A PROCISSÃO
Autor: João Maria Ludugero
Eu subo apressado a rua grande
Eu desço muito espantado
E quase sem ação, aflito,
Pasmado, estupefacto
Com as idéias confusas,
Atordoado, perturbado, atônito
Eu atravesso a Brasiliano Coelho.
Eu vejo a imagem de São Pedro
No topo da igreja-matriz,
Sem reparar que o Santo está
De costas para a rua do arame.
Mesmo assim, ele olha por todos!
Eu sigo pelos becos
Eu chego à rua da pedra,
Eu entro na barbearia do Arlindo
Eu me vejo forte e belo, não fraquejo
Diante do espelho,
Eu comigo, de frente e verso,
Cara a cara, enfrento-me
Ante a indefinição da imagem,
Em face da dubiedade
Nele refletida.
Num abrir e fechar de olhos,
Num curto espaço de tempo
Num átimo, torno-me velho,
De repente, no preciso instante
Dos fogos de artifício
Em dia de veneração
Chego ao fim da procissão
E acendo as luzes da da minha Várzea.
E agora, onde vou, o que sou
Eu? marcho adiante, crédulo,
Rezo baixinho a São Pedro
Olhando para o topo da igreja,
Vejo o santo apóstolo pescador
Com as chaves nas mãos
Pronto para abrir as portas
Do meu coração de poeta.
E lá vou eu segurando o andor
Transportando a mãe de Deus.
Eu sigo pelas ruas de Várzea,
Atravesso a multidão
E sozinho, sem piedade,
deixo aos pés do altar,
Sob o olhar da Virgem Maria,
A minha velha face.
E a esperança amiga se renova.
E, então, cadê o vigor que era verde?
O vapor desabou em mim?
Nunca se evaporou nossa coragem.
Logo, meu coração antigo e a velha face exposta
Ambos caem de maduros aos pés do santo,
Que, de pronto, abençoa o cortejo.
E assim segue a procissão.
Prossegue a vida numa série de pessoas
que seguem umas atrás das outras.
E assim a vida varzeana continua
Prosseguindo na sua fé santa
Cuidando do andor das horas
No andar dessa minha gente
Que acredita, que luta e
Ainda renova suas esperanças,
Com a certeza de que melhores
Dias virão para a nossa Várzea!
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