E a Marinam de Lica desde menina
bate no pilão a fartura.
Bate milho zarolho, fubá,
mandioca-mole, gergelim
paçoca de carne-seca,
café torrado no tacho
rapadura, amendoim
goma e coco ralado
pra formar peito-de-moça
carrapicho, pé-de-moleque,
bolo preto, xerém para munguzá.
E a Marinam de Lica,
desde cedo, prendada menina,
capricha nos grudes, sem remancho.
E só de manjar dá água na boca
só de se sentir o aroma, a temperança
que ganha as quatro bocas da Várzea
num perfume que recende a cravo e canela.
Como dá gosto de ver tantas guloseimas,
espiar ela meter a mão na lida, sovar a massa.
Ela não se avexa antes de dar o último ponto
no fio do puxa-puxa da cocada.
E olha lá que o sol já se deita no Calango,
e a estrela d'Alva aponta vespertina,
ao bater do pilão, enquanto Marinam de Lica
aparece na porta da cozinha, esbaforida, mas feliz,
ao passo em que a lua de tapioca se aproxima
ao quebra-queixo da tarde, Ave-Maria!
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