Depois de muitos sóis, depois de tantas luas,
parei na beira da estrada e passei a observar ao redor,
só aí foi que vi que meu caminho era árido.
Sobre a terra nua as pedras, os saibros, os espinhos,
os tocos e e as achas sem vida me feriam...
e dificultavam minha caminhada.
Percebi que eu não cuidava direito
dos lugares por onde passava.
Então, decidi que precisava plantar um gramado
para que o chão ficasse mais macio ao toque dos pés,
árvores me dariam sombra e flores enfeitariam o meio-ambiente.
Aos poucos o meu chão foi mudando os cinzas,
ganhando outras cores, até que as árvores começaram a florir
e suas flores cobriram o chão,
caindo dos galhos altos ao sabor do vento...
nem me lembro mais da terra nua de outrora.
Ora piso sobre a grama, as folhas secas e flores caídas.
Hoje, percebo que as flores são como os poetas,
que mesmo depois de mortos ainda são capazes
de despertar nossa sensibilidade com a beleza
que deixam espalhada pelo caminho.
Os cardos, os espinhos continuam em seus lugares,
assim como as pedras, mas já não me machucam como antes;
as flores e o capim suavizam seu contato com minha pele,
amenizam o passo descalço, evitando os calos secos
e a rachadura dos calcanhares.
Encho o peito, renovo o ar nos pulmões e agradeço sempre.
Bendita foi a hora em que resolvi semear...
e como valeu a pena! Fiz a minha parte,
e ora tiro proveito do que semeei.
Sou tal qual aquele beija-flor solitário encantado
com o néctar das cores de cada estação...
Não me sinto um sanhaço só
a cantar bicando os frutos maduros,
mas feliz por espalhar sementes detre outros verões.
A natureza agradecida me completa,
e eu agraciado com tanta riqueza,
agradeço a beleza de cada lugar onde passo,
por onde deixo sementes e perfumes das flores
que ali nascerão, carregadinhas de botões
e de outros brotos a desabotoar
em renovadas esperanças do amor
que sustenta a nossa terra de cada dia.