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domingo, 16 de dezembro de 2012

VÁRZEA EM PÉ DE SAUDADE, por João Maria Ludugero

Essa palavra saudade
eu conheço desde criança...
Saudade de um amor ausente
não é saudade, é lembrança...
Saudade só passa a ser nostalgia
quando esmorece a esperança...
Mas se quiser plantar saudade dobrada,
revire e mexa na Várzea de outro dia.
Quem te viu e quem te vê,
minha Várzea das Acácias,
assim com a cara de festança,
lava e escalda os pés 
na passagem salobra do rio Joca
e mareja os olhos d'água 
ao ver crescer a semente...
Semente que virou planta
e aponta na certeza
de que melhores dias virão.
Quantos que aqui passaram
quantos ainda virão,
mas há o Amor que fica
na Fé que experienciamos,
na força desse lugar 
abençoado por São Pedro,
Apóstolo que aprendemos a 
Varzeamar.
Plante já o seu sonho antigo,
acorde pra o novo tempo
e multiplique alegria
ao dividir sua garra, seu suor,
demonstrando seu o Amor
por uma Várzea melhor!

À FLOR DA PELE


À flor de tua pele 
reinvento perfumes.
Nela me embrenho 
até entrar em êxtase. 
Nada é mais luminoso 
do que o pavio 
da lamparina
que acende tua luz, 
e me encandeia.

sábado, 15 de dezembro de 2012

FEITIÇO DE MARIPOSAS


Mariposas
esvoaçam sob a luz
à procura de orgia
num ritual de orgasmo e feitiço
com jeito de Maria-vai-com-os-outros.
Mariposas assanhadas,
sacudidas ao brilho
esvoaçam a soltar purpurina,
à cata de matar a sede 
sob o rescender inocente
dos jasmins-manga.
Borboletas azuis cruzam 
à penumbra 
feito meretrizes ensandecidas,
que sentenciadas 
fazem programa de mérito
no jardim do juízo, por fim,
expostas ao trânsito em julgado
sob a sanha de colibris afoitos, 
tão promíscuos,
que adejam sobre rosas,
sugam margaridas e orquídeas, 
quase sempre vivas,
beijam marias-sem-vergonha.
E todo santo dia no éden é assim:
Um canjerê de damas-da-noite
nesse banho de prata sob a lua
que toma conta do meu jardim.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

DE CORPO E ALMA


Há dias em que me sinto nu, 
coberto de razão, 
Mais por dentro que por fora.
Não careço de palco 
nem roubo a cena. 
Longe de ser cabotino, 
renasço das cinzas das palavras 
que encantam ventos e tintas
de versos que uivam arteiros,
que surgem do interior a me despir,
a me mudar de penas, 
sem dó nem rimas.
Daí me entrego a pousar no papel
sem resguardo à dor, alma penada.
Porque a vida só se renova 
pra quem se doou 
pra quem se doeu
pra quem morreu de amor,
e a si reiterou em espírito 
a encostar no corpo nu,
num sopro em carne viva.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

DONA ZEFA, A BONEQUEIRA, por João Maria Ludugero



Dona Zefinha é uma mulher feita 
de fragmentos de vida.
Viceja versos em poemas 
que faz a si mesma ou para ninguém.
Reinventa romances entre personagens 
criados com suas bonecas de pano, 
mistura cores, cantigas de ninar, sorrisos e silêncio. 
Não tem consciência de sua pequenez diante da imensidão. 
Nem se preocupa em saber acerca disso. É feliz em sua humildade.
Solidão? Nunca sentiu. Nem mesmo depois dos três maridos, 
dos quais a vida deu cabo, tudo a seu tempo. Deus os levou.
E seus três filhos, estes ganharam o mundo e não olharam para trás.
Filhos de chocadeira, nem lhe dão sinal de vida. 
Para ela não passam de mortos vivos. 
Mesmo assim, não se incomoda,
não reclama da sorte. Não se sabe só, 
vive cercada de bonecas de pano. 
Abre o olhar diante de uma vastidão 
de possibilidades num amanhecer.
Trata de decantar, filtra 
e destila vertigens extasiada apenas 
com as estampas sob tecidos variados. 
Uma mulher de retalhos e rendas.
Dona zefinha vai completar 81 anos, 
saudável lúcida, leva as tardes amenas da eternidade 
a costurar suas bonecas de pano... 
e ainda sorri, banguela, mas resignada, 
pois não queria outra vida viver 
que fosse diferente. Vestida de chita, 
com cheiro de alma de flor e alfazema, 
sente-se rica, tão modesta em seus aposentos, 
sem fazer conta das bonecas de pano, 
que vende a R$1,00 a unidade 
aos curiosos que a visitam 
em sua casinha caiada de branco 
de chão encarnado de cimento queimado, 
no alto da Várzea das Acácias, 
situada na rua das pedras, 
com acesso às quatro bocas, s/nº.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

MARIA-QUE-NÃO-VAI-COM-AS-OUTRAS


Quando ela nasceu, 
vingou tão miúda 
que até se achava não ir muito longe.
Canelas finas, patativa baleada, 
mau feitio, mas parecia uma sebite. 
Foi tomando jeito, 
mesmo com cara de tô-fraco-de-angola. 
Franzina, ninguém dava nada por ela, 
um arremedo de gente, pele e osso. 
Foi crescendo meio que desengonçada, 
menina trombuda, ganhava todas 
jogando bilocas com os meninos. 
Desaforo nunca levou pra casa. 
Nariz empinado. Dona de si. 
Dura na queda de braço.
Não a tirassem para briga, 
era a mesma coisa de fazê-la 
correr dentro da arenga. 
E o tapa comia um dobrado. 
Quebrava o coco e ainda raspava a quenga. 
Nunca chegou em casa apanhada. 
Era mais fácil fazer um galo no cocuruto alheio. 
Da cuca nunca correu. 
Nem do bicho-papão. 
Coitado do papa-figo. 
Trazia o bicho no laço, sem alvoroço, 
e era mais fácil papar o bicho em sua mão. 
Na Várzea, impunha respeito, 
peitava a quem lhe olhasse torto ou só pelas costas. 
De banda, há quem lhe chame de arrogante, 
mas não leva em conta disse-me-disse. 
Ela logo chama na chincha e às claras. 
E ai de quem se atreve 
a lhe encarar os pêlos na venta. 
Há até, pasmem, quem lhe chame 
de Maria-Homem. 
Eu lhe chamo, apenas e só, 
de mulher-coragem, 
dessas que cospem fogo pelas ventas,
dessas que comem o fruto 
e ainda roem o caroço!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A HORA DO ADEUS... QUE SAUDADES DA PROFESSORINHA!, por João Maria Ludugero



Foi outro dia. 
O sol morno apareceu em Várzea. 
O lugar ficou com os olhos marejados
numa tristeza danada.
Foi como chuva 
em pingos da choradeira 
que insistiam em cair, 
enquanto a notícia crua 
corria becos e ruas
muito além das quatro bocas,
anunciando a partida 
repentina e inesperada
da inesquecível professora 
Zilda Roriz de Oliveira.
Ficou a dor do último adeus, 
estampada em meu rosto, 
revelando o amor sentido, 
a saudade antecipada, 
o orgulho de ter vivido 
tão perto de uma amiga, 
de uma mulher ética e digna, 
de uma exímia educadora.
Em Várzea a perda sentida.
No céu a festa esperada.
A entrada triunfante, 
carregada pelos anjos.
Novas trilhas definidas, 
novas metas planejadas
numa lição para lá de abençoada 
para a nova caminhante,
que ora lida no andar de cima,
bem mais perto de Deus!

sábado, 8 de dezembro de 2012

A MAIS LINDA ÁRVORE DE NATAL


Quando entrava dezembro,
A gente lá estava 
De prontidão 
Na casa da avó Dalila.
Todos se sentavam no chão.
Passávamos horas ajudando 
A montar a árvore de Natal:
Um arbusto, achas ou gravetos secos 
Ou mesmo um pé de algodão 
Com os galhos recobertos de lã de algodão,
Fincado dentro de uma lata de querosene Jacaré 
Embrulhada em papel de presente.
Era mesmo uma festa onde a alegria corria solta.
E, apesar da cautela, sempre acabava 
Por despencar uma ou outra bola colorida quando havia...
E, de quebra, a gente se extasiava 
Com aquelas cenas fantásticas.
Tudo era tão rústico, tão simples 
E modesto, mas tão gratificante.
O carinho vinha junto, em cada mão que ajudava
Entre um enfeite e outro 
A adornar a árvore do Natal.
E o amor conseguia ser mais doce 
Que o bolo de batata-doce
Que a minha avó Dalila nos servia 
Com um balde de Q-Suco de groselha.
Lembro que ela guardava suas experiências de vida
Em cada canto da sua casa simples lá na Várzea.
E ela nos contava diversas estórias do arco da velha,
Enquanto, entre gargalhadas e atenção,
Nos fartávamos de vida e de sonhos acordados.
Ela já se foi, faz tempo,
Mas naqueles dias que a saudade em mim transborda
E sempre que chega dezembro e as festas de fim de ano, 
Meu coração se derrama todo, entorna
Feito leite quente depois que ferve...
E aí, acordo a saudade que me perfuma a alma
A retomar meu corpo de espírito natalino.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

RENASCER


Tem horas em que me acho 
Com a poesia na veia. 
Centelha, um arder assim faísca 
Renascendo desde a raiz do cabelo,
Um flamejar desde os poros, 
Pelos pêlos, pela pele, sobrancelhas
Até causar um incêndio em acordes,
Alto e dentro do interior. Até às vísceras. 
Imagino como pode uma fagulha 
Se imensar de tal eloquente maneira 
Chegando a línguas de fogo, labaredas.
Entrementes brilhos ou uma armadilha? 
Acendo-me em ideias inusitadas, 
Fosforescentes. 
Entro nelas em combustão, 
Esfumaço ao vapor.
E não tenho receio 
De chegar às cinzas, 
Entretido num teimoso recomeçar. 
Nenhum fosfeno de ter 
Qualquer des-razão me atrai,
Porque correr dentro da poesia 
Me perfuma a alma, 
É mesmo um meio atraente
De a partir do ser 
Acontecer em luminosa essência.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

ENQUANTO ISSO, VIA-LÁCTEA ABAIXO...QUEM DÁ MAIS?



O mundo está de pernas pro ar.
Patos e gansos aos sopapos se abusam.
Cisnes narcisistas deglutem sem dó
Carne de pavão em cápsulas.
Tapiocas bijusadas em farinhas artificiais
Não têm mais cheiro de coco ralado.
Os frandes substituem a palha da bananeira.
A goma sofisticada se vira em grude na chapa de aço.
O siri ganha lustrado verniz empalhado na vitrine.
Carapaça alegre, brilhante fora do mangue,
Olhos de guaiamuns extintos, de soslaio.
Detrás do futuro desconheço meu habitat.
Perdi o jeito de andar em bando pelo interior.
De banda me arribo sem sair do cais, em transe.
Há virgens em nada complacentes, digo
Que rifam hímen em rede, auréolas em riste
Derramando silicones dos peitos vazados...
Seios de plástico, refeitos, oblongos, isto é
De bicos para quem à esquina da rua perambula.
Já li alguma coisa e tal à época em voga.
Se li, cones e picaretas na via Vogue.
Na lida por outras bermas, alertas à-toa nos muros. 
Veja-se cabotino, sem papas na língua, aos murros.
O corpo a corpo em desfile de vaidades se alonga, 
A quem interessar míngua. Virgindade, não pasmem, 
Pode virar moeda de barganha. E Caretice da maior 
É se achar incólume diante dos laços assim desatados.
Se assim dispôs do leite pela via-láctea abaixo, 
Então não reclama 
Do que a fundo é perdido 
E derramado!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O INTERIOR DO SONHO: A VÁRZEA QUE VIVE EM MIM


Um sonho que me extasia
E me renova esperanças,
É ver Várzea ganhar o mundo 
Pela mão da minha poesia. 
Confesso: tenho toda confiança 
Antes do avançar da idade, 
De ver, nas mãos das crianças, 
Esse interior crescer com elas, 
Afoitas a alavancar 
Notória e feliz cidade. 
O meu EU sofreu mudanças, 
Uma mudança sem fim. 
Só não mudou 
O menino varzeano 
Que eu fui 
E que vive assim, 
Que corre 
Livre, 
Leve, 
Solto, 
Arteiro,
Teimoso e 
Medonho 
Se imensa 
Em mim!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

MANADA, por João Maria Ludugero


E lá se vai o gado a pastar, pastoreado.
A ruminar, mastigar seu sustento, sem pressa. 
E lá se vem a manada a beber no açude sua sorte 
Por entre arames farpados, marcas e carrapatos. 
E o gado suporta marcas de ferro em brasa, de fato, 
Limitado a cercas, cancelas e mata-pastos. 
A viver sua sina, a comer a ração propícia 
A prosseguir no rastro, no manejo do leite, 
Passo a passo, domesticada mente, 
A esperar a triste choupa certeira 
À custa do destino que não escolheu. 
Com o azul do céu no pensamento 
Por ter o verde chão sob os pés, 
O gado faz do capim seu vasto legado 
E, sem saber, nem de longe por instinto, 
De sua possante força de estouro e raça, 
Engorda para o corte às arrobas em alta, 
E assim, resignado, a ferro e a fogo, 
Prepara-se para a morte súbita 
Em seus currais de confinamento.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

BONECA DE LUXO


Menina trombuda
Que se veste desarrumada 
E se desnuda demente 
Feito uma boneca carregada 
Que, a seu bel-prazer, 
Fantasia-se de trapos,
Entre plumas e lantejoulas.
Estica cabelos, escova fios,
Arranca pelos e sinais,
Arranja tranças em cabeças
De vento... tão magricela,
Ela tece luxo em andrajos,
Em cada passo, desfila aos flashes
De cabotinos olhares de paparazzi,
Tão alheia ao tentar o equilíbrio.
Se chora, logo estanca as lágrimas...
Retoca as tintas da cara, eufórica, 
E logo se atira num salto escorregadio.
Top model, rosto esquálido, nariz de rebite, 
Mais parece aquela antiga boneca de porcelana
Que, muitas vezes, assusta e dá calafrios, de súbito,
Possivelmente, por ter muita semelhança com a realidade,
Que não se mostra na passarela.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

DEUS NOS ACUDA!,por João Maria Ludugero


Quantos balas ainda faltam para calar nossa língua?
Quantas falas ainda faltam para o próximo silêncio?
E quantos presuntos serão largados nas esquinas,
Até quando beijarão nossos lábios na penumbra
- colados ao chão - vidas abortadas?
Bradará a língua ao meio-fio 
Ensandecida pela rua do/ente 
De torpes motivos a sangue frio?
E o cidadão sucumbe pacato, à queima roupa.
Cadê a polícia, não para nos prender inocentes
Ao abuso de poder?
Importa buscar na cadência das horas
Um jeito de estancar o medo, o pavor que perambula
Em carne viva, sentido em cada vão da cidade nua,
Porque 'tamos de ovários cheios de violência'.
Quem arcará com a culpa pela ceifa de vidas,
Pelo estupro, pela hediondez latente 
Que toma conta da avenida Brasil,
Se as autoridades fazem vista grossa passando ao largo?
Meu coração em vigília aguarda um simples aceno...
Dia-após-dia, eu indago e não me chega a resposta
Em que ralo ou casa-da-mãe-joana 
Estão atolando os nossos tão altos impostos?
Até quando vamos ficar de braços cruzados ao léu?
A morte vive a nos rondar, enquanto a sorte fica no ar
ligada a te ver sendo filmado, sem hora para o "the end". 

terça-feira, 27 de novembro de 2012

PEDALANDO ENTRE CHEIROS E RUÍDOS


Andar de bicicleta tem cheiro 
De mato verde e terra molhada
É algo assim corriqueiro, diga-se de passagem, 
Parece uma coisa banal sair por aí pedalando, 
Mas uma coisa é certa: 
Nenhum dia é igual ao outro, 
Os mesmos lugares se pintam diferentes, 
O vento a ventar na cara da gente 
Faz um bem da gota serena! 
Eu ganho o mundo a cada pedalada, 
Escuto pássaros e um bater de cancelas se abrindo 
A me levar a algum lugar, a um verde perto. 
E o coração ainda mais se excita 
Quando a gente voa de bicicleta. 
E dá pra sentir o interior das cidades, ruas, trilhas 
E caminhos que viram um leque 
De acordes a louvar Deus, 
Entre realidade e sonho, repleto de cheiros e ruídos. 
Dá para sentir o aroma do capim, do jenipapo maduro, 
A alma de flor a evolar, em dádivas antigas, 
O jasmim e as damas da noite. 
O rescender amadeirado das folhas secas 
Das mangueiras e dos cajueiros, 
O néctar das flores silvestres, 
O arisco odor do mel do riacho... 
De onde será que advêm tantos 
Cheiros a ativar o cérebro? 
Recordações de verdade deságuam, brotam 
Quando caem as primeiras chuvas... 
Cheias do céu, águas encharcam a terra seca 
E, levantando vapores, me levam 
Por léguas e léguas às lonjuras. 
Interessante, mas quando presencio 
Uma chuva que acabou de cair, 
Passo a viajar por dentro do cheiro 
Dos potes de barro com água, 
Que ficavam no quintal 
Da casa da minha avó Dalila. 
Pode fazer muito tempo, 
Mas é como se fosse agora, a me ninar 
Nesse pedalar de ideias 
Que me leva a inspirar bons ares. 
(Quando ando de bicicleta, 
Não só meus pés giram… 
De cabeça feita, 
Claro que deixo o coração circular).

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

DE PERNAS PARA O AR


Ela me deixa assim…de pernas pro ar!
E eu fico aqui, só pensando na minha gente.
Da vida de acolá nunca esqueci… confesso. 
Então vem o amor só pra me fazer contente!
Enquanto te lembro,  fico a sonhar acordado .
Fecho os olhos e a ti vou viajar, de certo,
Nos teus braços é que me acho inteiro,
No teu colo é tão gostoso descansar!
Sabes? Desse sonho não quero acordar!
De pernas para o ar penso em ti, desperto.
É doce este embalo que trago em meu peito.
Por isso, Várzea, torno a repetir:
Eu já conto as horas nos dedos
Só pra te ver de perto, de novo,
Só assim posso me sentir feliz!
Ao chegar a ti, quero uma rede no alpendre
Com vista a alcançar o pôr-de-sol 
Desde o açude do Calango…
Ah! Vou revirar a vida 
De pernas para o ar!
Pode apostar:
Não quero abrir mão 
De bem-estar no interior,
Acordado a sonhar 
Junto à vida deste meu lugar!

domingo, 25 de novembro de 2012

ZINABRES, por João Maria Ludugero


Cheiros e ruídos  invadem a casa, 
As molduras dispostas na parede  
Ganham cores cinzas, ácidas.
O passado a limpo tanto encharca 
Quando encobre de azinhavre as pratas.
Tudo tem um jeito encardido na estante.
A Jarra, o pote, a moringa
A gamela no jirau a secar a puba,
A bisaca de farinha de mandioca
O tacho de cobre, o zinabre
A cela, os estribos, o arreio
O tempo enferruja as catracas
No desapear das horas 
Num bater de cascos incansável
Folhas secas pelo chão de dentro
Vento a ventar no riachão,
Bichos soltos a pastar no Vapor
Grito seco da moenda caiana
Caldo de cana nos ariscos
Estouro de saudades da Várzea
No topo da igreja, São Pedro apóstolo
De sentinela a olhar por nós
No peito, prevalece a fé santa  
Que não oxida nem corrói 
A desatada alma da gente
Que prossegue contente 
Em cores vivas!