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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

DE SOBEJO, UM POEMA SEM PEJO

DE SOBEJO, UM POEMA SEM PEJO



Autor: João Maria Ludugero.


Quero olhar para ti, quero porque quero
Desnudar-me, por inteiro, completamente.
Despir-me, sem nenhuma obrigação
Sem ninguém pra desejar que eu seja feliz
Sem nenhum almejar nada em troca,
Sem nenhuma jura, nenhuma fúria,
Sem promessa alguma, nem falcatrua,
Sem cobranças nem compromissos.


Mas dispa-me depressa, a olho nu.
Certifica-te de que nada em mim excede.
Nada em mim expira-te,
Nada em ti me sobra.
Tira-me toda veste, todo pano.
Quero não sentir nenhum pudor,
Quero ser todo porvir.


Porque o que mais me importa agora
É que eu seja simplesmente eu todo nu
Que eu veja o todo, eu comigo, eu consigo.
Dispa-me das minhas vergonhas, sem lenços
Sem pejo sem medo de ser criança,
Sem receio de agarrar teus seios com as mãos
Quero ter essa mulher madura, sem lágrimas,
Quero tecer pensamentos óbvios,
Quero ter cios e ócios singulares,
Quero insistir em não ser apenas os ossos do ofício.


Tira de mim esse abandono que só me dá rugas, de súbito,
Tira-me essa sensação de que há sempre só partida para os meus amores.
Dispa-me dessa fome, dessa sede que tanto me revela, sóbrio ou louco,
Dessa insegurança, dessa timidez que não me faz mais lúcido,
Eu preciso ser despido ao sol, ao calor do entardecer,
E não ter medo de ter asas coladas, que cedem ao Vapor,
Sinceramente, sem ceras nem fugas que me atiram ao abismo,
Preciso de amparo, mas não tenho medo de voar
Não tenho medo de espelhos nem de sombras,
Preciso de chão, mas não temo o movediço,
Preciso estar onde esteja o sol, careço de luz...
Preciso estar ciente do que me tiras, sem embargos,
Dos excessos ou carências desnuda-me, agora, às claras,
Dispa-me logo dessa mágoa que finjo não sentir, poeta que sou,
Por que hoje quero estar assim, desabitado de agouros ou de cismas.
Desnuda-me porque quando me tiras tudo
É que me enches ainda mais.


Deixa-me simplesmente inteiro, sem tirar nem pôr,
Docemente desguarnecido, apenas vestido de luz,
E só me vista de novo dessa beleza que trazes contigo,
Alheia a quaisquer esquadros, à mancheia,
Com tuas mãos em concha, sobejamente
Assim como um parêntese no meio do dia, sol a pino
Feito planta na fotossíntese, relaxadamente sóbrio,
Oxigenadamente afoito, querendo andar e voar
Na tarde amena da minha cidade da felicidade,
Minha Várzea das Acácias, minha Cidade da Cultura!

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