CANTIGA VARZEANA,
por João Maria Ludugero
Se acaso me perguntares onde fica Várzea
Sigo a rota que o meu coração partido invade,
Cruzo pelas trilhas de algum cabra da peste
A colher, feijão-verde, milho, macaxeira, maxixe, jerimum
E comungo ao canto de um astuto bem-te-vizinho afoito
E bem me achego ao rincão do Maracujá ao fim da tarde amena
Ou me deparo ao Umbu a partir de uma manhã espairecida,
Tendo o sol como uma brasa que ainda arde ao Vapor,
Mergulhando num Riacho do Mel repleto de varzeanidade,
A marejar meus olhos d'água a transbordar de saudades,
Ao andar, a correr dentro e a voar alto pela seara de Ângelo Bezerra,
Terrra da inesquecível madrinha Joaninha Mulato!
Tanta e quanta cantiga agreste e brasileira
Desta terra que eu amo desde menino levado da breca,
Em flores de marmeleiros, macambiras, gravatás, beldroegas,
Jatobás, canapus, urtigas, juncos e melões-de-São-caetano,
Verde-musgados Seixos das mangas, cajus, cajás, jenipapos,
Terrra dos mulungus das quebradas do açude do Calango...
E na hora do arrebol que ainda me nina
Observo o sol do agreste entardecer alaranjado
Com o Gado Bravo vindo virar minha cabeça,
Sem medo da cuca esbaforida, mas, se preciso for,
Sou mesmo de assanhar até os pelos da venta
Para dar Formas aos momentos de viver
E nos olhos vou levando o encantamento
Desta Várzea que eu amo com tamanha devoção.
E cada poema que eu componho é um pagamento
De uma dívida de amor e da mais sincera gratidão.
Escuto a cantiga potiguar e brasileira
Desta Várzea que eu tanto amo desde cedo,
Flor de vida, Itapacurá de mel de abelhas europeias,
Recanto de caldo de canas-caianas e curimbatórias
Lá do engenho de tio João Pequeno e dos carregos de sacos
De pitombas, alguidares de paçocas e queijos de coalho
Lá do possante sítio da inesquecível dona Julieta Alves;
Arisco de Virgílio Pedro das mangas, castanhas e cajus,
Sem jamais esquecer dos beijus, grudes e tapiocas
Lá da casa-de-farinha de dona Tonha de Pepedo,
Seara de amores e das mais renovadas esperanças.
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