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sexta-feira, 29 de junho de 2012

VÁRZEA, CIDADE DA CULTURA E DA FÉ



E a procissão vai crescendo 
tomando ares pela rua grande.
Lindo e quase, 
quase todo em flor 
o andor agora avança com o povo 
a andar pela rua das pedras a fora
até alcançar as quatro bocas em cântico. 
E lá vai São Pedro 
de olhar satisfeito com a reza. 
Conhecendo minha gente, 
como bem a conheço, 
aposto que toda Várzea 
vai se ver contente, 
tendo o bom gosto 
de se ver assim, tão bela,
toda agraciada, com suas ruas 
e casas caiadas 
de janelas e portas abertas 
a louvar o pescador apóstolo,
tudo transformado 
em espaço geográfico 
de cultivo da Fé!

quarta-feira, 27 de junho de 2012

AMANTE DE PALAVRAS



Eu ando por aí, 
não me canso de voar.
Eu viajo dentro 
e alto nas palavras.
Eu tenho compulsão 
por escrevê-las.
Porque quem escreve pode voar. 
Assim aprendi 
a ganhar o mundo,
desde cedo passei sebo 
nas canelas.
Caminho o olhar 
na lida e, de repente,
só de manjar, 
chego perto das estrelas.
De carona, tomo 
a lua de pingente.
E assim me acho 
pela amplidão dos céus 
feito prateado amador das letras.
E de tal sorte,  
prossigo arteiro poeta 
contente da vida, de amante. 

terça-feira, 26 de junho de 2012

GOL

E assim é tão natural 
a gente gostar de jogar futebol, 

de correr atrás da gorduchinha, e pimba! 

de criar jogadas, dribles incríveis e olés 
até o momento do grito na pelada, 
um momento da mais pura alegria, 
um instante de paixão 
e glória sem preço, 
um momento assim 
comparado ao orgasmo. 
O momento do gol na rede 
que estufa o peito e apraz 
sob o apito da simples euforia 
dessa gente arteira 
que dá rasteira na tristeza 
e a joga pra longe 
no intuito de voar 
de braços abertos 
ao encontro da paz, 
a correr para o abraço feliz 
nos campos da Várzea, 
só pra comemorar um golaço 
numa peladinha de segunda. 
O objetivo é esse: chegar lá, 
montar na eguinha da felicidade 
e simplesmente acreditar na força 
do coração, sem acertar na trave.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

FESTA INTERIOR






E toda casa se acende, festa interior
no peito aberto, fogueira a arder,
de frente faíscas voam alto pelas frestas,
folguedos, quermesses, regalos,
dá gosto só de manjar... e como!
É tanto espocar de rojões,
pipocas em fogos-de-artifício,
fagulhas que cadenciam a céu aberto
só pra chegar perto do chão de estrelas
só pra alumiar de contente o rosto
dessa gente que acredita e pensa
que pra ser feliz carece muito pouco,
bastando ter um bocadinho assim
só pra compartilhar com o outro,
sentir que a Várzea é nossa, de certo
que bem apraz em se dividir o polvilho,
antes do porvir que se guarda na dispensa
vir a perecer e, imprestável, ao consumo
vir a ser só do/ente.

ERA UMA VEZ UMA FORMIGA CABEÇUDA



Foi-se!
Escafedeu-se de vez.
Adeus aquela criatura atarantada
Que se preocupava demais 
Com as pulgas de trás da orelha,
Com coisas de somenos importância, 
Acabou ficando com a cabeça cheia de minhocas.
Um formigão bem que lhe deu então a ideia de fuga:
De usar as minhocas lá com seus anzóis, 
Numa pescaria sem compromissos, só pra relaxar,
Para se distrair a tempo de não perder a cabeça 
Com as preocupações da lida baratinada
dentro do labirinto do dia-após-dia.
Mas ela não se deixou incutir 
com a dica e, alheia, plufth!
A maldita cuca pegou em cheio. 
E jaz! Era uma vez a tal criatura 
desfeita assim tal qual formiga cabeçuda 
Atordoada com todos os grilos. Coitada!

quarta-feira, 20 de junho de 2012

NÃO ME CANSO DE ESCREVER

Tenho sede insaciável 
de sentir o que as palavras
têm a me dizer. Já amanheço 
com o gosto delas nos olhos, 
consentidas ou não, 
alvoreço de boca seca 
e logo me alivio, 
ao compartilhar dádivas advindas 
da luz que entra e me desenha 
sentidos em cores vivas 
que não deixam secar 
a força do coração e a nitidez da mente. 
Escrevinho sempre com o ânimo 
de quem está para reverdecer 
e quem risca pensando, 
caminho os olhos numa lida 
que me dá a sorte de ganhar o mundo, 
com as mãos sempre ávidas, 
dispostas a compor 
versos e reversos, 
num universo sem rimas. 
É por isso que só escrevo 
e não me sinto só, leio-me, 
invento casas, crio asas 
e passo a correr dentro, de súbito, 
até quando me ponho na cela 
depois de tantas luas, 
mas tão logo me liberto ao acordar 
sob os primeiros raios de sol.

terça-feira, 19 de junho de 2012

UMA ROSA A TODAS MULHERES VARZEANAS

Rosas, 
Penhas, Luzias, Marias, Ritas, 
Júlias, Anas, Lucilas, Benas, Dálias, Glórias, 
Maricas, Marocas, Joanas, Zildas, Nedas, Isas,
Nanas, Nenas, Ninas, Nininhas, Nucas, Nanucas 
Dadas, Piedades, Sinhás, Zélias, Netas, Nitas, Jaciras, 
Rosildas, Dalilas, Querubinas, Beatrizes, Julietas, Ângelas,
Socorros, Cleones, Vitórias, Benildes, Anatildes, Alices, 
Claudinas, Carminhas, Cilas, Onélias, Santinas, Ianes, 
Carmozinas, Albanitas, Cidas, Leniras, Crislaines, Marinas, 
Suzéus, Zidoras, Do Carmos, Das Neves, Das Dores, Da Luz,
Wilmas, Dezildas, Oneides, Nices, Neides, Zeneides, Tivas, 
Neuzas, Geniras, Sofias, Dalvas, Lídias, Sônias, Sandras, 
Leilas, Cleides, Leides, Noildes, Risolitas, Gabrielas, 
Veras, Inês, Lilas, Verônicas, Hernocites, Sulamitas, 
Lourdes, Lúcias, Lucindas, Clarices, Divas, 
Fátimas, Rosários, Célias, Beneditas, Zitas, 
Graças, Ceiças, Raimundas, Gildinas, Amélias, Dóias,Tonhas, 
Elietes, Elinas, Jandiras, Belas, Pretas, Belinhas, Zabéis, 
Tinhas, Ticas, Tecas, Terezas, Telmas, Severinas, 
Viras, Camilas, Miras, Lolas, Arletes, Vânias, Licas
Rosálias, Luzias, Irenes, Celinas, Palmiras, Franciscas, 
Lenices, Marinans, Tecas, Biricas, Zefas, Zefinhas... 
São tantos os nomes das mulheres de Várzea! 
Me perdoem se esqueci de mencionar alguém nesse rol, 
mas sintam-se aqui especialmente representadas. 
Todas são dignas. Sábias. Cabeças erguidas. 
Elas construíram/constroem a base, o alicerce 
dos lares da nossa Várzea das Acácias. 
Mulheres de coragem, esposas, mães, filhas, devotas, 
amigas de todas as horas no batente da vida! 
Seja em casa, a cuidar da família, dos entes queridos, 
seja na cozinha, na lida diária, na escola, na igreja 
ou até com a trouxa e a lata d’água da cabeça. 
Mulheres destemidas, heroínas de fé e esperanças, 
pacatas senhoras das terras do agreste verde. 
Rainhas da doçura, de quanta ternura e beleza, 
apesar de toda a aridez dos caminhos. 
Mulheres que acreditaram/acreditam 
em Deus e em si mesmas! E hoje, escrevem 
uma nova página na História das mulheres varzeanas, 
que com garra, brio e determinação ajudaram a criar, 
a fincar as raízes da Várzea que aí está, 
mesmo agora quando muitas 
já seguiram para o outro andar, 
onde estão lá no céu de São Pedro apóstolo, 
mas que deixaram suas marcas patentes 
aos descendentes pra luta continuar, 
arquitetando sonhos e esperanças, 
que prevalecem como exemplo 
da força e da grande expressão 
da Mulher Varzeana! 
À toda essa gente linda, dedico este poema
e uma rosa com muito carinho e consideração!

sábado, 16 de junho de 2012

MANDACARU

Eu também gosto de me ver em flor,
apesar do meu jeito carrancudo,
as aparências enganam, de sorte,
sou senhor de minha beleza agreste,
mantenho-me de sentinela, 
sisudo, firme e forte, de certo
nem com a seca eu definho.
Sou da família das cactáceas,
parente próximo do xique-xique e das palmas,
broto entre seixos, pedras e lajedos,
não sou de sombra nem de encosto,
tenho um caule suculento, altivo,
cardeiro todo bordado de duros espinhos,
mas não acho defeito em mim.
Me aceito bonito assim mesmo,
trago um verde exuberante,
meu fruto é cor de carmim.
minha flor é das mais belas
adorno até os áridos caminhos 
que levem do rio Joca ao Vapor, 
do riachão até o rio de Nozinho.
Meu verde traduz esperança nova,
Meu fruto vermelho, a grande paixão da lida
de uma gente que não esmorece nunca,
de um povo que tanto adora a sua terra,
sou do chão de dentro de lá 
da nossa Várzea querida!

quinta-feira, 14 de junho de 2012

ENAMORADO


Desde que me entendo por gente
Eu sou um enamorado de Várzea! 
Para sentir melhor o céu de São Pedro apóstolo, 
ergui a minha casa entre a vargem e o Calango. 
Só pra quando a chuva cair, encher o açude 
e a água que sangrar, passar a lavar meus pés,  
enquanto peixes descem em direção ao rio Joca,
enquanto vejo o capim e os juncos reverdecerem, 
tudo ganhando vida num simples movimento:
frondes dos coqueiros, ninhos de inhambus,
gorjeio de pássaros ao vento da tarde amena.  
Eu sou um enamorado de Várzea! 
Amo-a por tudo quanto ela me pode dar: 
A água fresca dos ariscos, o riacho do mel,
a carícia das sombras dos verdes juazeiros 
e até a calma silenciosa e mansa do Vapor.
Quero beber desse crepúsculo rutilante
que se deita devagar sobre o agreste verde...
que cada folha molhada de sereno mate a minha sede 
com o orvalho da manhã feito um suave licor de jenipapo.
Inspiro bons ares advindos do Itapacurá e do retiro,
abro os pulmões, sorvendo em tudo o que me envolve 
essa onda de perfumes, cheiros e ruídos 
que vêm do amor e que me levam a varzeamar.
Vida! Quero viver tudo que tenho direito, e mais 
além do que guardei nas mãos e o que nunca alcancei. 
Quero ser um pouco de ti no espelho das paisagens 
para, quando chegada a hora de partir, 
levar dentro dos olhos um pouco do bom e do belo,
a beleza imortal de tudo quanto amei.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

CURICA

E lá vai o menino com seu carretel de linhas...
Ele segue desnudo a se descobrir, a se revelar
livre, leve e solto com sua pipa no ar
a conquistar o céu, desde pequeno,
a ganhar linha espaço a fora.
O menino empina a pipa, com garra,
há paz dentro da inocência de ser,
há um desapego a cumprir seu papel.
É assim quando a linha se quebra
acima de sua cabeça, o artefato ao léu
ganha as alturas, e o menino sonha,
voa junto até o brinquedo tocar o horizonte,
a brincar como se fosse papagaio ao vento...
Nenhum medo mais o assola nem o assombra,
nem mesmo a cuca pega, nem os grilos,
nenhum papa-figo o amola... que nada!
Ele volta à oficina de brincar de avoar,
E assim se refaz, num instante se consola,
num piscar de olhos constrói outro instrumento
e lá se vai na nave do contente da vida
o menino a pintar o sete dentro do quintal
com sua nova curica que o leva pra longe.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

TRAVESSIA



Vamos que vamos 
colorindo as horas, 
versando sentimentos 
fincando nossas raízes 
no solo que fertiliza 
todas as saudades 
no caminhar pelas bermas
que iniciamos, sem medo, 
seguindo esperanças renovadas
em pegadas sob os cascos 
incansáveis do tempo 
nas andanças
de braços abertos, 
salvaguardando a nossa 
travessia.

domingo, 10 de junho de 2012

SOB AS ASAS DE UM SONHO ACORDADO


Enquanto eu dormia embalado 
pela cantiga do bem-te-vi,
a tarde caía sobre o Calango.
Eu sonhava alto com os pássaros ao pôr do sol,
ao passo em que caminhantes 
apreciavam a natureza viva 
que tanto fascina, encandeados pela luz 
a se refletir no espelho d"água verde-musgo 
daquele açude de tantas lembranças.
O canto do passaredo era belo demais, 
como as músicas que escutamos somente em sonhos
como gente que só aparece de repente, iluminada,
tu pintavas minha tela multicolorida, ó varzeaninha, 
ao surgires banhada de sol a musicar meus horizontes.
E num átimo de segundo, antes mesmo do lusco-fusco,
me pegava apanhado em teus braços a me fazer cafuné.
E teus braços se transformavam em pássaros 
e eu voava contigo pelo céu aberto do Vapor de Zuquinha
como um pequeno pintassilgo feliz por bem-estar ali 
na terra de seu Plácido Nenê Tomaz de Lima.

sábado, 9 de junho de 2012

GENTE RICA SEM SE DAR CONTA



Até parece que foi ontem...
Como num folguedo de rua
no final do dia, um magote 
de meninos acendia rojões e traques 
na fogueira de achas 
no terreiro de dona Alice de seu Abílio 
bem próximo ao beco de dona Neda, 
que baforava seus fumos 
num respeitável cachimbo 
pra afugentar as muriçocas. 
Antonio Horácio já fora se deitar 
a se balançar na rede de algodão, 
onde até os remendos alinhavados 
mais pareciam arte que necessidade. 
E toda rua do arame se punha a cantar, 
até mesmo aqueles que não sabiam cantar, 
caíam na dança improvisada de arrasto 
com as meninas faceiras vestidas de chita, 
e na gandaia dos meninos travessos de calças curtas. 
Ao passo em que seu Cícero cego dedilhava a sua sanfona 
num forrozeado de lascar o cano, de relar o bucho, 
de levantar a poeira do chão batido da rua do arame. 
Outros contavam estórias, riam, cochilavam na paz 
após degustar as guloseimas, doces e pitéus de dona Sinhá... 
E a gente se sentia tão rico, e com tão pouco fazia a festa. 
Mas o que era ser rico mesmo? 
Isso não importava, não se dava conta, 
pois a gente se misturava contente, 
de barriga cheia, de alegria, de pronto 
agradecia a São Pedro por aquele estado de graça interior. 
A gente era humilde sim, mas podia sorrir de verdade, 
tão simplesmente aquela paz cabia na rede de dormir. 
Até parece que foi outro dia...

quarta-feira, 6 de junho de 2012

CÉU ABERTO

Queria ser aquele pássaro azul 
que ao cantar seu mavioso encanto 
chama a chuva, ainda que inconstante e breve. 
Queria abrir as cortinas das nuvens
 fazer a chuva cair cheia do céu... 
Queria ser um farfalhar de relampejos
 a alumiar o chão da minha Várzea.
 Entrar, invadir as casas, trazer a chuva
 para molhar os campos do Vapor,
 molhar os seixos, os lajedos
 e as macambiras em flor. 
Ah, coração varzeano,
 bem sei de onde vens, 
bem sei por onde andaste. E como sei... 
Vens das bandas dos verdes ariscos, 
 dos sítios aromáticos do Itapacurá,
 onde as mangueiras florescem,
 onde há pitombas, cajueiros e mangabas.
 Vens da ribanceiras
 lá da beira do Joca,
 rio de água salobra, 
onde os coqueiros se aprumam
 e se curvam aos beijos do vento
 e onde, em noites de lua cheia, 
longe e perto, passeia o carro encantado
 rondando pelas ruas por onde perambula
 a mulher que chora: lenda viva,
 espírito do ar noturno da Várzea de ontem. 
Ah, como eu quero ser essa chuva bendita 
que invade as ruas, becos 
 e telhados das casas caiadas 
 da minha Várzea das Acácias! 
quero encher o Calango, escorrer pela vargem, 
sangrando em esperanças novas,
 a molhar o agreste chão.
 Muito me agrada andar em tua companhia, 
porque eu te quero muito bem, 
doce chuva de São Pedro, 
que inunda meu peito, 
me deixa todo contente 
 e assim tão agradecido, satisfeito
 a contemplá-la  escorrendo pelo céu aberto.

ROMÃ

Teus lábios se abrem feito romã,
Teu gosto é de madura romã... 
No céu da tua boca escorrem néctares
suprassumo advindo de tua língua 
que adivinha desejos insaciáveis
que me adstringe a fala,
que me cura as dores 
que me faz respirar fundo 
ouvindo teus olhos me secarem  
tirando-me do abandono das sombras,
amanhecendo novamente o peito 
entretido em ares de rosmaninho
unindo corpos indomáveis, 
trilhando outros sais e suores
achados em amores de perdição,
rasgado pecado com toda gula 
só pra inteirar o coração...
E rasgamos a fruta encarnada 
para repartir seus rubis. 
E que, ao cuspir pelo jardim  
sementes férteis, ávidas e afoitas, 
ressurja de nossas bocas inquietas 
um pomar de romãs e volúpia.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

MANUALMENTE

Há dias em que já acordo assim afagado,
com meu corpo tomado dos pés à cabeça 
por mãos que me apalpam de passagem 
num gozo extremo de alma sedenta: 
são tantas mãos nunca santas, e como 
que afoitas me inflamam ao tato, de fato, 
que me tocam a lida, em bulas e cores, 
que apressam compressas com vigor, 
que arredam ziquiziras, banzos e tédios, 
que me esfregam sem pena na pele um paliativo, 
que me ungem, benzem quebrantos, mandingas 
que me curam das dores e de outras mazelas 
que se encostam na vida, de repente. 
E assim vão amassando a impermanência, 
antes mesmo que a louca decida levar seus anéis, 
lavar as mãos e transitar em julgado 
sua última sentença!