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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

TODA VARZEANIDADE, A CORRER DENTRO! Autor: João Maria Ludugero

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TODA VARZEANIDADE, A CORRER DENTRO!
Autor: João Maria Ludugero

A varzeanidade não cabe dentro dos Seixos.
Curiós se alfabetizam em cantigas.
No rio Joca se escavam as cacimbas,
O pintassilgo se prepara para fazer sinfonia,
ganhando enlevo na forma das Formas.
Enquanto o mulungu se irradia em flor
A alaranjar o lusco-fusco da tarde amena,
O marmeleiro vai transitando para camaleão,
Enquanto o sanhaço só degusta o mamão maduro
Ao encanto do afoito e mais astuto bem-te-vizinho.
A esperança se renova no habite-se da aranha
Que tece singela teia sob a sintonia ao lusco-fusco da tarde varzeana,
Sem confundir andorinha com patativa, galo-de-campina ou arribação.
No arrebol,
Pintam-se ninhos de sabiá, ovos do canário-de-chão.
Minha casa-de-taipa se engrandece em bela teia.
Um tetéu se inadverte ao ganhar o vão da vargem ao açude do Calango.
Igual o anum
Que se abriga arteiro no verdejante juazeiro.
Tanajuras transportam
Infinitamente a Várzea das Acácias, dos hibiscos,
Dos fedegozos, dos canapus, das urtigas e das coroas-de-frades...
Estarão mudando da seara dos Umbus
Ou se adoçando ao Riacho do Mel?
Estarão engolindo acordes de loucura
Ou o ávido charme dos medonhos meninos levados da breca?
Gafanhotos adentram as ramagens do Vapor de Zuquinha,
Enquanto os cajás-mangas se amarelam ao ser olhados pelo sol.
Mas só a mata agreste das pitombas do Itapacurá os vê.
Já os cajás, as jacas, os cajus e as castanhas se aninham por dentro,
tocados pela luz da casa-de-farinha de tio João Pequeno.
O beiju e a tapioca se assanham no coco
Numa estreante coivara no flamejante forno
De torrar farinha-de-mandioca...
É marcante o aroma das manipueiras a inserir as raízes
Das macaxeiras da terra de Ângelo Bezerra...
Por isso, este surpreendido cheiro de queijos, coalhadas e manivas
Se apresenta possante a dar competência para meu jantar.
Manja a barriga, entre leiras, eiras e beras, a entender poesia?
Logo, nada se assila tanto: arrebol ao poente e ao amanhecer.
O sol rouba a cena na tela do firmamento?
Extintas aves de arribação, rolinhas,sebitos,quero-queros,
Ariscos, Seixos verde-musgados, pedras que se despoentam.
A Várzea acende o escuro.
Tudo semelha tudo na seara do açude do Calango.
Nem a coruja ou o bacurau atrapalham a varzeanidade.
Estamos na estação do estio há dias, Várzea!
A Lagoa Comprida está a ganhar securas.
Escuto ventos, derramo-me aos lajedos dos gravatás.
Parecem-me macambiras dispostas pelas bermas de preás.
A tua boca me ilude, além das quatro-bocas, sou culpado de teu corpo
Me encher de saudades além da Praça do Encontro Cleberval Florêncio,
De frente ao Recanto do Luar de Raimundo Bento: Sou mais tu que eu.
Transbordo, depois, meus olhos d'água: enchente de saudades.
Longe, a leira desobedece a seara do Maracujá.
Os juncos tomam banho de açude,
Raízes da água se soltam.
Sigo a catar pitangas, mangas, cajus, cajás-mangas.
E peço desculpas ao escutar os destemidos tô-fracos
Das galinhas d'Angola dispostas às onze-horas
Debaixo do jasmineiro em flor:
Ignorava as unhas do meu reflorescer.
Acordei desperto para razões de ávidos sonhos.
Sei só rascunhar palavras que me entretenham por lá.
O verso me encaracola a esbanjar alegria consentida:
Estou a ser sobrepujado por letras, preserVARZEAdo
Me habilito pelo chão-de-dentro, a VARZEAMAR...

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