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terça-feira, 9 de junho de 2015

A MAIS PURA E PLENA VARZEANIDADE, por João Maria Ludugero.

A MAIS PURA E PLENA VARZEANIDADE,
por João Maria Ludugero

De fato, varzeanidade não é só recordar; é carregar despedidas também. Adeuses da vida que se desenrola no presente ou que insiste em se demorar dentro da gente, a bem fazer andar, a correr dentro e a voar alto pelo relicário interior do coração do cabra-da-peste ou do papa-jerimum enraizado na seara agreste de Ângelo Bezerra...

Então, varzeanidade da lida que não se concretizou, mas que permanece criando raízes em nossa mente. Seja da despedida da infância dos filhos, dos colegas e amigos; das rodas-de-conversa no bancos de Nina, ou no banco da farmácia de seu Geraldo 'Bita Mulato' Anacleto de Souza; do rolé das bicicletas de Zé de Estêvão; dos beijus, tapiocas de grudes e cocos, do bolo-preto de dona Zidora Paulino; das soldas, raivas e carrapichos de dona Carmozina; das rezas de dona Elina de Pinga-Fogo e das curas de ínguas, dentes e até espinhelas caídas feitas por dona Ana Moita, a desencostar perdidas almas, exorcizando os bichos encostados nas cercas da seara agreste do rio de Nozinho; dos engenhosos papos em sonhos acordados com os avós, da saúde dos pais; do frio na barriga, o peito profundamente acelerado e surpresa de mãos dadas; dos beijos roubados e daqueles dados, sem minguar as línguas afoitas, dos selos perdidos...

Das ternas lembranças das professoras do Educandário Pe. João Maria, da Escola Dom Joaquim de Almeida, das películas cinematográficas de Zé Honório, dentre Tarzan, Zorro, Durango Kid, Paladino, Drácula, entre outros em série, assistidos na velha infância; do namoro que deu certo, da paixão que deu errado.

Do amor que pediu habite-se, do afeto que criou asas, sem medo da cuca esbaforida, de assanhar até mesmo os pelos da venta, apesar do coração partido longe da seara de São Pedro Apóstolo...

Bem apanhado assim diante de tantas e quantas saudades do que ocorreu, do que deixou de existir, do que a gente quis e o tempo não consentiu, deixou apenas lembranças pelos alpendres do tempo onde a gente aprendeu a ganhar o mundo desde as quatro-bocas da Rua Grande, da Vargem, da beira do rio Joca, da praça do Encontro Kleberval Florêncio, do Clube Lítero Recreativo Varzeano de Manoel de Ocino, do Recanto do Luar de Raimundo Bento, sem esquecer das paçocas e torresmos, do cuscuz de milho zarolho, dos brotes e das regalias feitos por Zé Epifânio na padaria de Seu Plácido 'Nenê Tomaz' de Lima, o homem da senha do pitéu das faceiras e bem-torneadas meninas-moças varzeanas; dos picados suínos, das farofas de cebola-roxa que bem fazia dona Rosa de Antonio Ventinha ou dona Graça de Zé Baixinho...
Plena varzeanidade em perceber que tudo se transforma num piscar de olhos; e por isso querer agarrar os instantes com precisão, desde o interior, desejando que os Vapores do tempo não arrastem pra longe aquilo que não nasceu para ser só saudade nem desvão das levas ao chão-de-dentro da Várzea dos Caicos, seara abençoada da inesquecível madrinha Joaninha Mulato...

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