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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

MADÁ

De salto alto, 
ela requebra, balança,
cai, mas não se prostra na lida   
ao atravessar viadutos, altos e baixos.
De quebra, se debruça, se enxerga 
pelo retrovisor dos automóveis
de luxo, desnuda ela entrega a carne
faz a barganha por outras bermas, 
com uma lágrima presa 
na garganta, profunda, 
apressa o passo, abre as pernas
estende a alma que ficou longe dali,
como quem sonha, pensa em ter vida própria, 
vez que a sua há tempos ficou guardada 
noutra realidade menos cuspida
que neste poema não se concluirá,
não será soneto, mal soará,
sem chave de ouro:
posto que é sorvedouro,
uma esponja rústica, espessa,
apenas um mata-borrão de angústia
que não apaga o suor ardente 
no semblante de Madalena,
lágrima vertente a escorrer 
quase oculta num canto da boca
dessa mulher de vida dura,  
consciente que mão nos lábios e tal
não é apenas batom, mas atura os ais,
reborda as vestes, cinge as urdiduras
das impostas camisas de força, 
antes de recompor a moldura de Vênus
que a expõe na tela da vida real,
antes da batida final 
do martelo do arremate. 
Dou-lhe uma, dou-lhe duas... 
Quem dá mais? 

14 comentários:

  1. Boa tarde...nossa! Belo e exposto aqui em versos a labuta de uma mulher de rua...E que a lagrima derramada por ela possa lhe salvar a alma e a deixar mais calma para teus futuros arrependimentos...Triste, mas real! Abraços

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  2. E, ainda dizem que a mulher... é frágil... vagabunda... de vida fácil... interesseira?!
    Será? Descrito está, Ludugero, muito pertinente e transparente, por você, ao que elas se submetem! Prazer? Duvido!
    Abraço, Célia.

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  3. Euclides Lucas Damasceno (LUKÃO)2 de novembro de 2011 às 12:42

    Seu poema é um fiel retrato da dura e crua vida da mulher que, nada fácil, vive na rua a angariar dividendos para poder viver a vida... Belo e forte poema. Tu realmente sabes fazer um roteiro, és único! Escancarado em poetizar, e o fazes da melhor maneira. PARABÉNS!
    Euclides Lucas Damasceno,
    Dramaturgo.

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  4. Luciah López fez um comentário sobre sua postagem no blog "MADÁ - Por João Maria Ludugero" em Casa da Poesia:
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    A triste realidade de muitas mulheres neste nosso imenso Brasil. Tanto se fala mas, tudo continua igual ano a ano centenas de mulheres são levadas a esta 'vida dura' por não ter opção de trabalho. Muitas ainda seguem para fora do país em busca de melhores condições e acabam como escravas - são tristes Madas, Marias, Terezas e tantas mais - todas anonimas entre nós. Parabéns pelo poema maravilhoso. Abç,
    LL

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  5. Forte, intenso a demonstrar a nua e crua realidade da vida, da mulher de "vida fácil". Realmente um belo poema.
    Abraços,
    Rui Belo Antunes.

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  6. Destaco:
    "consciente que mão nos lábios e tal
    não é apenas batom, mas atura os ais,
    reborda as vestes, cinge as urdiduras
    das impostas camisas de força,
    antes de recompor a moldura de Vênus
    que a expõe na tela da vida real,
    antes da batida final
    do martelo do arremate.
    Dou-lhe uma, dou-lhe duas...
    Quem dá mais? "

    Muito bom seu poema.
    Ney Cunha Cintra.

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  7. E com sabes bem poetizar, até nos polêmicos e cruéis meios de ganhar a vida!
    Hiper abraço,
    Núbia Di Carli Novais,
    Rio de Janeiro.

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  8. Os bons poetas existem e estão por aí, eis aqui um de destaque, o grande João Ludugero. Sensacional! Belo poetizar! Abração,
    Bruno Vilar Mota Veiga.

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  9. Sua poesia vicia. Seu blog é maravilhoso!
    Grande poeta, grande poesia!
    Sou teu fã de carteiriha.
    Até logo!
    Vicente Mota,
    São Paulo-SP.

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  10. Anderson Balderrama dos Reis,
    da Casa da Poesia, disse:
    É uma realidade dura e nos revolta saber que muitas mulheres são levadas a essa vida por ambição de alguns homens que vêem nelas apenas uma forma de ganhar dinheiro e as escraviza por toda a juventude.

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  11. Luciah López,
    da Casa da Poesia, disse:

    A triste realidade de muitas mulheres neste nosso imenso Brasil. Tanto se fala mas, tudo continua igual ano a ano centenas de mulheres saõ levadas a esta 'vida dura' por não ter opção de trabalho. Muitas ainda seguem para fora do país em busca de…

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  12. Amartvida fez um comentário sobre sua postagem no blog "MADÁ - Por João Maria Ludugero" em Casa da Poesia
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    infelizmente essa realidade existe no mundo inteiro, muito triste isso tudo...
    abraço de paz
    Nina
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  13. Luciah López fez um comentário sobre sua postagem no blog "MADÁ - Por João Maria Ludugero" em Casa da Poesia

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    A triste realidade de muitas mulheres neste nosso imenso Brasil. Tanto se fala mas, tudo continua igual ano a ano centenas de mulheres saõ levadas a esta 'vida dura' por não ter opção de trabalho. Muitas ainda seguem para fora do país em busca de melhores condições e acabam como escravas - são tristes Madas, Marias, Terezas e tantas mais - todas anonimas entre nós. Parabéns pelo oemas maravilhoso. Abç,

    LL
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