Picica ia na frente, devagar com os anzóis,
Xibimba ia com o samburá
agarrado na saia da mãe, dona Lucila de Preta,
agarrado na saia da mãe, dona Lucila de Preta,
e da irmã Vira que conduzia o landuá aos ombros.
De repente, lá estávamos nós
além do riacho da Cruz,
além do riacho da Cruz,
após haver saciado a sede nas minas d'água
das cacimbas de Nozinho.
das cacimbas de Nozinho.
Era a caminho do rio salobro
que enchíamos a cuia pra se refrescar
e as cabaças de água para beber,
que enchíamos a cuia pra se refrescar
e as cabaças de água para beber,
tomando aquele banho de lavar a alma,
desses de ver Deus a olho nu à sua frente.
desses de ver Deus a olho nu à sua frente.
Cá para nós, diz-se
que água não tem cheiro,
gosto ou cor... ledo engano!
que água não tem cheiro,
gosto ou cor... ledo engano!
Pois essas águas tinham sim,
acho até que é por isso mesmo
acho até que é por isso mesmo
que remexem tanto com as minhas lembranças.
No estio, o Joca ficava mansinho… rasinho…
Descalços pelo vão do rio,
dava para atravessar a vau
dava para atravessar a vau
de uma margem à outra andando
pela areia branca, morna e rasa.
E voltávamos para casa mais leves
com a enfileira de graúdos jacundás,
após haver limpado a vista na beira do rio,
E voltávamos para casa mais leves
com a enfileira de graúdos jacundás,
após haver limpado a vista na beira do rio,
onde catávamos doces ingás, canapu,
melancias-da-praia e melões-de-são-caetano.
Lembranças poéticas de um menino varzeano.
ResponderExcluirJoão, como sempre pura beleza em poesia.
Um abraço.
Comentário de Amartvida
ResponderExcluirda Casa da Poesia, disse:
Que belo momento,
uma leitura de se deliciar
e não querer mais parar...
muito bom, viajei nessa infância,
belo texto...
abraço bem grande,
Nina
Somos a nossa memória...E os cheiros esses...ligam-nos ao passado de uma forma tremenda...
ResponderExcluirGostei poeta...mas isso já sabia:)
Beatriz Valadão disse...
ResponderExcluirMemorável poema... plenamente de cores, cheiros e ruídos de um passado acordado!
Sua poesia é bela, original, única... Dá vontade de ler e querendo mais, dói parar de ler-te, tua emoção não fica longe das palavras.
És mesmo um grande poeta. Felizes os que são seres inteiros. Assim como tu és! Te louvo!
Abraço.
Beatriz Valadão,
Professora de Literatura - Viçosa - MG.
Paulo Branco disse:
ResponderExcluirCaro poeta Ludugero,
Seu texto é mesmo memorável: muito simples, bonito e sucinto, dizendo o essencial.
Isto sim é poesia, dá pra sentir tuas palavras e tua emoção fluindo do papel. Já sou teu fã!
Mega abraço,
Paulo Branco,
Escritor.
Adauto Linhares disse...
ResponderExcluirSem palavras perante a magia das (tuas) palavras!
Abraço.
Adauto.
Belíssimo poema! Grato pela excelência
ResponderExcluirda imagem. Soberbo! E calo-me perante a beleza das tuas palavras.
Sou teu seguidor. Como não ser, eis a questão. É gratificante vir aqui te ler, sempre.
Raoni Serra.
Ludugero,
ResponderExcluirLento, forte e doce, o fluir do teu poema!
Abraço apertado.
Pietra Justine Olympio
Querido poeta João Ludugero,
ResponderExcluirMenino varzeano, teu poema é sublime, é mais uma leitura das emoções nestes belos versos.
Beijos com carinho. Parabéns!
Destaco:
"Era a caminho do rio salobro
que enchíamos a cuia pra se refrescar
e as cabaças de água para beber,
tomando aquele banho de lavar a alma,
desses de ver Deus a olho nu à sua frente.
Cá para nós, diz-se
que água não tem cheiro,
gosto ou cor... ledo engano!"
Lindo demais!!!
Beijos.
Sua poesia tem muita luminosidade, cheiros e cores da vida. Adoro vir aqui te ler. Parabéns por mais um belíssimo poema.
ResponderExcluirAbraços,
Lígia Moura Vasquez.