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sábado, 19 de julho de 2014

QUEM É JOÃO MARIA LUDUGERO?

 
 
 
 
 
QUEM É JOÃO MARIA LUDUGERO?

Adelson Ribeiro, um sensato varzeano, morando longe da sua Várzea, retornou à seara de Ângelo Bezerra, do pastoril de Joaquim Rosendo, do João-Redondo mambembe de Pedro Calixto, do Clube Recreativo Varzeano de Manoel de Ocino, da seara do boi-de-reis de Mateus Joca Chico, do singelo refúgio de Capitão Gonçalo, das rezas e benzeduras de dona Elina de Pinga-fogo e de dona Ana Moita, da peleja de Vira de Lucila de Preta para sustentar sua vasta família...

Reencontrando amigos e famiiares, visitou cada recanto do seu lugar desde as quatro bocas até ao Riacho do Mel, ele se reencontrou afoito, a correr dentro da Várzea de Joaninha Mulato. Em uma paragem na praça do Encontro, bem de frente ao Recanto do Luar de Raimundo Bento, entreteu-se em conversa com um magote de meninos e indagou aquele inquieto bando de crianças em estripulias, como que num desafio, ele perguntou: - Quem conhece e quem é João Maria Ludugero? Um esperto menino varzeano depressa respondeu: - O João Maria Ludugero é um homem que, desde a velha infância, ama muito sua Várzea das Acácias!

Gostei da resposta do moleque levado da breca, o que me deu grande contentamento. Ele sabia do João Maria Ludugero, apesar de não conhecê-lo pessoalmente. Os entes são aquilo que eles amam. Mas o menino varzeano não sabia que sou um homem de muitas andanças, de muitas viagens e de muitos amores... Amo muito minha Várzea das Acácias, assim como aprecio também trilhar feito sanhaço-sozinho outros destinos, tal qual um astucioso bem-te-vizinho. Muitos seres levam suas crias a passear na lida. Eu levo meus olhos a se recrear, a recriar outros roteiros de espairecimento. E como eles gostam! Encantam-se em demasia, com tudo. Para eles o mundo é medonho e os acordes de sonhos não se estancam, pois João Maria Ludugero persevera na vida, sem nenhum rabugento medo da cuca.

Contento-me também com banhos de mar, mergulhos de rio, quedas d'água, riachos e retiros a correr dentro do verão, da sensação do vento do estio na pele, de assanhar até os pelos da venta, do barulho das folhas dos jasmineiros lá da Escola Dom Joaquim de Almeida , dos hibiscos em flor de Maria Orlanda de Seu Nestor de Alexandria, das bungavílias, dos flamboyant's, do cheiro das damas-da-noite, de música popular brasileira ou clássica, de cantigas de alegria, de cordas de violão ou de viola, de poemas, de observar a estrela Dalva, de admirar o céu cheio de estrelas, de esculturas, de pinturas, de livros, das regalias dos bolos-pretos, de sequilhos, de brotes de fubá, de coalhada com mel de abelhas europeias, de queijo-de-coalho assado na grelha da brasa, de farofa de cebola-roxa com carne-de-sol, de grudes de macaxeira, de beiju e de tapioca, de cocadas, puxa-puxas de rapadura e outros quebra-queixos, de cores e perfumes essencializados da alma em flor, do toque de flautas, de sambas, de canteiros de frutos e jardins, de comidas típicas, de conversar sentado numa espreguiçadeira, bem próximo a um canteiro de onze-horas, lanças-de-ogum, melancias-da-praia, canapus, espadas-de-São Jorge e melões-de-São-Caetano.

Uma vez alguém já disse com entusiasmo que o mundo é para ser visto, e não para pensarmos nele. Os olhos abrem as cancelas pelas quais a beleza entra na alma. Meus olhos se espantam com tudo que veem, a partir do interior.

Sou um homem de fé, um maduro menino místico. Eu abro bem os meus olhos para ver as folhas, frutas, raízes e legumes nas bancas das feiras-livres. Cada maracujá é um assombro, cada jabuticaba é um milagre. Uma pitanga é uma senha para adentrar nos pomares da vida em néctares e despertares. Tanto assim que me dá água na boca só de contemplá-las e lembrar com afinco da minha Várzea de Olival Oliveira de Carvalho.

Adoro escrever, almejar as coisas da vida, sem alvoroço: observo e espero que os outros vejam comigo. Por isso versejo. Componho um monte de retratos com palavras. De repente, meus versos tecem poemas que são cenas num elenco que rabisco para fazer ver espostas ou compostas as minhas alegrias, dia-após-dia.

Daí, então,o que escrevo são assim feito pitéus e aperitivos pelas bermas de renovadas e consentidas esperanças, tanto assim que gosto até do verde-musgo dos limos dos ariscos lajedos e dos seixos.

Eu bem sei que ainda me resta muito tempo. Ainda é laranja o lusco-fusco do meu crepúsculo. Não tenho medo do adeus, apesar de marejar os olhos de saudades daqueles todos que foram embora mais cedo. O que sinto, na verdade, não é tristeza, é saudade a correr dentro e alto a contemplar a terra que me completa, a Várzea de Mãe Claudina, de Ana do Rego, de dona Maria Maroca, de Marica de Otávio Gomes de Moura, de Júlia de Seu Lula Florêncio, de dona Inês, de Onélia de Raimundo Rosa, de Cila de Maria Marreiros, de Mãe Dalila Maria da Conceição, de Seu Nezinho, de Seu Bita, de Maria Do Carmo, de Nina de Madrinha Joaninha Mulato, da alegria que nos envolvia Seu Plácido 'Nenê Tomaz' de Lima, dentro da sua padaria de tantos biscoitos, pães, bolachas, roscas, dentre tantas e outras regalias..., sem nunca esquecer de lembrar de tanta gente que sempre haverei de guardar no meu oásis-meado coração varzeano.

O mundo é gigante, muito bonito... Mas a minha singela Várzea tem uma rua grande, que ampara São Pedro Apóstolo no topo da igreja-matriz, com duas belas palmeiras imperiais postas de sentinela ao santo padroeiro! Gostaria de ficar por lá... Escrever é o meu jeito de ficar perto de Várzea. Cada poema meu é uma semente. Depois que eu for, elas ficarão no interior ou além das leiras da Várzea do Vapor de Zuquinha. Quem sabe se transformarão nas árvores do meu lugar! Torço para que sejam juazeiros, pés de ingás e graviolas, limões, mexericas, laranjas, juncos, beldroegas, fedegosos, marmeleiros, mulungus, jasmim-manga e outras flores a tecer mais amores pelo chão de dentro da nossa Várzea das Acácias, bendita seara da Cultura Potiguar, tão idealizada pela ilustre professora Gabriela Pontes!

(Autor: João Maria Ludugero).

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