autor: João Ludugero
meu bondoso apóstolo
padroeiro da fé varzeana,
renove nossas esperanças
realize nossos sonhos acordados
interceda junto a Deus
mostre-nos o caminho das pedras,
para que flores apareçam na estrada
dando-nos margem
para uma vida pacata,
saudável e bem-aventurada
vou acender uma fogueira
atar laços profundos na sorte;
reacender a chama alegre da lida
afastar as cinzas tristes do dia-a-dia
desatar os nós antes do corte
oh, São Pedro pescador,
eleva meu pensamento aos céus
além das velhas palmeiras,
proteja essa gente hospitaleira
que habita nas margens do rio Joca,
ensina-nos a ser ricos na fé santa
orienta-nos a guardar a algibeira
e não zombar de ninguém;
cada qual faz a fogueira
conforme a lenha que tem
“Se não levarmos a poesia e a beleza conosco, é inútil percorrermos o mundo. Em nenhum lugar as encontraremos.” (Emerson)
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quarta-feira, 30 de junho de 2010
terça-feira, 29 de junho de 2010
MEU BORNAL DE SEGREDOS
autor: João Ludugero
lá no meu Varzeão
tem disso sim, senhor,
pelas barbas de São Pedro,
nem carece de juiz ou testemunha,
os padrinhos e os compadres,
no mais completo respeito,
as madrinhas e as comadres,
se consagram, dito e feito,
na fogueira de São João
meu Varzeão do bornal de segredos
das lendas da mulher que chora
e do carro encantado
que some, no coqueiral se e-Vapor-a
no instante de um piscar de olhos,
dos papos na boca da noite
dos vizinhos nas calçadas
a jogar conversa fora
lá no meu Varzeão
tem disso sim, senhor,
pelas barbas de São Pedro,
nem carece de juiz ou testemunha,
os padrinhos e os compadres,
no mais completo respeito,
as madrinhas e as comadres,
se consagram, dito e feito,
na fogueira de São João
meu Varzeão do bornal de segredos
das lendas da mulher que chora
e do carro encantado
que some, no coqueiral se e-Vapor-a
no instante de um piscar de olhos,
dos papos na boca da noite
dos vizinhos nas calçadas
a jogar conversa fora
minha Várzea das noites
de lua cheia a se derramar
no açude do Calango,
das redes armadas
de algodão ou de sisal,
nos alpendres das casas caiadas,
aguardando a maxixada
com quiabo e jerimum
minha terra da canjica,
de lua cheia a se derramar
no açude do Calango,
das redes armadas
de algodão ou de sisal,
nos alpendres das casas caiadas,
aguardando a maxixada
com quiabo e jerimum
minha terra da canjica,
do bolo de macaxeira, mel
do papo de anjo, batata-doce,
do papo de anjo, batata-doce,
do milho assado na brasa,
da farofa de feijão verde
da farofa de feijão verde
da manteiga-de-garrafa
do mungunzá ao coco catolé,
do mungunzá ao coco catolé,
dos manjares que trazem gosto de céu
e, pelo meio da semana, de quebra,
pirão de peixe escaldado, pitus
caranguejos guaiamuns, aratus e siris
além de outras iguarias e pitéus
de dar mesmo água na boca
daí me vem de repente
aquela boa lembrança
dos tempos de Seu Antonio Lunga,
ai que saudades que sinto
da Várzea da minha infância!
e, pelo meio da semana, de quebra,
pirão de peixe escaldado, pitus
caranguejos guaiamuns, aratus e siris
além de outras iguarias e pitéus
de dar mesmo água na boca
daí me vem de repente
aquela boa lembrança
dos tempos de Seu Antonio Lunga,
ai que saudades que sinto
da Várzea da minha infância!
segunda-feira, 28 de junho de 2010
VARZEANO, GRAÇAS A DEUS!
autor: João Ludugero
oh, minha Várzea querida,
solo de São Pedro apóstolo,
vale fértil da cultura,
terra de Gabriela Pontes,
terra de Gabriela Pontes,
saber de ti em festa
me alegra o coração
meu espírito inquieta-se,
faz minha alma acender
a batizar minha vida
a atiçar a saudade
que me arde
qual fogueira de São João
de uma coisa eu sei
se teu amor serenoso,
fosse cacimba a minar
nas tardes do rio Joca
por certo teria o gosto
da lágrima salobra
que escorre no meu rosto
por teu amor desejar
vertente água corrente
lavadeiras de repente
vão minha alma estender
levar meu couro ao curtume
me pendurar no varal
me vestir de lindo azul
sob um lindo céu de anil
quero poder fazer versos,
livre poder me orgulhar,
correr solto em tua Vargem,
se fosse também açude
sangrando já estaria
vazante, Calango cheio
na mais completa alegria
sábado, 26 de junho de 2010
SEM SINTOMAS DE NARCISO
autor: João Ludugero
observando-me
no espelho d'água,
afoito mergulhei fundo
no açude verde-musgo,
mas não deixo a miragem me levar
eu retorno para respirar ares novos
encho o peito,
estufo a alma
eu pinto o corpo,
dou-lhe cores novas
eu me dou flores em vida
estou cada vez mais vivo,
sou um novo João de cada dia,
renasci sem sintomas de Narciso
não me afoguei no Calango
não me disse adeus tão moço
mesmo entorpecido, sobrevivi
não quis morrer tão cedo
tão moço ainda eu persisto,
estou aqui, de coração inteiro
ora elaboro meu banho
de aromas e cheiros
eu não me canso
de achar bonito
de achar belo
o que antes achava
que fosse feio em mim
observando-me
no espelho d'água,
afoito mergulhei fundo
no açude verde-musgo,
mas não deixo a miragem me levar
eu retorno para respirar ares novos
encho o peito,
estufo a alma
eu pinto o corpo,
dou-lhe cores novas
eu me dou flores em vida
estou cada vez mais vivo,
sou um novo João de cada dia,
renasci sem sintomas de Narciso
não me afoguei no Calango
não me disse adeus tão moço
mesmo entorpecido, sobrevivi
não quis morrer tão cedo
tão moço ainda eu persisto,
estou aqui, de coração inteiro
ora elaboro meu banho
de aromas e cheiros
eu não me canso
de achar bonito
de achar belo
o que antes achava
que fosse feio em mim
SOB O OLHAR DE DEUS
autor: João Ludugero
eu bem sei que existe um olho,
um olhar que a tudo vê
um olhar presente
nas quatro bocas
na boca do mundo
existe um dedo de Deus
existe um olho de Deus
que me estrela o céu
que me firma na imensidão
que me sorri na boca da noite
que me faz ensolarado amanhecer
até mesmo quando a chuva
teima em cair,
sinto-me seguro
desde cedo,
sou menino varzeano
sou guerreiro de luz,
não temo a cheia
nem a correnteza
vou junto a remar
na enchente do rio Joca,
vou junto a sonhar, sem medo,
dentro do meu barquinho de papel
vou direto pra sua boca
ganhar a vida
até chegar ao mar
e-Vapor-ar-me,
enfim, ganhar as nuvens
tocar o céu
somente pra recomeçar,
segurando nas barbas de São Pedro
eu bem sei que existe um olho,
um olhar que a tudo vê
um olhar presente
nas quatro bocas
na boca do mundo
existe um dedo de Deus
existe um olho de Deus
que me estrela o céu
que me firma na imensidão
que me sorri na boca da noite
que me faz ensolarado amanhecer
até mesmo quando a chuva
teima em cair,
sinto-me seguro
desde cedo,
sou menino varzeano
sou guerreiro de luz,
não temo a cheia
nem a correnteza
vou junto a remar
na enchente do rio Joca,
vou junto a sonhar, sem medo,
dentro do meu barquinho de papel
vou direto pra sua boca
ganhar a vida
até chegar ao mar
e-Vapor-ar-me,
enfim, ganhar as nuvens
tocar o céu
somente pra recomeçar,
segurando nas barbas de São Pedro
sexta-feira, 25 de junho de 2010
MINHA VÁRZEA VESTIDA DE FLOR
autor: João Ludugero
ai que saudades que sinto
da minha Várzea das Acácias,
terra de gente feliz,
berço da menina fagueira
que acende o São João
cá estou com minhas cinzas
tal qual fogueira no fim
ainda a queimar resto de toco, tição
brasas suspirando em minhas rimas
entre as asas do bem-querer
e a linha da minha sina
acho até que o meu coração
se enganchou nesse sofrer
que resulta da tua ausência,
espelho quebrado de lembranças
vou atirar-te de vez
nas profundezas do açude
no intuito da sorte aflorar, vir à tona,
vou me amarrar nos teus cabelos
pender na flor de tuas tranças
porque vivendo assim
tão longe do teu cheiro
mais vegeto do que vivo,
só sei mesmo padecer
sou pena de passarinho
atirada ao vento da tarde amena
entre as duas palmeiras de São Pedro
sou aquele colibri sem ter flor
para beijar, solitário
sou rama que se alastra
pelos caminhos agrestes
do meu Itapacurá
sou flor de maracujá
sou penar de cantador
sou seresteiro perdido pelos ariscos
nas sombras de te esperar
mesmo distante, léguas e léguas
é tão bom te ver assim,
menina-flor varzeana,
toda vestida de chita
com sete laços de fita
fazendo até a lua minguar
pra chegar perto e bonita te banhar
toda assim derramada
toda assim refletida
nas águas do meu Calango
que venha a lua de prata
deslumbrante te molhar,
logo depois da quadrilha
que animou o meu lugar
e o povo todo se agita,
a pipocar seus rojões
por causa do teu sorriso
que borda a rua de cores
em lindas flores de fuxico
ah, que saudades que sinto
do anarriê de seu Bita!
ai que saudades que sinto
da minha Várzea das Acácias,
terra de gente feliz,
berço da menina fagueira
que acende o São João
cá estou com minhas cinzas
tal qual fogueira no fim
ainda a queimar resto de toco, tição
brasas suspirando em minhas rimas
entre as asas do bem-querer
e a linha da minha sina
acho até que o meu coração
se enganchou nesse sofrer
que resulta da tua ausência,
espelho quebrado de lembranças
vou atirar-te de vez
nas profundezas do açude
no intuito da sorte aflorar, vir à tona,
vou me amarrar nos teus cabelos
pender na flor de tuas tranças
porque vivendo assim
tão longe do teu cheiro
mais vegeto do que vivo,
só sei mesmo padecer
sou pena de passarinho
atirada ao vento da tarde amena
entre as duas palmeiras de São Pedro
sou aquele colibri sem ter flor
para beijar, solitário
sou rama que se alastra
pelos caminhos agrestes
do meu Itapacurá
sou flor de maracujá
sou penar de cantador
sou seresteiro perdido pelos ariscos
nas sombras de te esperar
mesmo distante, léguas e léguas
é tão bom te ver assim,
menina-flor varzeana,
toda vestida de chita
com sete laços de fita
fazendo até a lua minguar
pra chegar perto e bonita te banhar
toda assim derramada
toda assim refletida
nas águas do meu Calango
que venha a lua de prata
deslumbrante te molhar,
logo depois da quadrilha
que animou o meu lugar
e o povo todo se agita,
a pipocar seus rojões
por causa do teu sorriso
que borda a rua de cores
em lindas flores de fuxico
ah, que saudades que sinto
do anarriê de seu Bita!
quinta-feira, 24 de junho de 2010
ENSAIO PARA UM RECOMEÇO
autor: João Ludugero
eu miro o novo
não quero parâmetros
não careço de espelhos,
muito menos de caras amarradas
nem de paradigmas
quero apenas
minhas marcas novas,
apenas minhas cicatrizes
espero ver meu rosto
de perto, despido
disposto a encarar
o que ora me faz sentido,
desde o novo desatado
ao ex-cara velho
eu miro o novo
não quero parâmetros
não careço de espelhos,
muito menos de caras amarradas
nem de paradigmas
quero apenas
minhas marcas novas,
apenas minhas cicatrizes
espero ver meu rosto
de perto, despido
disposto a encarar
o que ora me faz sentido,
desde o novo desatado
ao ex-cara velho
sexta-feira, 11 de junho de 2010
GENTE DE FIBRA
autor: João Ludugero
essa gente da minha Várzea,
que tem cheiro
de capim de cheiro
tem aromas de ervas finas
de ervas do campo
de cravos e marmeleiros,
tem água benta, tem fé
tem romã, tem pimenta,
tem manjerona, tem alecrim
tem polvilho, goma fresca
para fazer sequilho e tapioca
há varzeanas cheias de prendas
tem Marinam de Lica
a fazer seus quitutes
a fazer suas iguarias
de encomenda
ou pra vender na feira,
elas trazem a vocação
de arar sonhos
de amar e de colher liberdade
ainda ao amanhecer
elas trazem nas costas
o por do sol
nos olhos, na pele
na tez dos ombros
elas trazem a barra do tempo,
desdobram-se
adentram as trilhas
dos dias pesados
tecem
com sisal e fibra
alinhavam, costuram
pintam, bordam
fuxicam colorido
disfarçadas de flores
declaram guerra
ao medo de viver
essa minha gente
traz na face a coragem,
não tem medo da sina
de encarar o batente
gente-gente que arrebenta
e não esmorece na lida
ao dar rasteira na tristeza
num piscar de olhos,
eu boto fé nessa gente,
que não espera a sorte chegar
destemida vai lá, acredita e faz
sem precisar chorar
as favas contadas
nem o leite derramado
essa gente da minha Várzea,
que tem cheiro
de capim de cheiro
tem aromas de ervas finas
de ervas do campo
de cravos e marmeleiros,
tem água benta, tem fé
tem romã, tem pimenta,
tem manjerona, tem alecrim
tem polvilho, goma fresca
para fazer sequilho e tapioca
há varzeanas cheias de prendas
tem Marinam de Lica
a fazer seus quitutes
a fazer suas iguarias
de encomenda
ou pra vender na feira,
elas trazem a vocação
de arar sonhos
de amar e de colher liberdade
ainda ao amanhecer
elas trazem nas costas
o por do sol
nos olhos, na pele
na tez dos ombros
elas trazem a barra do tempo,
desdobram-se
adentram as trilhas
dos dias pesados
tecem
com sisal e fibra
alinhavam, costuram
pintam, bordam
fuxicam colorido
disfarçadas de flores
declaram guerra
ao medo de viver
essa minha gente
traz na face a coragem,
não tem medo da sina
de encarar o batente
gente-gente que arrebenta
e não esmorece na lida
ao dar rasteira na tristeza
num piscar de olhos,
eu boto fé nessa gente,
que não espera a sorte chegar
destemida vai lá, acredita e faz
sem precisar chorar
as favas contadas
nem o leite derramado
quinta-feira, 10 de junho de 2010
A RIQUEZA DE SER VARZEANO
autor: João Ludugero
criei-me entre ventos
ventanias,
rios, riachos de mel
campos e vapor
de tabuleiros,
entre arados de roçados
entre flores e pendões
entre açudes e calangos
por esse motivo,
acho que meu canto traz
sussuro de pássaros
de pintassilgos
de sabiás e bem-te-vis
de canários de chão
a minha poesia
traz as cores vibrantes
do esplendor da aurora
e a partitura adocicada
das frutas bicadas
pelos passarinhos
à sombra dos quintais
da minha pequena Várzea
enquanto o céu
da tua boca sazonal
guardar
o sabor esperado
dos cajus
das mangas dos ariscos,
da resina dos cajazeiros
do caldo de cana dos Marreiros,
desfio estes versos
que instauram paz
de alvoradas preenchidas
sob o clarão
aberto pela luz desse sol
que alumia o sítio dos Quilaras
que caminha por trilhas agrestes
e desce para o Umbu
claridade não há de nos faltar
nem mesmo no chafurdar
das enxadas
a preparar os leirões,
a epiderme da terra,
aonde germinam
adormecidas sementes
que brotam ávidas em espigas
em favas, em ramas
nas roças do rio Joca,
além dos candeeiros enferrujados
pelo mijo insone
de antigos vaga-lumes
do Vapor de seu Zuquinha
é isso que meu canto traz
boas-novas, alvíssaras,
desde ontem
porque
criei-me entre ventanias
bebendo água de cacimba
dos riachos das veredas,
percorrendo tabuleiros em flor,
como quem habita um paraíso,
num lugar que faz o coração
da gente querer muito mais ser
do que apenas ter ou possuir bens
porque o bem maior que a gente tem,
que é de cunho essencial,
mora lá, na vida simples
de quem lá mora, de fato,
e evidencia-se
sob o teto de cada casa caiada,
onde a razão de ser simples
está no provimento de bem-estar
bem no meio desse ambiente
que traz o suficiente
para nos encher o peito
e se orgulhar desse mundo
onde a riqueza maior é
poder dizer: - sou varzeano!
é não cruzar os braços à sorte
é arregaçar as mangas
é lançar o anzol e apanhar o peixe
é poder ser simples assim,
é ainda poder sonhar acordado
e concordar, no final das contas,
e acreditar, pensando bem,
no retinir do martelo,
que nós é que somos
ricos de verdade!
criei-me entre ventos
ventanias,
rios, riachos de mel
campos e vapor
de tabuleiros,
entre arados de roçados
entre flores e pendões
entre açudes e calangos
por esse motivo,
acho que meu canto traz
sussuro de pássaros
de pintassilgos
de sabiás e bem-te-vis
de canários de chão
a minha poesia
traz as cores vibrantes
do esplendor da aurora
e a partitura adocicada
das frutas bicadas
pelos passarinhos
à sombra dos quintais
da minha pequena Várzea
enquanto o céu
da tua boca sazonal
guardar
o sabor esperado
dos cajus
das mangas dos ariscos,
da resina dos cajazeiros
do caldo de cana dos Marreiros,
desfio estes versos
que instauram paz
de alvoradas preenchidas
sob o clarão
aberto pela luz desse sol
que alumia o sítio dos Quilaras
que caminha por trilhas agrestes
e desce para o Umbu
claridade não há de nos faltar
nem mesmo no chafurdar
das enxadas
a preparar os leirões,
a epiderme da terra,
aonde germinam
adormecidas sementes
que brotam ávidas em espigas
em favas, em ramas
nas roças do rio Joca,
além dos candeeiros enferrujados
pelo mijo insone
de antigos vaga-lumes
do Vapor de seu Zuquinha
é isso que meu canto traz
boas-novas, alvíssaras,
desde ontem
porque
criei-me entre ventanias
bebendo água de cacimba
dos riachos das veredas,
percorrendo tabuleiros em flor,
como quem habita um paraíso,
num lugar que faz o coração
da gente querer muito mais ser
do que apenas ter ou possuir bens
porque o bem maior que a gente tem,
que é de cunho essencial,
mora lá, na vida simples
de quem lá mora, de fato,
e evidencia-se
sob o teto de cada casa caiada,
onde a razão de ser simples
está no provimento de bem-estar
bem no meio desse ambiente
que traz o suficiente
para nos encher o peito
e se orgulhar desse mundo
onde a riqueza maior é
poder dizer: - sou varzeano!
é não cruzar os braços à sorte
é arregaçar as mangas
é lançar o anzol e apanhar o peixe
é poder ser simples assim,
é ainda poder sonhar acordado
e concordar, no final das contas,
e acreditar, pensando bem,
no retinir do martelo,
que nós é que somos
ricos de verdade!
PERFUME DE MUÇAMBÊ
autor: João Ludugero
pela estradinha de terra
ali ao lado da Vargem
passei sebo nas canelas
corri junto com os borregos
cheguei ao sítio de Zé Canindé
lá chupei cana-caiana
bebi água de cacimba
namorei com a paisagem
à sombra do juazeiro
sentei para descansar
e admirar a beleza
que se alastra em tons de verde
desde o chão de muçambês
que se expande em minha Várzea
que não se expira no olhar
que encanta o sabiá
meu cantar não é de dor
mas pode ser de saudade
saudade do meu lugar
uma vez que estou distante
léguas e léguas de lá,
mesmo assim, imagino
vejo flores em cada canto
e sinto o cheiro da terra
muito além das macambiras
onde correm os preás
viu meu bem,
o que lhe digo, de fato
o que mais quero lhe mostrar
como é bonita a natureza
que verte, que ganha vida
que muita vida nos dá
coisas simples
casas simples
gente simples
maior riqueza não há
Oh, minha Várzea,
quanta saudade eu carrego
que enche meus olhos d'água
asseguram que homem não chora
esse ditado eu bem nego,
pois já me debulho em lágrimas,
fico assim penduradinho
no desejo de te ver, sempre
de poder te espiar, de perto,
fico troncho é de vontade
de correr pr'o teu abraço
triste o coração lateja,
parece sair do peito,
e apronto uma cantiga
na roça dos teus sobejos
que margeia o rio Joca
nas cacimbas dos teus beijos
doce é pensar em ti,
vê-la de flor em flor Vapor afora
ter a flor e não a colher
resignado, deixá-la em seu lugar
a enfeitar o altar da minha sina
a perfumar a vida do meu lugar
minha Várzea das Acácias,
suplico, dê-me apenas
um bocadinho assim,
um pouquinho ainda que seja
conceda-me um gole d'água
pra amenizar minha sede,
seja na cuia ou cabaça,
pois a sede que me mata
pela estradinha de terra
ali ao lado da Vargem
passei sebo nas canelas
corri junto com os borregos
cheguei ao sítio de Zé Canindé
lá chupei cana-caiana
bebi água de cacimba
namorei com a paisagem
à sombra do juazeiro
sentei para descansar
e admirar a beleza
que se alastra em tons de verde
desde o chão de muçambês
que se expande em minha Várzea
que não se expira no olhar
que encanta o sabiá
meu cantar não é de dor
mas pode ser de saudade
saudade do meu lugar
uma vez que estou distante
léguas e léguas de lá,
mesmo assim, imagino
vejo flores em cada canto
e sinto o cheiro da terra
muito além das macambiras
onde correm os preás
viu meu bem,
o que lhe digo, de fato
o que mais quero lhe mostrar
como é bonita a natureza
que verte, que ganha vida
que muita vida nos dá
coisas simples
casas simples
gente simples
maior riqueza não há
Oh, minha Várzea,
quanta saudade eu carrego
que enche meus olhos d'água
asseguram que homem não chora
esse ditado eu bem nego,
pois já me debulho em lágrimas,
fico assim penduradinho
no desejo de te ver, sempre
de poder te espiar, de perto,
fico troncho é de vontade
de correr pr'o teu abraço
triste o coração lateja,
parece sair do peito,
e apronto uma cantiga
na roça dos teus sobejos
que margeia o rio Joca
nas cacimbas dos teus beijos
doce é pensar em ti,
vê-la de flor em flor Vapor afora
ter a flor e não a colher
resignado, deixá-la em seu lugar
a enfeitar o altar da minha sina
a perfumar a vida do meu lugar
minha Várzea das Acácias,
suplico, dê-me apenas
um bocadinho assim,
um pouquinho ainda que seja
conceda-me um gole d'água
pra amenizar minha sede,
seja na cuia ou cabaça,
pois a sede que me mata
é uma saudade d'ocê!
terça-feira, 8 de junho de 2010
GARAPA
autor: João Ludugero
morena, vida morena,
pele da cor do pecado
de sol a sol
se eu pudesse
longe não existiria
ficaria só na rede
de sisal a balançar
nos alpendres
lá da minha Várzea
enveredar-me
pelos ariscos
nas cacimbas
nos açudes
a gente ia se banhar,
furtar-cores do Calango
depois de mel
lambuzar
teu corpo pelos riachos
me achar na tua
vertente
percorrer as tuas veias
me achar ou me perder
feito borrego
desgarrado
e faminto
dos teus seios
de umbu-cajá
se por acaso eu tivesse
uma bateia dourada
iria te garimpar,
nas águas do rio Joca
que outro ouro eu acharia,
minha estrela-pepita
minha estrela da manhã,
sou rico só de ter
um bocadinho d'ocê
nuns farelinhos de poesia
que acabo de fazer
que caem do firmamento
toda vez que tua boca me guia
toda vez que abres a boca
a me levar direto ao céu
de uma coisa eu sei
é doce ter o teu beijo
é belo te olhar por dentro
ah, se eu pudesse engarrafar
a luz dos teus olhos um dia
junto com a água benta
eu ia fazer uma garapa
bem doce, bem docinha
daquela de arripunar
'pra mode' beber todinha
me consagrar
me embriagar
num manancial de alegria
e aí, morena, vida morena,
não pare pra pensar tanto,
que outra sorte eu queria
se todo dia seria dia santo,
todo santo dia, pra mim
que nunca fui santo!
morena, vida morena,
pele da cor do pecado
de sol a sol
se eu pudesse
longe não existiria
ficaria só na rede
de sisal a balançar
nos alpendres
lá da minha Várzea
enveredar-me
pelos ariscos
nas cacimbas
nos açudes
a gente ia se banhar,
furtar-cores do Calango
depois de mel
lambuzar
teu corpo pelos riachos
me achar na tua
vertente
percorrer as tuas veias
me achar ou me perder
feito borrego
desgarrado
e faminto
dos teus seios
de umbu-cajá
se por acaso eu tivesse
uma bateia dourada
iria te garimpar,
nas águas do rio Joca
que outro ouro eu acharia,
minha estrela-pepita
minha estrela da manhã,
sou rico só de ter
um bocadinho d'ocê
nuns farelinhos de poesia
que acabo de fazer
que caem do firmamento
toda vez que tua boca me guia
toda vez que abres a boca
a me levar direto ao céu
de uma coisa eu sei
é doce ter o teu beijo
é belo te olhar por dentro
ah, se eu pudesse engarrafar
a luz dos teus olhos um dia
junto com a água benta
eu ia fazer uma garapa
bem doce, bem docinha
daquela de arripunar
'pra mode' beber todinha
me consagrar
me embriagar
num manancial de alegria
e aí, morena, vida morena,
não pare pra pensar tanto,
que outra sorte eu queria
se todo dia seria dia santo,
todo santo dia, pra mim
que nunca fui santo!
VÁRZEA: O AMOR QUE FICA
autor: João Ludugero
Várzea
não a Várzea
da mulher que chora infeliz
com uma troucha de roupa na cabeça
e na outra mão a puxar uma criança faminta,
não a Várzea politicamente dividida
de um lado corujões
do outra banda, bacuraus
Várzea de São Pedro
sim a Várzea unida
das quermesses
das fogueiras
das novenas
dos folguedos
das quadrilhas de Seu Bita
do anarriê de dona Conceição Dama
da feirinha livre aos domingos
Várzea que aprendi a amar desde cedo
Várzea do milho e da pipoca
Várzea da minha infância
da sinuca do Salão São Luís
de Seu Lula Florêncio, pai do Silva
do Seu Otávio Gomes, pai do Maninho
da rua grande do mercadinho
onde a gente brincava de tudo
da rua onde morava Seu Walfredo
onde a gente ganhava torrões de açúcar pra fazer puxa-puxa
da rua onde plantadas as duas majestosas palmeiras
do Seu Minô de dona Marina que proseava ali na esquina
sentado numa cadeira de balanço
a espreguiçar a rotina numa pele de carneiro tingida de laranja
depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras
conversas jogadas fora, fiados mexericos
namoros no oitão da igreja, amassos e risadas
um magote de meninos e meninas brincava no meio da rua
um magote de gente de bem com a vida,
gente que não carecia de razão alguma pra ser feliz
porque a felicidade estava o tempo todo ali, de sobra
mesmo que fosse de vidro
o anel que a vida nos desse,
porque brilhante era o sorriso
que ladrilhava nossa rua
e a gente adormecia no colo de Mãe Dalila,
a sonhar com o amanhã,
a pegar com a mão o sol de um novo dia
essa é a Várzea que a gente leva
pra sempre guardada no coração,
relicário do amor que fica
essa é a Várzea que a gente leva
pra sempre guardada no coração,
relicário do amor que fica
segunda-feira, 7 de junho de 2010
VALEU O BOI!
autor: João Ludugero
passeando pela tarde
não me canso de olhar
de ver minha Várzea,
de pisar nos juncos e fedegosos
de sentir o cheiro da terra
de ver o gado a pastar
lá nas margens do Calango
chamei o amor a passear
de pronto ele foi,
segurou minha mão
lançou um olhar assim
e fez-me cara de boi,
boi de vaquejada
ê, boi!
prefiro te ver à solta
além dos jequis
além das cancelas
eu bem que te vi, de fato
mas fingiste que não eras tu
lá no abatedouro municipal
quem mandou seres assim
tão modesto, tão apetitoso
acebolado, na chapa
ou no churrasquinho de gato
a vida tem dessas coisas,
a vida tem dessas cores
um dia todos se vão,
até Seu Beja Anacleto
já foi morar na outra banda
por isso, tenha medo não
um dia tudo se esvai
e o que fica da vida,
o que pende da razão,
é a vida que a gente leva
se a hora é de curtir, de bumbar
pra que chorar o derramado leite
não vamos encurtar a festa,
vamos curtir o que resta,
de camarote te digo
que bom que me ouves atento
logo, logo vêm as moscas
a nos fazer cócegas ...
nem aí, você moscou,
abanou o rabo contente
e depois livre dançou,
lembrei-me do boi-de-reis
a la mateus Joca Chico!
domingo, 6 de junho de 2010
AL DENTE!
autor: João Ludugero
o amor me chegou
sem pedir visita,
invadiu-me
fez-me objeto
nem bateu à porta,
não pediu licença,
ao seu bel-prazer,
entrou, usou e abusou
da minha cara de bom-moço,
escancarou ainda mais
as janelas do meu peito
e, sorrateiro,
sem moderação,
bebeu de copo cheio
toda aguardente
tragou-me, de pirraça,
deixou-me antes do alvorecer,
vazio e com bafo de cachaça
fiquei meio que aturdido,
embriagado, sem norte nem oriente,
ali no meio da praça do encontro
a ver a lua a boiar na noite alta,
que não estava nem aí
para minha ressaca
às favas, com meu orgulho bobo,
ele me atirou num banco de espera,
comeu meu coração al dente,
sem sal nem tempero de qualquer sorte
tripudiou-me sem reservas
e ainda fez questão
de palitar os caninos, de pirraça
pois bem, deixa estar
que a própria vida, a seu tempo,
haverá de lhe dar o melhor revide!
é só apostar que essa hora vai chegar
é só apostar pra ver, menina travessa,
que já estou afiando as presas!
o amor me chegou
sem pedir visita,
invadiu-me
fez-me objeto
nem bateu à porta,
não pediu licença,
ao seu bel-prazer,
entrou, usou e abusou
da minha cara de bom-moço,
escancarou ainda mais
as janelas do meu peito
e, sorrateiro,
sem moderação,
bebeu de copo cheio
toda aguardente
tragou-me, de pirraça,
deixou-me antes do alvorecer,
vazio e com bafo de cachaça
fiquei meio que aturdido,
embriagado, sem norte nem oriente,
ali no meio da praça do encontro
a ver a lua a boiar na noite alta,
que não estava nem aí
para minha ressaca
às favas, com meu orgulho bobo,
ele me atirou num banco de espera,
comeu meu coração al dente,
sem sal nem tempero de qualquer sorte
tripudiou-me sem reservas
e ainda fez questão
de palitar os caninos, de pirraça
pois bem, deixa estar
que a própria vida, a seu tempo,
haverá de lhe dar o melhor revide!
é só apostar que essa hora vai chegar
é só apostar pra ver, menina travessa,
que já estou afiando as presas!
AGUENTA CORAÇÃO!
autor: João Ludugero
Chegou o temido dia,
numa fria manhã de maio findo
eu fui desacordado,
por instantes parei a vida
e tudo pareceu morrendo em lentidão
as horas, o sonho e o pesadelo
tudo engrossou na seiva das minhas veias
eu me olhei no espelho e,
por um instante, tive medo,
achei pesado demais o tranco
minha dor de coágulos inevitáveis
tomou um anestésico geral, um sedativo
adormeci de imediato, perdi o chão
deixei-me levar pelos acordes
da minha vontade enorme de viver
naquele instante acreditei
que retornaria, pois tinha uma missão a cumprir,
ir-me naquela hora a quem interessaria?
não, não ainda,pois havia comigo tanta semente.
tanto sonho a ser plantado
minha voz já cansada ficara rouca,
mas não perdera sua força,
escondera-se apenas no cantar da natureza varzeana
acordei envolto em fuligem de nuvens esfiapadas, imparáveis
agarrei-me nas palavras do meu poema
estas mesmo adormecidas, estancaram o aneurisma
numa plastia aórtica perfeita,
e o sangue percorreu-me as veias
reacendendo meu tambor da vida
meu coração que parecia mudo, parado
gritou no silêncio das noites desesperadas
e rasgou sentimentos com bisturi,
a partir dali aprendi a dar novo sentido à vida
e na ânsia louca de me ver sarado,
agora deixo o tempo correndo na sua lentidão-terapia
agora pretendo tirar o pé do acelerador
quero viver um dia de cada vez, intensivamente
quero tirar sabedorias das coisas simples
quero tirar proveito dessa dádiva, desse presente de Deus
e não abro mais mão de viver a vida
não quero transplante, pois já tenho um coração recauchutado
eu preciso com tamanha força medir as batidas do meu amor,
e, agora doutor, dê-me licença, permita-me dizer
quero viver por muitos muitos anos...
agora que abri meu coração
desatei linhas, costuras, tirei pontos e nós
abri meu coração, sem nenhum medo
de começar de novo a sonhar, nesse mundo de Deus!
Chegou o temido dia,
numa fria manhã de maio findo
eu fui desacordado,
por instantes parei a vida
e tudo pareceu morrendo em lentidão
as horas, o sonho e o pesadelo
tudo engrossou na seiva das minhas veias
eu me olhei no espelho e,
por um instante, tive medo,
achei pesado demais o tranco
minha dor de coágulos inevitáveis
tomou um anestésico geral, um sedativo
adormeci de imediato, perdi o chão
deixei-me levar pelos acordes
da minha vontade enorme de viver
naquele instante acreditei
que retornaria, pois tinha uma missão a cumprir,
ir-me naquela hora a quem interessaria?
não, não ainda,pois havia comigo tanta semente.
tanto sonho a ser plantado
minha voz já cansada ficara rouca,
mas não perdera sua força,
escondera-se apenas no cantar da natureza varzeana
acordei envolto em fuligem de nuvens esfiapadas, imparáveis
agarrei-me nas palavras do meu poema
estas mesmo adormecidas, estancaram o aneurisma
numa plastia aórtica perfeita,
e o sangue percorreu-me as veias
reacendendo meu tambor da vida
meu coração que parecia mudo, parado
gritou no silêncio das noites desesperadas
e rasgou sentimentos com bisturi,
a partir dali aprendi a dar novo sentido à vida
e na ânsia louca de me ver sarado,
agora deixo o tempo correndo na sua lentidão-terapia
agora pretendo tirar o pé do acelerador
quero viver um dia de cada vez, intensivamente
quero tirar sabedorias das coisas simples
quero tirar proveito dessa dádiva, desse presente de Deus
e não abro mais mão de viver a vida
não quero transplante, pois já tenho um coração recauchutado
eu preciso com tamanha força medir as batidas do meu amor,
e, agora doutor, dê-me licença, permita-me dizer
quero viver por muitos muitos anos...
agora que abri meu coração
desatei linhas, costuras, tirei pontos e nós
abri meu coração, sem nenhum medo
de começar de novo a sonhar, nesse mundo de Deus!
sábado, 5 de junho de 2010
VÁRZEA: MEU CANTINHO DA CULTURA
autor: João Ludugero
quem chega à minha Várzea
nunca fica triste, nem pudera
logo se aproxima da alegria
em tons, em coloridos sorrisos
em animações de sons,
na lua a pratear cada recanto
é festa por todo lado, é magia pura
como uma eterna fogueira acesa
no interior da vida da minha gente
a tristeza sai pela porta de trás
debanda junto com as sombras
do "carro encantado"
e até a "mulher que chora" aparece sorrindo,
aquela que chorava com a trouxa na cabeça,
toma logo um chá de sumiço
pela madrugada a fora
ninguém sabe, ninguém viu
que rumo tomou além das quatro bocas da lenda
quiçá cansou de perambular sua alma penada,
diante da alegria que contagia a vida da minha gente
até a meia-lua se abre num sorriso
inteira a se banhar solene
na solidão da rua das pedras,
a alumiar o caminho dos andantes
a trazer saudades de outrora,
saudades das festas do Cruzeiro
aquela saudade gostosa das iguarias típicas,
dos bolos pretos, dos bolos de milho,
de coco e de macaxeira,
tempo dos deliciosos manjares
da inesquecível dona Zidora
saudades das pastorinhas de Joaquim Rosendo
do boi de de reis de Mateus Joca Chico,
do coco de ganzá embolado por Zé Camarão,
da lapinha de Dona Eunice
que trazia como palhaço seu esposo Bita,
do joão-redondo de Joaquim André
da animação das quadrilhas de São João
das vaquejadas de Sao Pedro
da alegria do dedo de prosa
com o ilustre Capitão Gonçalo, filho da terra
puros ares da minha Várzea,
meus pulmões adentram
o sítio dos Marreiros,
Vapor a fora, rosa dos ventos aflora
renovando esperanças
curando meu corpo, minha mente
acalmando de paixão, meus arredores
flor do Maracujá de dona Melisinha
frutos da Marisa de seu Wandick Lopes
bons ares do Itapacurá
lavam minha alma sem trincheira
sopram de verde as margens do rio Joca
purificam meus ariscos
e demarcam ali o espaço da paz verdadeira
lugar aonde o poeta encontra seu refúgio,
diante da alegria que se fez
nesse lindo dia de verão
quem chega à minha Várzea
nunca fica triste, nem pudera
logo se aproxima da alegria
em tons, em coloridos sorrisos
em animações de sons,
na lua a pratear cada recanto
é festa por todo lado, é magia pura
como uma eterna fogueira acesa
no interior da vida da minha gente
a tristeza sai pela porta de trás
debanda junto com as sombras
do "carro encantado"
e até a "mulher que chora" aparece sorrindo,
aquela que chorava com a trouxa na cabeça,
toma logo um chá de sumiço
pela madrugada a fora
ninguém sabe, ninguém viu
que rumo tomou além das quatro bocas da lenda
quiçá cansou de perambular sua alma penada,
diante da alegria que contagia a vida da minha gente
até a meia-lua se abre num sorriso
inteira a se banhar solene
na solidão da rua das pedras,
a alumiar o caminho dos andantes
a trazer saudades de outrora,
saudades das festas do Cruzeiro
aquela saudade gostosa das iguarias típicas,
dos bolos pretos, dos bolos de milho,
de coco e de macaxeira,
tempo dos deliciosos manjares
da inesquecível dona Zidora
saudades das pastorinhas de Joaquim Rosendo
do boi de de reis de Mateus Joca Chico,
do coco de ganzá embolado por Zé Camarão,
da lapinha de Dona Eunice
que trazia como palhaço seu esposo Bita,
do joão-redondo de Joaquim André
da animação das quadrilhas de São João
das vaquejadas de Sao Pedro
da alegria do dedo de prosa
com o ilustre Capitão Gonçalo, filho da terra
puros ares da minha Várzea,
meus pulmões adentram
o sítio dos Marreiros,
Vapor a fora, rosa dos ventos aflora
renovando esperanças
curando meu corpo, minha mente
acalmando de paixão, meus arredores
flor do Maracujá de dona Melisinha
frutos da Marisa de seu Wandick Lopes
bons ares do Itapacurá
lavam minha alma sem trincheira
sopram de verde as margens do rio Joca
purificam meus ariscos
e demarcam ali o espaço da paz verdadeira
lugar aonde o poeta encontra seu refúgio,
diante da alegria que se fez
nesse lindo dia de verão
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