careço urgente de um fruto
Sem a pecha de proibido,
Que me encete a arder
A alma antes do estanque,
Que não me extinga a sede
Em promessas mirabolantes,
Em promessas mirabolantes,
Que não me faça estátua de sal
Ao olhar para trás,
De súbito,
De súbito,
Que não somente
A pena me adocique,
A pena me adocique,
Que não me cure só pra ser
Mais um simples mortal.
Laico ou lascivo, eu preciso me pintar
Ao pintar o sete no arco da tua íris, de certo
Abortar nossoutros medos reticentes,
Deixar o diabo de quatro pasmado
A se perder num raio que o parta ao meio,
Fazer o danado sentir-se insignificante,
Encurralado ao ponto de se sentar
Contorcendo-se em cima do próprio rabo.
Mas nem por isso, vou deixar
De degustar a maçã,
Vou esculachar a serpente, de vez,
Apertar suas presas num cadinho,
Instilá-la a provar do próprio veneno,
Macerando toda essa ideia de pecados.
Comê-los sem culpa, assim e assado,
A se perder num raio que o parta ao meio,
Fazer o danado sentir-se insignificante,
Encurralado ao ponto de se sentar
Contorcendo-se em cima do próprio rabo.
Mas nem por isso, vou deixar
De degustar a maçã,
Vou esculachar a serpente, de vez,
Apertar suas presas num cadinho,
Instilá-la a provar do próprio veneno,
Macerando toda essa ideia de pecados.
Comê-los sem culpa, assim e assado,
Com temperança, afastar os ranços.
Rasgar o verbo e a escrita,
Oito ou oitocentas vezes, se for preciso.
Rasgar o verbo e a escrita,
Oito ou oitocentas vezes, se for preciso.
Virar o mundo de ponta à cabeça
Só pra provar de todos as delícias,
Sem juras nem dietas, de modo
Sem juras nem dietas, de modo
A transitar entre opostos, a gosto
Mesmo que ao fim do juízo diverso
Venha o apelo à sentença imposta.
Venha o apelo à sentença imposta.
Quero me permitir agora-já, sem frescuras,
Ser lúcido, louco, ávido, sem placebos,
Ser lúcido, louco, ávido, sem placebos,
Até que a vida me detenha impávido.
Justo eu que há tempos não me embriago,
Aqui botei pra rasgar na dose,
Sem chicoteamentos,
Sem chicoteamentos,
Me escancarei a entornar
Conscientes licores,
Conscientes licores,
A me embriagar em tragos de Poesia.
Poesia que me faz esquecer
De morrer tão cedo,
De morrer tão cedo,
Que não me deixa à mercê
De nenhum cianureto,
De nenhum cianureto,
Muito menos dos frascos de estricnina
Que a tal moça suicida largou lá em casa.
Se é pra viver,
Que me venham os cabelos brancosDeixa eu morrer de velho!
Que me venham os cabelos brancosDeixa eu morrer de velho!
De preferência a me lambuzar inteiro,
Sem neuras, antídotos ou papas na língua,
Quero ser arauto verbal dessa força
Que jorra aos quatro cântaros
E não se prostra
Sem neuras, antídotos ou papas na língua,
Quero ser arauto verbal dessa força
Que jorra aos quatro cântaros
E não se prostra
Ao arranhar o céu da tua
Boca nunca insossa,
Boca nunca insossa,
Quando esplêndido me deleito
Na panaceia do teu colo,
Na panaceia do teu colo,
Apreciando o fruto
Não proibido do jenipapo.
Não proibido do jenipapo.
Eu completamente embriagado,
Mas de Poesia,
Por todos os lados.
Mas de Poesia,
Por todos os lados.