Seguidores

quinta-feira, 31 de julho de 2014

A LENDA DA MULHER QUE CHORA, CHOROU...CHORAVA! por João Maria Ludugero

 
 
 

A LENDA DA MULHER QUE CHORA, 
CHOROU...CHORAVA!
por João Maria Ludugero

Mulher varzeana de outrora, alma penada 
que chorava descrente da vida encardida
com uma trouxa de roupa aprumada na cabeça
a levar uma menina ao alcance da destra mão...
Era humilde, carente a marejar os olhos d'água ao sol:
mas se tinha tanto desencanto, o que é que mais esperava,
o que é que esperavas, esmorecida, que esperavas da dor
ou de que maneira poderias amortecê-la?

No teu lamento parecias uma menina que nascera
sem pés para a seara e sem olhos para a Várzea de Ângelo Bezerra,
como os das bestas que por dentro do breu das altas horas da noite
- sem mais dia ou crepúsculo - se cansam de renovar esperaranças.
Porque se conhecesse o caminho que não leva ao desvão, 
propulsionaria uma reviravolta a ganhar o mundo, de vez
a desentristecer até à vida nova, com mais sais, gomas,
fubás de milho-zarolho, brotes, grudes e outras regalias
sem esquecer do exemplo-espelho de tantas outras mulheres 
destemidas feito dona Zidora Paulino, Suzéu, Elina de Pinga-Fogo, 
que se aprumavam nas leiras e leirões a arrimar sua grande prole 
de tantos filhos bem apanhados pela ilustre parteira Mãe Claudina, 
amiga da inesquecível Madrinha Joaninha Mulato...

Mas, mulher que chorava aquebrantada, que esperavas, 
...Se pela mais torta via das quatro bocas ou da rua do arame
amarguravas o destino, e perdias o rumo pela rua da pedra
feito animal esbaforido ao Riachão, não sabendo das bermas propícias,
onde será que esbugalharias teus olhos em penumbras,
se pelas esquinas, becos e outros astutos caminhos e beiras 
do açude do Calango, acharias a tal burrinha da felicidade 
a tomar o rumo dos Ariscos, Maracujá, Umbu, Itapacurá ou Seixos?
Carmozina ou Dona Dalila Maria da Conceição 
que mais poderias esperar, se não mais debulhavas 

o feijão e o sonho em acordes?

terça-feira, 29 de julho de 2014

VÁRZEA DAS ACÁCIAS: UM ASTUTO COLIBRI DESPERTO NA LENDA DA 'MULHER QUE CHORA', por João Maria Ludugero

 
 
 
 
 
 
 
 
VÁRZEA DAS ACÁCIAS: 
UM ASTUTO COLIBRI DESPERTO

NA LENDA DA 'MULHER QUE CHORA',
por João Maria Ludugero


Várzea - faz-me com que na tarde amena se desvaneça
este enlevo lusco-ofuscado de que todas as acácias
me pertençam, sem roubar a cena nem ser cabotino.


Várzea,
se estive com fome
não esmoreci na lida,
adentrei em essências de anis-estrelados
e nos brotos das laranjeiras em flor do Vapor de Zuquinha.
Tudo, seara varzeana, o fiz para de ti lembrar. Tudo isto
que, se entretida olhares, verás na casa da estrela Dalva,
a Dona Maria de Seu Odilon:
tudo isto que sobe a correr dentro
e se esbanja pelos alpendres da gravioleira
- como o meu coração - sempre buscando altura.



Choraste - Várzea. Que importa! Ninguém sabe, enfim,
entregar nas mãos o que traz a esconder no esbaforido peito,
que mareja no rosto sob os olhos d'água da 'Mulher que Chora',
mas eu dou-lhe confiança em fantástico pote de suaves néctares,
e toda te animas a partir do meu poema fora da lenda...
Menos a lembrança que aborda aquela menina coroada
com um diadema de flores de jasmim-manga...


... Que na minha Várzea das Acácias, nunca vazia,
aquele amor tecido lá pelas bandas do riacho do Mel
ou pelo vão do sítio de Zé Canindé até chegar aos Seixos,
não amorteça minha sede de pegar carona no 'carro encantado'
que me eleva a ganhar o mundo, no toque de um coração partido



feito afoito colibri a beijar o hibisco branco que se abre em saudades...

VÁRZEA-RN: MEU TERNO RECORDAR! por João Maria Ludugero

 
 

 
 
 
VÁRZEA-RN: MEU TERNO RECORDAR!
por João Maria Ludugero

Dia-após-dia, o cheiro dando cor às flores da lida.
Daí, levanto os olhos pelo interior que me chama. 
Eram assim tuas tranças amarradas em tiaras de alecrim,
tuas palavras eram assim, finas e afoitas 
a tocar a alma da gente em alvoreceres 
na mais pura essência de jasmim-manga.
E o verde-musgo dos lajedos da Várzea das Acácias, 
por onde a tarde ia aderindo aos bons ares
do açude do Calango, lusco-ofuscado sem eiras
se alaranjava em flores de mulungu sem compostura,
a correr pelo chão-de-dentro com o fito de se inteirar,
quando entretidos na mesma exalação de bálsamo de açucenas
ou seriam de talos molhados, de canela ou de manjerona, 
almas de flores além do sepulcro e da ressurreição. 
E os bem-te-vizinhos em cantiga 
dançavam assim veludosamente
sob o sítio reverdecido do Umbu.
Restauro-me em memória, por dentro das flores! 
Deixa virem teus olhos, como grilos e louva-deuses, 
tua boca carmim de bem-me-quer assim orvalhado, 
e aquelas ternas mãos dos inconsoláveis mistérios, 
com suas estrelas além da margem do rio da Cruz, 
e muitas coisas tão estranhamente escritas 
nas tuas nervuras de paixão nítida em folhas de maracujá 
- e varzeamáveis, sim, enfim, varzeamáveis!

VÁRZEA-RN: SOB OS ACORDES DO VAPOR DA LIDA, por João Maria Ludugero

 
 
 
 
 

SOB OS ACORDES DO VAPOR DA LIDA,

por João Maria Ludugero

Em que língua cantarei
este amor tecido em fibras
que é servo e rei do vapor da lida?

Como o amortecerei em cancelas,
como o soltarei sem tréguas,
como o envolverei, de sentinela,
num galope assim além das leiras?

É como se a Várzea das Acácias se molhasse
repentinamente, quando serenas ao estio.
É como se o dia se demorasse ao desvario,
quando te espero renovado e tu só te evaporas atrevida,
a correr dentro e alto na tarde amena que ainda me nina!


quinta-feira, 24 de julho de 2014

VÁRZEA-RN: O INTERIOR QUE ME CHAMA, por João Maria Ludugero

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VÁRZEA-RN: O INTERIOR QUE ME CHAMA,
por João Maria Ludugero

Em saudades do chão de dentro,
Meu coração ávido se revela
Pela rua Grande a contento,
Desde as quatro bocas 
Na certeza de quem ama 
Meu coração fotografa 
A torre da igreja-matriz 
De São Pedro Apóstolo 
E prossegue astuto ao Vapor 
Pelo interior que me chama!