A LENDA DA MULHER QUE CHORA,
CHOROU...CHORAVA!
por João Maria Ludugero
Mulher varzeana de outrora, alma penada
que chorava descrente da vida encardida
com uma trouxa de roupa aprumada na cabeça
a levar uma menina ao alcance da destra mão...
Era humilde, carente a marejar os olhos d'água ao sol:
mas se tinha tanto desencanto, o que é que mais esperava,
o que é que esperavas, esmorecida, que esperavas da dor
ou de que maneira poderias amortecê-la?
No teu lamento parecias uma menina que nascera
sem pés para a seara e sem olhos para a Várzea de Ângelo Bezerra,
como os das bestas que por dentro do breu das altas horas da noite
- sem mais dia ou crepúsculo - se cansam de renovar esperaranças.
Porque se conhecesse o caminho que não leva ao desvão,
propulsionaria uma reviravolta a ganhar o mundo, de vez
a desentristecer até à vida nova, com mais sais, gomas,
fubás de milho-zarolho, brotes, grudes e outras regalias
sem esquecer do exemplo-espelho de tantas outras mulheres
destemidas feito dona Zidora Paulino, Suzéu, Elina de Pinga-Fogo,
que se aprumavam nas leiras e leirões a arrimar sua grande prole
de tantos filhos bem apanhados pela ilustre parteira Mãe Claudina,
amiga da inesquecível Madrinha Joaninha Mulato...
Mas, mulher que chorava aquebrantada, que esperavas,
...Se pela mais torta via das quatro bocas ou da rua do arame
amarguravas o destino, e perdias o rumo pela rua da pedra
feito animal esbaforido ao Riachão, não sabendo das bermas propícias,
onde será que esbugalharias teus olhos em penumbras,
se pelas esquinas, becos e outros astutos caminhos e beiras
do açude do Calango, acharias a tal burrinha da felicidade
a tomar o rumo dos Ariscos, Maracujá, Umbu, Itapacurá ou Seixos?
Carmozina ou Dona Dalila Maria da Conceição
que mais poderias esperar, se não mais debulhavas
o feijão e o sonho em acordes?